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Múltiplas nacionalidades
Com origem escocesa, sede nas Bermudas e ativos brasileiros, Wilson Sons vai à bolsa para construir novos terminais portuários e ganhar visibilidade

, Múltiplas nacionalidades, Capital AbertoA Wilson Sons nasceu com dupla-nacionalidade. Antevendo negócios promissores entre brasileiros e ingleses, o escocês Edward Pellew Wilson fundou em 1837 a Wilson Sons em Salvador, Bahia, associado a seu irmão Fleetwood, de Londres. Enquanto este ficava na capital britânica, Edward comandava as operações no País, inicialmente de importação e exportação. O tradicional whisky Johnny Walker era uma das mercadorias trazidas pelas embarcações da Wilson. Desse empreendimento familiar, surgiu uma companhia com US$ 149 milhões de receita líquida em 2007, a terceira maior operadora de terminais de contêineres do Brasil e dona da maior frota de rebocadores da América do Sul.

Mas foi com uma terceira nacionalidade que a anglo-brasileira desembarcou na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Incorporada em 1990 no território britânico das Bermudas, a holding Wilson Sons Limited abriu o capital em 30 de abril de 2007 com uma listagem simultânea na Bovespa e na Bolsa de Valores de Luxemburgo. Por ser estrangeira, não pôde listar ações diretamente no pregão paulista, mas, sim, certificados de depósito de ações (BDRs). Foi a mesma operação utilizada pelas gestoras de recursos GP Investments, em 2006, e Tarpon, no ano seguinte. Todas são companhias sediadas nas Bermudas, listadas em Luxemburgo, com BDRs na Bovespa e atividades concentradas no Brasil.

A proliferação desse tipo de empresas na bolsa paulista — juntam-se ao grupo Agrenco, Cosan Limited, Dufry e Laep — despertou a preocupação entre agentes do mercado de que elas estivessem se aproveitando da legislação excessivamente liberal das Bermudas para elaborar estatutos com menos proteções aos acionistas minoritários. Esse não parece ser o caso da Wilson Sons. Afinal, ela se tornou off-shore 17 anos antes da oferta inicial de ações (IPO), fator que a diferencia de outras companhias que se mudaram para as ilhas justamente por causa do IPO. Na época, o motivo da migração da Wilson Sons foi a obtenção de benefícios fiscais, fundamentais para uma empresa do setor marítimo, segundo Felipe Gutterres, diretor de Relações com Investidores (RI) e representante legal da companhia no País.

Para comprovar o esforço da empresa em atender aos princípios da boa governança, Gutterres ressalta que a Wilson Sons “espelhou” o Novo Mercado e a Lei das S.As ao redigir seu estatuto, mesmo não sendo obrigada a isso. Cabe lembrar que as companhias estrangeiras não precisam cumprir a legislação societária brasileira, nem podem ser negociadas no segmento com as regras mais rígidas de governança da Bovespa. A Wilson Sons concede tag along de 100% — direito dos acionistas minoritários de venderem suas ações pelo mesmo preço pago pelos papéis dos controladores em caso de alienação de controle — e distribui dividendos equivalentes a 25% do lucro líquido. Os benefícios estão contidos, respectivamente, no regulamento do Novo Mercado e na Lei das S.As.

Em vez da abertura de capital na Bovespa, a empresa poderia ter seguido o caminho de sua controladora, a Ocean Wilsons Holdings Limited, negociada na Bolsa de Valores de Londres desde 1907. Essa hipótese não foi sequer cogitada, não só pelos custos mais elevados da listagem londrina, como pela necessidade de se dar visibilidade aos ativos brasileiros da Ocean Wilsons. Nada mais natural, portanto, que a vitrine fosse a maior bolsa da América Latina, onde seria coberta por analistas locais. Cerca de 70% do patrimônio da holding controladora é representado pela Wilson Sons, e o restante por investimentos financeiros. Como a administração da companhia quis aproveitar o excepcional momento da Bovespa no primeiro semestre de 2007, escolheu Luxemburgo para a oferta global dos papéis, devido à velocidade no processo de registro que a bolsa européia poderia proporcionar. Com os R$ 261,5 milhões obtidos na oferta primária, a empresa pretende financiar seu ciclo de crescimento, construindo terminais portuários e rebocadores, entre outros. A oferta secundária, de ações detidas pelos controladores, totalizou R$ 444,5 milhões.

Por apresentar alguns traços de companhia aberta mesmo antes do IPO, pode-se dizer que o trabalho da Wilson Sons para a estréia na bolsa foi pequeno. Os balanços já vinham sendo auditados pela Deloitte, pois eram consolidados na contabilidade da Ocean Wilsons. O conselho de administração também existia desde a década de 1990 — faltava apenas a inclusão de um membro independente, que veio na figura do ex-ministro Pedro Parente.

Se não enfrentou percalços na preparação para a abertura de capital, a companhia acabou sentindo o gosto amargo do mercado no período pós-IPO. Apesar de ostentar um incremento no lucro líquido de 32,9% no fechamento de 2007 em relação a 2006, assistiu a uma desvalorização de 16,7% no preço de suas ações, do IPO até 30 de abril de 2008. A expectativa de Gutterres é de que essa queda se reverta no médio prazo. “Por causa do cenário internacional de incertezas, os investidores estão se sentindo menos atraídos por small caps como nós, de liquidez mais baixa”, avalia.


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