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Foco no Mercosul
Interessado na formação de um mercado regional, banco argentino Patagonia descarta Nova York e Londres para ofertar ações na bolsa brasileira

, Foco no Mercosul, Capital AbertoNa década de 90 até o início dos anos 2000, empresas brasileiras em busca de capitalização em bolsa precisavam ir a Nova York. Companhias como AmBev, Aracruz, Rossi Residencial e as blue chips Petrobras e Vale voaram para lá. O mercado de capitais nacional, com problemas de liquidez e histórico de maus tratos a acionistas minoritários, afugentava investidores, sobretudo os estrangeiros. O que aconteceu de 2004 para cá, porém, todo o mundo sabe de cor. Com a modernização da regulação, a melhora dos fundamentos econômicos do País e a ascensão do Novo Mercado, o segmento com o mais elevado padrão de governança corporativa, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) saiu dos escombros e deu início a uma série de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs).

Desde então, investidores estrangeiros correram para cá e hoje representam mais de 70% das participações nas ofertas. E não são só os aplicadores que estão mirando o leilão brasileiro. Emissores também começaram a prospectar oportunidades por aqui. Prova disso é a vinda do Banco Patagonia, uma das maiores instituições financeiras da Argentina. Antes de optar pela emissão em São Paulo, a instituição analisou — e descartou — alternativas como as bolsas de valores de Nova York e de Londres. “Tendo em conta o forte crescimento em que se encontrava o mercado brasileiro, acreditamos que seria uma ótima oportunidade para potencializar a regionalização dos mercados”, disse o diretor financeiro Rubén Iparraguirre, em e-mail enviado à CAPITAL ABERTO.

Pode-se afirmar que o IPO do banco foi o primeiro de uma companhia essencialmente estrangeira nesse novo ciclo do mercado. Até o fim de abril de 2008, nove companhias com sede no exterior tinham ações negociadas na Bovespa. Esse grupo inclui nomes como Wilson Sons, GP Investments, Telefônica e Cosan Limited, cujos ativos, ao contrário do que ocorre com o Patagonia, estão concentrados no Brasil. Por serem incorporadas em outras jurisdições, essas empresas não estão sujeitas à Lei das S.As e recebem tratamento diferenciado pela Comissão de Valores Mobiliários, por meio das instruções 331 e 332.

O Patagonia, segundo Iparraguirre, não teve dificuldades para se adaptar a esse regime. A instituição também se adequou para um IPO concomitante na Bolsa de Comercio de Buenos Aires. Embora as regulações dos dois países não sejam iguais, o aprendizado adquirido nesse trabalho ajudou a equipe da companhia a atender os requisitos da listagem brasileira, ressalta o executivo. Pelas regras da Bovespa, emissores estrangeiros não podem aderir ao Novo Mercado. Mas o banco concede alguns dos principais benefícios do segmento. Os acionistas minoritários têm direito a um voto por ação nas assembléias e à venda de suas ações pelo mesmo preço pago ao majoritário se o controle for alienado — o chamado tag along de 100%.

A oferta feita no Brasil foi parte de um esforço global de venda. Ao mesmo tempo em que se listou na Bovespa, o banco recorreu a investidores institucionais qualificados nos Estados Unidos e à bolsa de Buenos Aires. Aqui, as ações foram distribuídas no formato de Brazilian Depositary Receipts (BDRs), recibos de depósito de ações equivalentes a 20 ações ordinárias do Patagonia. Os BDRs, precificados a R$ 48,38, renderam R$ 7,6 milhões na emissão primária e R$ 68,3 milhões na secundária, no âmbito da distribuição brasileira. No mundo todo, o IPO atingiu um valor bruto de cerca de R$ 483,8 milhões, dos quais 36% foram para a companhia e 64% para os bolsos dos controladores. Com os recursos, o banco pretendia aumentar sua carteira de crédito.

Em 31 de março, quatro meses antes da oferta, o Patagonia tinha 660 mil clientes na Argentina, quase todos de varejo. No ranking de bancos privados do país, ocupava o 5º e o 4º lugares em, respectivamente, volume de depósitos (R$ 2,5 bilhões) e patrimônio líquido (R$ 724,7 milhões). Considerando-se todas as instituições financeiras, inclusive as estatais, o banco era o 10º em patrimônio líquido, 13º em depósitos e 13º em ativos (R$ 3,8 bilhões). Ele surgiu a partir da fusão entre os bancos Mildesa e de Río Negro, em 1996. Em 2003, adquiriu o Sudameris Argentina e, no ano seguinte, as operações do Lloyds TSB Bank, passando a adotar o nome Banco Patagonia.

Para vender sua história, o banco montou um dos prospectos mais espessos da temporada, um catatau de 1511 páginas. Boa parte do documento se dedicou a relatar os fatores de risco e a crise que assolou a Argentina entre 2001 e 2002. Passado esse período, o país cravou taxas de crescimento chinesas, próximas a 9% por ano. É nessa sobrevida que o banco diz, no prospecto, ter encontrado oportunidades. Contudo, reconhece que essa expansão acelerada não se manteria no longo prazo, o que poderia afetar a companhia negativamente.

Tanta transparência não foi suficiente para tranqüilizar os investidores. Os BDRs da Patagonia tiveram um dos piores desempenhos do ano na Bovespa, com uma desvalorização de quase 40% até 30 de abril de 2008. É fato que o lucro líquido da companhia desabou mais de 60%, para R$ 190,8 milhões no ano passado, ante R$ 74,6 milhões em 2006. Descontados os efeitos da conversão de moeda, o recuo foi de 51,5% em pesos argentinos. A ampliação da carga tributária e de despesas e perdas com títulos nacionais contribuíram para essa queda.

Iparraguirre atribui o péssimo resultado das ações, em parte, à crise financeira internacional. “Ela começou em julho de 2007, poucos dias depois da colocação dos papéis no mercado.” De qualquer maneira, o diretor celebra o fato de o Patagonia ter se transformado na primeira empresa sem operações no Brasil a ser negociada na Bovespa, abrindo caminho para a criação de um mercado regional no Mercosul.


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