A rotina do escritório Barbosa, Müssnich & Aragão (BMA) bem poderia render um daqueles seriados de TV sobre grandes firmas de advocacia, repletos de cenas de suspense e situações de tensão, em que negociar — e até blefar ou encenar — é uma arma valiosa para o sucesso de uma contenda jurídica ou o fechamento de um negócio. Mas os personagens aqui são reais: homens e mulheres capazes de manter no escritório um pequeno kit de roupas e produtos de higiene pessoal por saberem que, se for preciso, vão trabalhar madrugada adentro nos arremates de um intrincado contrato de fusão ou aquisição — carro-chefe do BMA, que começou em 1997 com a união de Plínio Barbosa, Francisco Müssnich e Paulo Aragão. Embora não tenha a primeira letra de seu sobrenome na placa do escritório, Luiz Antonio Campos também faz parte do time de sócios-fundadores.
No comando do BMA, estão amigos com histórias de vida em comum. Müssnich arrumou o primeiro emprego de Barbosa e trabalhou muitos anos com Aragão, que foi seu chefe. O irmão de Barbosa, por sua vez, era o melhor amigo de Müssnich — e os pais dos dois, amicíssimos. Foi numa festa, em 1994, que Barbosa perguntou a Müssnich: “Quando a gente vai abrir nosso próprio escritório?”. Era o gatilho para a criação do Barbosa & Müssnich, em 1995. O Plano Real existia havia pouco mais de um ano, o País vivia em clima de saudável empolgação. Os advogados aproveitaram o otimismo e souberam mirar os nichos certos de negócios. “Nós montamos o escritório no momento em que sentimos que o mercado precisava de um atendimento mais moderno. Ao contrário de outras firmas, já tínhamos a visão de que o mercado andaria para a parte societária corporativa e para novas ideias em infraestrutura”, afirma Müssnich.
No time de profissionais que aderiram à empreitada inicial estava Campos, então com apenas 24 anos. Ele fez parte da equipe de dez advogados que trabalhou na primeira sede da firma — uma sala emprestada na sobreloja de uma lanchonete na Rua do Rosário, no centro do Rio, onde o cheiro de fritura ameaçava espantar os primeiros clientes. Trabalhava-se com uma bateria de carro acomodada sobre uma das mesas “para o caso de faltar luz”. Barbosa e Müssnich decidiram nunca receber clientes ali — do anúncio da fundação do escritório e do cartão de visita deliberadamente não constava o endereço.
Um dos clientes do então Barbosa & Müssnich era Paulo Aragão. Em 1997, ele deixou o cargo de diretor da GP Investimentos para se tornar sócio do escritório. “Na GP eu formava o bloco do ‘eu sozinho’. Quando algum assunto bom surgia, eu me reunia com o Luiz Antonio e passava a bola para ele”, recorda Aragão. Cansado de ver o colega ficar com a “parte divertida dos negócios”, Aragão decidiu pular para o outro lado do balcão. “Foi bom para mim e para a GP, que passou a contar com um time estruturado dentro do BMA. Eu brinco que eu sou um caso de autoterceirização”, diz Aragão, rindo.
Juntos, os fundadores do BMA estabeleceram um modelo de atuação focado no resultado e na personalização. Para cada cliente, há um comandante com temperamento e conhecimento adequados. “Depois de algumas décadas fazendo esse negócio, a coisa mais importante que eu aprendi é que nunca é do mesmo jeito”, afirma Aragão. “Cada negócio é um desafio diferente, uma grande preocupação. É como no caso do alfaiate: não dá para dizer que todo o terno é igual porque o corpo do cliente nunca é do mesmo tamanho do de outro.” Essa atenção à customização e a insistência em solucionar casos complexos inseriram o BMA em algumas das mais notáveis operações societárias do País, como a privatização da Telebras e as fusões de Antarctica e Brahma, BM&F e Bovespa, Pão de Açúcar e Casas Bahia e Oi e Portugal Telecom.
Na visão de Müssnich, o sucesso do escritório vem da mistura da personalidade de cada um dos sócios. Na genética do BMA, há um pouco da extroversão de Müssnich, da reflexão de Aragão e da dedicação de Barbosa, características que se combinam à discrição de Campos. “Eu falo de nós quatro, mas a verdade é que se trata da cultura de todo o escritório, que foi se formando ao longo de duas décadas”, observa Müssnich. Com humor, diz do colega: “Luiz Antonio é do tipo mineiro. Você não consegue saber o que ele pensa. Mas às vezes ele sabe o que você pensa e vai, com o jeitinho dele, resolver a questão.” Müssnich, ressalta, em seguida, que o colega é maratonista e tão profissional nas corridas quanto no trabalho — completa o percurso de 42 quilômetros em até três horas.
O escritório, concorda Barbosa, tem como qualidade peculiar a diferença de personalidade dos sócios. “No início, as pessoas comentavam: ‘puxa, mas vocês são tão diferentes, como conseguiram formar um escritório juntos?’ E eu acho que isso é um segredo nosso, uma marca do BMA desde o primeiro dia.” Essa diversidade, explica o advogado, tornou o escritório mais maleável na hora de encontrar soluções — afinal, tem cliente que gosta de um advogado mais extrovertido e há aquele que prefere alguém mais circunspecto. O leque amplo se estende aos integrantes das equipes e à formação dos contratados. Hoje, o BMA conta com 330 profissionais. “Essa diversidade é muito legal. Ela permeia o escritório e gera um clima bacana. Cada um tem o seu traço e influência, faz aquele cadinho funcionar”, diz Barbosa, acrescentando que, se o profissional for “espetacular” no que faz, ele tem lugar no BMA. O próprio Campos é um exemplo disso. Começou ainda muito jovem no escritório e alcançou o mesmo grau de senioridade que os três sócios-fundadores tinham. “Hoje, o Luiz começa a assumir um papel de liderança neste quarteto, é uma espécie de D’Artagnan”, observa Müssnich, fazendo referência ao herói do romance Os Três Mosqueteiros, escrito por Alexandre Dumas.
No mercado, talvez essa irmandade não seja percebida, pelo fato de ela ficar camuflada sob a fama do BMA de não brincar em serviço. “A gente sabe fazer ou acha que sabe fazer as coisas benfeitas e faz questão disso. Daí essa fama de sermos meio agressivos”, ressalta Aragão. Para ele, a imagem externa é clara. “Somos vistos como muito chatos na hora de fazer as coisas.” A prática, observa o advogado, levou à experiência, e a máquina foi, aos poucos, calibrada para operar firme, sem vacilar. “Fizemos tantas vezes algo razoavelmente complexo que ganhamos certa tranquilidade de saber que daquele jeito vai funcionar.”
Müssnich observa que outro traço marcante do BMA é estar em constante transformação. “Sempre estamos reinvestindo e nos reinventando para conquistar novos mercados”, afirma. Até porque não se pode ignorar a concorrência. “Não podemos fechar os olhos para a existência de competidores cada vez mais atuantes e para o empenho de escritórios americanos e ingleses para entrar no Brasil. Alguns serviços até já estão virando uma espécie de commodity”, observa Amir Achcar Bocayuva Cunha, sócio-diretor do BMA. Nesse cenário, diz o advogado, o cliente pode não enxergar o valor de uma atenção tão diferenciada. “Se deixar, vamos querer sempre fazer o melhor e, às vezes, o cliente está precisando de uma solução mais simples. Esse também é um desafio para a gente, sempre”, afirma Cunha, que está no BMA desde o primeiro ano.
A menção a desafios suscita a questão: como vão os negócios do escritório em tempos de recessão? “As empresas vão sempre precisar de um escritório de advocacia e se você estiver bem aparelhado para atender a necessidade do cliente, seja qual for o momento, vai ter serviço”, sentencia Campos. Para Aragão, o grande desafio do BMA hoje é gerar engajamento e comprometimento entre as gerações mais novas, que não necessariamente têm esse DNA. “Os jovens querem mais do que simplesmente trabalhar numa engrenagem que impulsione a economia. Eles têm uma ideia de propósito e querem deixar um legado para a sociedade”, observa Aragão. Foi a partir dessa constatação que o BMA lançou, no seu aniversário de 20 anos, o BMA InspirAção, programa que enxerga a educação, o empreendedorismo e a cultura como instrumentos de transformação na sociedade. “Escolhemos parceiros no terceiro setor que atuem em um ou mais desses pilares e oferecemos serviços jurídicos gratuitamente”, detalha Aragão. “Depois de um tempo, é muito fácil cair numa zona de conforto. Trabalhar, estudar e depois ir embora para casa ou tomar um chope com os amigos. Mas há muitos profissionais aqui com a percepção de que é preciso ir além disso”, ressalta Cunha. Dentro ou fora do escritóro, as zonas de conforto certamente não são bem vistas no BMA.
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