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Diversificando a clientela
Com parcerias ou por conta própria, gestoras saem pelo mundo atrás de interessados em fundos de ativos brasileiros

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O que os investidores da Índia e de Taiwan têm em comum? Além da expectativa de multiplicar as suas economias, alguns deles resolveram apostar no potencial de alta de ações de um país bem distante, o Brasil. Isso porque os gestores de recursos brasileiros partiram para conquistar poupadores de locais impensáveis até bem pouco tempo atrás. O desbravamento de novos mercados tem sido impulsionado pela imagem favorável que os estrangeiros agora têm do País. Há dois meses, a HSBC Global Asset Management, gestora de recursos do banco britânico, captou US$ 70 milhões de investidores de varejo indianos para um fundo de ações dedicado ao Brasil. E a SulAmérica Investimentos angariou US$ 170 milhões de aplicadores de Taiwan no ano passado para um fundo de ações de companhias brasileiras. O foco nesses casos é, principalmente, o investidor pessoa física.

“Consideramos o resultado positivo, porque os recursos do fundo vieram do varejo. A captação foi feita de forma pulverizada”, afirma Alcindo Costa Canto, diretor comercial da HSBC Global Asset Management. Segundo ele, o investidor indiano tem perfil arrojado e a cultura de investir em ações. O fundo, distribuído pelos gerentes de relacionamento e de private banking do banco na Índia, é sediado em Luxemburgo, mas gerido pela equipe brasileira da HSBC Global Asset Management. A participação de aplicadores de fora já é bastante representativa para a gestora. Dos R$ 75 bilhões sob gestão do HSBC no Brasil, R$ 4,5 bilhões provêm de investidores japoneses e R$ 6 bilhões, de chilenos. Um detalhe: esses investidores aplicam a maior parte dos recursos em ações, não em títulos da dívida pública. Cerca de 60% do montante é destinado à renda variável.

Outros exemplos de gestores com presença expressiva de investidores estrangeiros são a BNP Paribas Asset Management e a Legg Mason/Western Asset. Dos R$ 31 bilhões de fundos sob gestão da Legg Mason no Brasil, os japoneses respondem por aproximadamente 22%, ou R$ 7,04 bilhões — sendo R$ 7 bilhões em fundos de renda fixa, e R$ 40 milhões em um fundo de ações com foco em dividendos. Os recursos foram captados ao longo dos últimos dois anos, e o fundo de ações foi lançado neste ano. Segundo Marcelo Guterman, especialista de produtos da gestora, a venda é feita por 20 distribuidores locais. O fundo é sediado no Japão, mas os recursos são enviados para o Brasil, onde são geridos pela equipe da Legg Mason.

A Bram vai além do Oriente. Seu projeto é ter profissionais no Canadá, no México e em países da Europa

No BNP Paribas, cerca de 30% dos R$ 32 bilhões sob gestão no Brasil são de estrangeiros. “Acreditamos que há espaço para aumentar essa participação, já que o País oferece boas oportunidades para os estrangeiros, tanto em renda fixa quanto no mercado acionário”, diz Rafael Bardella, responsável pela área de produtos offshore da gestora. A renda variável representa grande parte dos recursos de estrangeiros aplicados em fundos do BNP Paribas geridos no Brasil — cerca de US$ 5 bilhões. Desse montante, 60% são investidos somente em ativos brasileiros, o restante é voltado para papéis de empresas da América Latina. Nesses casos, embora os recursos sejam alocados em toda a região, as ações brasileiras têm um peso maior, de aproximadamente 65% da carteira.

“A internacionalização é um processo e deve acontecer tanto na gestão local de recursos de estrangeiros, quanto na aplicação no exterior, pelos brasileiros”, constata Heitor Lima, presidente da Franklin Templeton no Brasil. Por enquanto, o primeiro movimento está mais avançado que o segundo. Geralmente, são os escritórios locais de gestores com presença internacional que identificam a demanda por ativos brasileiros. Foi o que ocorreu com a

SulAmérica Investimentos, que levantou recursos com investidores taiwaneses em abril de 2010. O time local do ING — associado à SulAmérica — percebeu o interesse pelos papéis brasileiros e desenvolveu o produto em parceria. Sediado em Taiwan, mas com sugestão de alocação feita pela equipe de gestão no Brasil, o ING Brazil superou a expectativa de arrecadar US$ 100 milhões: em duas semanas, a captação atingiu US$ 170 milhões.

A gestora não poupou energia e recursos no esforço de venda. Colocou no ar um site em mandarim com explicações e informações sobre o produto e o Brasil. Enviou profissionais da SulAmérica duas vezes a Taipei, onde eles participaram de entrevistas em veículos de comunicação e de encontros com cerca de 700 potenciais investidores de varejo e institucionais. A estratégia comercial contou, inclusive, com propaganda veiculada no horário nobre da TV local.

Marcelo Mello, vice-presidente da SulAmérica Investimentos, esperava que o investidor taiwanês se debruçasse sobre nossas estatísticas macroeconômicas antes de aplicar. No entanto, o interesse deles era mais objetivo: beneficiar-se do impacto que a Copa do Mundo e a Olimpíada potencialmente terão sobre a economia nacional. A recente baixa do mercado de ações brasileiro não assustou os taiwaneses, pelo contrário: vários investidores aproveitaram a oportunidade para aumentar as posições.

No fundo da SulAmérica, geralmente não há entrada de recursos no Brasil. A decisão de comprar ou vender ações parte do escritório de São Paulo, mas é executada no mercado nova-iorquino, por meio de American Depositary Receipts (ADR). Somente ações pouco líquidas, de empresas de média ou baixa capitalização de mercado, são adquiridas no pregão da BM&FBovespa. A gestora planeja lançar um novo fundo dedicado ao Brasil daqui a seis meses, dessa vez explorando o potencial de captação no mercado europeu. O objetivo é sediar o fundo em Luxemburgo e distribuir as suas cotas por 20 países da Europa, nos mesmos moldes do fundo de Taiwan. Atualmente, a SulAmérica tem cerca de R$ 17 bilhões sob gestão.

PARCERIAS ESTRATÉGICAS — Quando o gestor não tem ampla presença internacional, a saída é partir para parcerias com distribuidores locais, como fez a Bradesco Asset Management (Bram) no Japão. Os três fundos geridos pela gestora são distribuídos no mercado nipônico pelo banco Tokyo Mitsubishi. Uma das carteiras é de renda fixa, e as outras duas atuam na renda variável, concentradas em ações dos setores de infraestrutura, consumo, agribusiness e tecnologia.

Por enquanto, há um executivo da Bram no Japão, porém a gestora espera contratar em breve mais uma pessoa para ficar no país. Outros quatro profissionais devem chegar para cobrir os mercados asiáticos, a começar por Hong Kong. A China, eles não escondem, também os fascina. “Mas antes precisamos encontrar o caminho. Estamos abertos a parcerias com distribuidores que conheçam o cliente de varejo local”, informa Denise Pavarina, diretora da Bram. Os três fundos da gestora distribuídos no Japão amealharam US$ 1,7 bilhão — uma gota no oceano de R$ 204 bilhões administrados pela Bram.

O plano internacional da Bram vai além do Oriente. Seu projeto é ter profissionais no Canadá, no México e em países da Europa. Denise reconhece que os investidores europeus poderiam aplicar mais em papéis brasileiros, entretanto aquele mercado carece de informações sobre o Brasil. Continua respingando sobre nossos ativos um preconceito relacionado ao calote da dívida argentina. No Chile, a Bram tem fundos de ações distribuídos pelo parceiro Banchile para pessoas físicas. Investidores mexicanos, colombianos e peruanos serão os próximos alvos. “Estamos fazendo contatos com potenciais parceiros”, comenta Denise.

A SulAmérica não economizou esforços em Taiwan. Colocou no ar um site em mandarim e fez propaganda na TV local

VIZINHOS DESINTERESSADOS — Próximos geograficamente, os países da América Latina pouco aplicam em fundos brasileiros. O Chile é uma exceção. Certamente, é o país latino que mais investe em ações brasileiras, graças à representatividade de sua indústria de previdência privada. Daniel Gamba, diretor executivo da BlackRock, conta que os fundos de pensão chilenos aportam quase a metade de seus recursos em mercados internacionais, com preferência por renda variável. A BlackRock tem cerca de US$ 25 bilhões dedicados a ativos brasileiros, dos quais cerca de US$ 5 bilhões são de investidores latinos, principalmente chilenos.

Curiosamente, a presença dos investidores norte-americanos nos fundos brasileiros distribuídos internacionalmente é muito pequena: “Eles preferem fundos de mercados emergentes em geral e não fundos que investem em ativos de um só país”, explica Canto, da HSBC Global Asset Management.

O fato de a gestão ser feita no Brasil não significa que os fundos sejam sediados no País. Grande parte dos gestores tem optado por constituir as carteiras em Luxemburgo, que até agora é a praça favorita para dar segurança aos investidores de fora. A Franklin Templeton, por exemplo, tem US$ 740 bilhões sob gestão no mundo, e em Luxemburgo estão sediados 70 fundos com patrimônio aproximado de US$ 140 bilhões.

“Luxemburgo cobra impostos mais baixos que outros locais e não é considerado paraíso fiscal. Daí a preferência dos gestores brasileiros de fundos offshore por essa praça”, justifica Francine Balbina, diretora da DMS, empresa que assessora fundos de investimento independentes. Apesar da vantagem, ela ressalta que manter e abrir um fundo em Luxemburgo custa cerca de três a cinco vezes mais do que nas Ilhas Cayman. Outra possibilidade é constituir os fundos no país em que o produto será comercializado. Essa estratégia dá conforto para o investidor local, porque o fundo seguirá regras já conhecidas.

Independentemente de onde o fundo é sediado, os gestores têm usado duas formas de negociar os ativos. Em vez de comprar e vender ações no Brasil, eles podem operar somente com ADRs. Quando ocorre a internalização de recursos aqui, o investidor paga o Imposto sobre Operações Financeiras (2% para aplicações em ações e 6% para renda fixa). A elevação da alíquota do imposto, ocorrida neste ano, foi um balde de água fria nos aplicadores, especialmente na renda fixa, mas não os afastou de todo. O diferencial entre os juros brasileiros e os de países desenvolvidos, afinal, ainda é significativo.


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