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“Regulamentar o mercado de carbono vai atrair para o Brasil capital estrangeiro para o financiamento sustentável”
Carlos Takahashi, vice-presidente da Anbima e chairman da BlackRock no Brasil
Carlos Takahashi, vice-presidente da Anbima e chairman da BlackRock no Brasil

Algumas figuras no mercado financeiro praticamente dispensam apresentações. É o caso de Carlos Takahashi. Executivo com décadas de atuação no mercado e passagens importantes pela BB DTVM e pela BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, onde ocupou o cargo de CEO da asset no Brasil. Não bastasse o reconhecimento profissional, Cacá, como é conhecido, é uma das figuras mais queridas do mercado financeiro. Hoje, ocupa o cargo de Chairman da BlackRock no Brasil e tem forte atuação em assunto regulatórios e de mercado como vice-presidente da Anbima e coordenador da Rede Anbima de Sustentabilidade.

Otimista em relação aos avanços regulatórios recentes no Brasil, como o novo marco de fundos de investimentos (CVM 175), Cacá vê o país com um arcabouço regulatório que permitirá ao mercado financeiro e de capitais dar suporte à transição para uma economia de baixo carbono. Os próximos avanços, diz o executivo, focam na definição de uma Taxonomia Sustentável Brasileira, e na regulamentação do mercado de carbono. A Capital Aberto entrevistou Cacá sobre o tema sustentabilidade, avanços regulatórios na indústria de fundos e a intensa transformação no ambiente de negócios dos últimos anos.

carlos takahashi, “Regulamentar o mercado de carbono vai atrair para o Brasil capital estrangeiro para o financiamento sustentável”, Capital Aberto

O tema ESG ganhou corpo no mundo dos investimentos nos últimos três ou quatro anos. Como o Brasil está posicionado em termos de regulação e autorregulação no tema?

O mercado de capitais brasileiro tem tido importantes avanços da agenda ESG e a regulação e a autorregulação têm andado em consonância. Um exemplo foi a Resolução CVM 175, novo marco regulatório dos fundos de investimento, que estabeleceu que o uso de termos relacionados a finanças sustentáveis deve ser feito apenas nos fundos com políticas de investimento que busquem gerar benefícios socioambientais – em linha com o que é determinado pela autorregulação da Anbima para fundos IS. Vale lembrar que a nossa autorregulação foi pioneira ao trazer regras de identificação de fundos sustentáveis em 2021. A Anbima também divulgou, em 2022, um guia que orienta as instituições financeiras na oferta pública de títulos de renda fixa relacionados aos critérios ESG. Outro avanço importante foram as diretrizes para divulgação do relatório de informações de sustentabilidade para fundos, securitizadoras e companhias abertas, que promovem a transparência e a comparabilidade das informações divulgadas.

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E o que falta para endereçar no tema ESG?

Ainda é preciso evoluir muito e há dois temas principais que estão em pauta atualmente. Um deles é a Taxonomia Sustentável Brasileira, que determina uma classificação única para diferentes atividades econômicas e para ativos financeiros sustentáveis. Ela trará transparência, padronização e comparabilidade entre as informações ESG, ajudando a coibir o greenwashing e aumentando a confiança de investidores nacionais e estrangeiros no nosso mercado. Participamos da audiência pública do Ministério da Fazenda sobre o tema no final de 2023, enviando contribuições da Rede Anbima de Sustentabilidade, e aguardamos a publicação de novas atualizações pelo governo. A expectativa é que a taxonomia seja lançada em 2025, na COP 30, em Belém. Outro tema que deve fortalecer a agenda ESG no Brasil é a regulamentação do mercado de carbono, essencial para avançarmos na transição para uma economia mais sustentável e de baixo carbono. A medida deve ampliar a atratividade do mercado brasileiro para o capital estrangeiro necessário para o financiamento sustentável.

carlos takahashi, “Regulamentar o mercado de carbono vai atrair para o Brasil capital estrangeiro para o financiamento sustentável”, Capital Aberto

Notícias sobre a prática do greenwashing têm colocado em alerta investidores em produtos ESG e o mercado como um todo. Qual o tamanho do prejuízo para a atratividade de mais recursos para produtos com este foco?

Além do impacto negativo do greenwashing no meio ambiente e na sociedade, essa prática prejudica a credibilidade de produtos de investimento com objetivo sustentável e cria ruídos para os investidores. O escopo da evolução da agenda regulatória mundial, tal como Europa, Reino Unido, Estados Unidos e o próprio Brasil, sempre foi evitar o greenwashing mediante publicação de boas práticas, critérios e regras, promovendo proteção aos mercados e aos investidores. Esse é um processo ainda em evolução. A disseminação de conhecimento e educação sobre sustentabilidade para o mercado, por exemplo, é uma das ações que pode colaborar para combater o greenwashing. A tendência é que o desenvolvimento e o fortalecimento de regras e boas práticas para a indústria de investimentos sustentáveis ajude a coibir cada vez mais esse tipo de prática.

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Nos últimos dois anos, o retorno dos fundos ESG globais assim como a atratividade para o investidor perdeu um pouco do fôlego. A que podemos atribuir o movimento?

É importante lembrar que, diferentemente de outros mercados internacionais, como é o caso da Europa, o Brasil ainda está em amadurecimento quando falamos de sustentabilidade. Isso se reflete não só nas emissões de ativos verdes, mas também no tamanho da indústria de fundos com objetivo sustentável. Dito isso, esse é um mercado regulado recentemente no Brasil e seria necessária uma base temporal maior para indicar se realmente há um movimento de desaceleração por aqui.

carlos takahashi, “Regulamentar o mercado de carbono vai atrair para o Brasil capital estrangeiro para o financiamento sustentável”, Capital Aberto

Você tem uma larga experiência no mercado desde sua passagem no BB, no comando da DTVM, depois como CEO da BlackRock, no Brasil além de sua intensa atuação na Anbima. Como você avalia a evolução no ambiente de negócios?

Talvez o principal fenômeno seja o olhar mais atento para o cliente. Já há algum tempo os bancos, começando pelos grandes bancos de varejo, fizeram um profundo processo de segmentação da clientela definindo os diversos clientes de uma agência bancária, varejo, alta renda, private e assim por diante. Quando a gente fala em investidores e em pessoa jurídica, middle market, pequenas empresas, corporate banking, tudo isso passou por uma especialização grande. Ao mesmo tempo para dar o atendimento adequado a esses clientes começaram a acontecer diversos movimentos de especialização na criação de produtos. Foi a partir deste movimento que veio um desenvolvimento grande do mercado de capitais e da indústria de gestão de investimentos. Houve uma disruptura muito grande do mercado financeiro, o surgimento de distribuidores independentes, o crescimento das assets independentes, não só aquelas que estavam nas instituições financeiras tradicionais, mas também de todos os demais profissionais, agentes autônomos. Os próprios grandes bancos tiveram que se reinventar e surgiram novos modelos tanto de relacionamento com o cliente, de distribuição de produtos e de criação de produtos.

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O mercado tem sido impactado por uma série de mudanças regulatórias nos últimos anos. Qual a importância delas e que mercado veremos nos próximos 5 ou 10 anos?

Eu vejo uma perspectiva muito positiva de crescimento do mercado nos próximos dez anos por várias razões. Primeiro, nós estamos evoluindo muito com relação a questões regulatórias, exemplo da CVM 175 recente, que traz um alinhamento grande da nossa norma aos padrões internacionais. Nós temos ali uma discussão importante com relação a aperfeiçoar os mecanismos de distribuição, transparência, disclosure e uma série de coisas que também favorecem a experiência do investidor. Hoje nós continuamos com os grandes bancos tendo uma relevância enorme, mas são grandes bancos que reinventaram seus negócios, olhando todo esse ambiente competitivo mais recente. Tem novos players surgindo, com nova mentalidade que eleva a competitividade. São acenos que fazem com que a gente tenha uma perspectiva positiva para o Brasil. Ainda que tenhamos questões macroeconômicas desafiadoras, viva ciclos de juros mais elevados, de juros menos elevados, um pouco mais de inflação, um pouco menos de inflação, tudo isso traz um reflexo no comportamento do investidor. Mas, ao mesmo tempo, quando você tem a capacidade de construir um ambiente no mercado financeiro como um todo, isso favorece o mercado de capitais.

carlos takahashi, “Regulamentar o mercado de carbono vai atrair para o Brasil capital estrangeiro para o financiamento sustentável”, Capital Aberto

De que forma favorece o mercado de capitais?

Na medida em que você tem medidas, como as diversas medidas que o Banco Central tem implementado como o PIX, agora com o DREX, além do Open Finance e Open Banking. No final das contas favorece muito o ambiente como um todo, porque traz mais competitividade, eficiência e menos custo. E isso tudo faz com que o mercado possa crescer de uma forma bastante relevante. Eu vejo de uma forma muito promissora.

carlos takahashi, “Regulamentar o mercado de carbono vai atrair para o Brasil capital estrangeiro para o financiamento sustentável”, Capital Aberto

Quais as perspectivas para a agenda ESG?

Nos próximos dez anos, as perspectivas vão ser positivas. Hoje, a gente está enfrentando um problema geopolítico, um problema inflacionário e, obviamente, as prioridades mudaram. Aparentemente, essa agenda teria ficado para trás. Mas, ao mesmo tempo, a gente está enfrentando os maiores desafios climáticos nesses últimos anos, os impactos do aquecimento estão visíveis e isso, de alguma forma, está se precificando através dos riscos. Tudo isso faz com que essa agenda retome e com muita força, porque tem investidores relevantes olhando para as inovações necessárias para fazer essa transição, não só aqui no Brasil. Talvez aqui um pouco menos, mas especialmente no exterior. Nós temos preparado todo o arcabouço regulatório para poder dar suporte a essa transição. Temos uma discussão relevante do mercado de carbono regulado além do voluntário, temos uma pauta de taxonomia em andamento e temos outros reguladores, como a CVM, que tem tratado esse assunto como prioridade. Temos que continuar trabalhando para construir uma rede amigável e que tenha capacidade de atrair esses recursos e, ao mesmo tempo, desenvolvendo os mercados para que a gente consiga dar a atratividade necessária para que os investidores consigam aí atingir os seus objetivos nessa questão.


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