A oferta pública inicial da OGX Petróleo e Gás alcançou a maior captação da história do mercado de capitais brasileiro: R$ 6,711 bilhões, acima do recorde anterior, de R$ 6,625 bilhões, conquistado pela Bovespa Holding. Apesar de os volumes movimentados serem bem próximos, há uma diferença. As ações da OGX foram ofertadas ao preço de R$ 1.131,00 cada, bem superior ao da bolsa paulista, cuja emissão saiu a R$ 23,00. E seu caso não é o único. Outras duas ações de companhias do empresário Eike Batista chegaram ao pregão com um patamar de preço respeitável: a mineradora MMX, que saiu a R$ 815,00 no lançamento, e a companhia do setor elétrico MPX, cujos papéis alcançaram R$ 1.006,63 no IPO.
Mais do que uma estratégia, o patamar elevado para o preço dos ativos costuma ser um procedimento adotado por empresas em fase pré-operacional, isto é, que não possuem um histórico de atuação e vão ao mercado com o objetivo de captar recursos para o início de seus projetos. A OGX, por exemplo, foi criada há um ano e ainda não extraiu nem uma gota de petróleo. “As ações das empresas em estágio pré-operacional costumam ser ofertadas a uma cotação alta e em grandes lotes, justamente para restringir o acesso aos investidores qualificados”, explica Ricardo Pinto Nogueira, diretor de operações da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Não há qualquer instrução normativa da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que determine a alta faixa de preço para as ações.
O preço nas alturas, no entanto, não é uma tendência, ao contrário. A preocupação com a liquidez vem tornando os desdobramentos — também chamados de split — cada vez mais freqüentes. Por meio dessas operações, quebra-se a ação numa determinada fração sem mudar nada na participação dos sócios. Este ano, nove companhias anunciaram uma operação desse tipo entre janeiro e maio, incluindo aí desde gigantes como Petrobras a novatas como GP Investimentos. Em todo o ano de 2005, foram registrados splits de oito companhias. Em 2006, esse número subiu para 12 e, em 2007, para 20. Nos dois últimos anos, vêem-se os splits de empresas lançadas a preços elevados como MMX e BrasilAgro. Em geral, elas desdobram seus papéis um ano e meio após a estréia na bolsa. Algumas já anunciam no próprio edital que realizarão desdobramentos no futuro.
Quando a Brasil Agro promoveu o split na proporção de um para cem, em outubro do ano passado, seus papéis passaram de R$ 1.170,00 para R$ 11,70. Já a MMX desdobrou ações na razão de um para vinte, diminuindo o preço de R$ 970,00 para R$ 49,00. “Quando as empresas se encontram na fase operacional plena, elas promovem o desdobramento para tornar a ação mais acessível e aumentar o número de negócios”, diz Luiz Jurandir Simões de Araújo, professor de finanças dos MBAs da Fundação Instituto de Pesquisas Atuariais, Econômicas e Financeiras (Fipecafi).
Outras companhias não têm ativos com preços tão altos, mas recorrem ao desdobramento assim que a cotação começa a subir. As constantes elevações no preço do barril de petróleo e as descobertas de novas reservas no litoral brasileiro contribuíram para a valorização dos papéis da Petrobras. Em abril, a estatal promoveu um desdobramento em que cada ação, tanto ordinária como preferencial, passou a ser representada por duas após a operação. O objetivo, de acordo com o fato relevante divulgado ao mercado, era facilitar a aquisição das ações ao pequeno investidor e, conseqüentemente, ampliar a base de acionistas da companhia.
Antes do desdobramento, as ações preferenciais da Petrobras oscilavam na casa dos R$ 80,00. Como o lote padrão da petrolífera é de 100 ações, o investidor precisaria desembolsar cerca de R$ 8.100,00 para aplicar nos papéis. Após o split, esse valor caiu pela metade. Além do maior acesso, principalmente de pessoas físicas, o desdobramento provoca um efeito psicológico. Muitos investidores apostam no aumento da procura e compram o papel, o que contribui para uma valorização extra. “As empresas realizam o desdobramento para continuar na carteira teórica do Ibovespa”, observa Alexandre Espírito Santo, economista chefe da Plennus Gestão de Recursos. Outras companhias parecem simplesmente ignorar que suas ações estão em patamares estratosféricos. É o caso da empresa de engenharia Azevedo e Travassos, que tem ações na faixa de R$ 900,00, e da fabricante de bens de capital Bardella, que está por volta de R$ 260,00. É bom lembrar que a falta de liquidez é um fator de risco. Em momentos de acentuada volatilidade, é mais difícil para o investidor se desfazer de um papel com ticket de entrada elevado.
Mas há também exceções, como é o caso da AmBev. A companhia tem boa liquidez e está na carteira teórica do Ibovespa, embora a faixa de preço da sua ação varie em torno de R$ 100,00. Como o lote-padrão adotado pela maioria das empresas é de cem ações, o investidor tem de desembolsar R$ 10 mil para adquirir os papéis da cervejeira a esse preço. Para o pequeno investidor, essa quantia pode pesar no bolso e, neste caso, a alternativa é a compra de um número menor de ações no mercado fracionário. Entretanto, lá a cotação tende a ser ligeiramente mais alta e o volume de negócios é bem menor que no mercado tradicional. Enquanto a ação preferencial da AmBev foi vendida a R$ 104,36 no mercado tradicional no dia 24 de junho, por exemplo, foi negociada a R$ 104,80 no mercado fracionário.
LOTES DE MIL REMANESCENTES — Existe também a situação completamente oposta: ações muito baratas e negociadas por lotes de mil. É o caso da Telebrás. Cada lote de mil custa em torno de R$ 0,25, ou seja, uma ação sai por R$ 0,00025. Esse formato está cada vez mais malvisto pelo mercado. Principalmente depois que grande parte das companhias aderiu à cotação na forma unitária, a presença de ativos cotados a lotes de mil confunde o investidor. Um iniciante que opera via home broker pode vender sua posição em Bradesco e comprar ações da Ampla Investimentos guiando-se apenas pela cotação de R$ 35,00 que aparece na tela do seu computador. Entretanto, nesse caso, ele teria vendido uma ação do Bradesco e comprado um lote de mil ações da Ampla Investimentos.
Para evitar enganos como esse, a Bovespa tem orientado as empresas a realizar o chamado grupamento, que é a redução da quantidade de ações sem a alteração na participação dos sócios. Dessa forma, a cotação em “reais por lotes de mil” passa a ser precificada em “reais por ação”. Os esforços da Bolsa, iniciados em 2004, deram bons resultados. Das cerca de 400 empresas listadas hoje, apenas 20 ainda adotam a cotação de suas ações por lotes de mil.
No próximo dia 14 de julho, o Banco do Nordeste vai se juntar à maioria e promover o grupamento de suas ações na proporção de 10 mil para uma ação. Dessa forma, cada ação preferencial que hoje oscila em torno de R$ 0,00415 será cotada a R$ 41,50. A padronização na forma de cotar as ações permitirá à Bovespa atender a outra demanda do mercado: uniformizar o lote padrão de negociação em 100 ações, em linha com as práticas internacionais. O pequeno investidor agradece.
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