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A queda de um ícone do capitalismo
Os bastidores da ruína do Merrill Lynch e da aquisição que quase destruiu o Bank of America

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Crash of Titans pode ser resumido como a história do avestruz que descobre os limites de seu estômago ao engolir um bovino. Mais especificamente um touro, famoso logotipo do Merrill Lynch, que havia levado milhares de norte-americanos a investir em empresas abertas no pós-guerra até ser, em 2008, abatido pela sua própria cultura. O avestruz em questão é o Bank of America, que cresceu consolidando o setor bancário dos Estados Unidos e flertou com o desastre ao comprar o indigesto Merrill Lynch no mesmo fim de semana em que o Lehman Brothers foi à lona.

A história tem todos os elementos de uma novela. No “núcleo” do Merrill Lynch, o chefe da área de renda fixa e commodities Osman Semerci acumulou uma série de hipotecas de alto risco nos livros do banco, com o objetivo de empacotá-las e vendê-las a investidores, lucrando com as comissões. Essas operações transformaram Semerci e alguns de seus pares em celebridades, cujo brilho vinha dos bônus que todos na organização viram crescer vertiginosamente entre 2004 e 2007. O gestor era tão poderoso que nem sequer a área de controle de risco do banco tinha acesso às contas gerenciadas por Semerci. O fim da novela é conhecido: quando o castelo de cartas ruiu e as perdas financeiras pipocaram, a estrela perdeu seu status e foi demitida. Mas o estrago no balanço do banco já tinha ido longe demais. Na esteira dos acontecimentos, outra figura de destaque em Wall Street, o CEO do Merrill Lynch, Stan O’Neal, também foi deposto. Aos que lembram de Nick Leeson e do banco Barings em 1995, a história deixa uma sensação de “déjà vu”.

O Bank of America é o resultado da fusão do NationsBank (de Charlotte, Carolina do Norte) com o Bank of America (de São Francisco, na Califórnia). Apesar de o nome remanescente ser da instituição da Costa Oeste, o centro do poder permaneceu em Charlotte, coroando uma estratégia agressiva de consolidação de bancos comerciais regionais nos Estados Unidos. Curiosamente, a última aquisição da empresa seria a de um banco de investimento, um modelo rotulado de “extravagante e de excessos” pelo pessoal de Charlotte. Não surpreende que essa animosidade velada levasse os banqueiros de Nova York a apelidar seus colegas de Charlotte de “Família Buscapé”, em alusão ao seriado norte-americano sobre uma família de caipiras ricos.

Após os capítulos iniciais, que descrevem a trajetória e a cultura das duas organizações, o livro chega à eclosão da crise e à compra do Merrill Lynch pelo Bank of America naquele fim de semana fatídico para Wall Street. O afã de fechar o negócio e coroar sua carreira como o arquiteto da nova cara do Bank of America iria custar caro ao CEO Ken Lewis. Não só o preço pago pela aquisição foi alto demais, diluindo severamente os acionistas da instituição de Charlotte, como a avaliação dos livros do Merrill Lynch foi insuficiente e inadequada, criando um buraco literalmente sem fundo no balanço do banco. Ken Lewis acabou sendo vítima de sua própria poção mágica alguns meses depois, ao perder o apoio do seu conselho de administração.

A indigestão foi tamanha que o avestruz teve de ser operado publicamente. Medicado pelo governo, à base de empréstimos e capitalizações, o Bank of America conseguiu sair da UTI e evitou o pior, mas as cicatrizes ficarão marcadas para sempre na história da instituição.


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