O ritmo das aquisições realizadas por companhias e investidores de países emergentes indica que uma mudança histórica deve ocorrer até o fim

do ano. Pela primeira vez, o valor desembolsado pelos países em
desenvolvimento em compras de companhias de países desenvolvidos será maior do que os investimentos realizados no sentido contrário. Em 15 de setembro, os números de um e de outro estavam praticamente encostados: os emergentes gastaram US$ 128 bilhões e os países desenvolvidos, US$ 130 bilhões — segundo um levantamento realizado pela empresa inglesa de serviços de informação Dealogic. Em 2003, essa relação era de US$ 14 bilhões contra US$ 56 bilhões.

Joseph Quinlan, estrategistachefe do Bank of America Capital Management, afirmou em entrevista ao The Wall Street Journal que essa tendência deve se acelerar em razão da crise de crédito nos mercados globais, que freou as aquisições lideradas por multinacionais e fundos de private equity sediados nos Estados Unidos e na Europa. Apesar de boa parte das operações internacionais ainda acontecer entre companhias e investidores norte-americanos e europeus, o desenvolvimento dos mercados de capitais em países como Brasil e Índia e as políticas de diversificação de investimentos adotadas pelos fundos de capital soberano (Sovereign Wealth Funds, SWFs) da Ásia e do Oriente Médio vêm acelerando o processo de mudança.

Os exemplos mais recentes foram a aquisição da loja de departamentos de luxo Barneys New York pelo Istithmar, SWF do Dubai, por US$ 900 milhões, e a compra da fabricante de computadores norte-americana Gateway pela sulcoreana Acer, no valor de US$ 710 milhões. Mas o maior negócio do ano ainda não saiu: a Qatar Investment Authority fez uma oferta de US$ 30,5 bilhões pelo controle da mais antiga cadeia de supermercados do Reino Unido, a J Sainsbury, na qual já detém uma participação de 25%. A família fundadora ainda estuda a proposta, mas a expectativa do mercado é de que a operação saia até dezembro. O SWF do Qatar também deve fazer uma oferta por 30% do capital da Bolsa de Londres neste mês de outubro.