Não é novidade que o cargo de conselheiro de uma companhia aberta é um dos caminhos naturais para profissionais de destaque nas áreas de administração, economia e finanças após a aposentadoria. Menos conhecido é o posto que muitos deles assumem quando deixam esses conselhos: o de consultores seniores de grandes instituições financeiras. Nos últimos anos, tornou-se comum a contratação desses profissionais por grandes bancos de investimento internacionais. Os conselheiros mais assediados costumam ser os que atuaram em empresas clientes desses bancos e, em alguns casos, em concorrentes de clientes.

Preocupado que a garantia de um posto como consultor ao final do mandato possa estimular a garantia de contratos lucrativos para os bancos, Derek Higgs, uma das maiores autoridades em governança corporativa do Reino Unido, propôs que os conselheiros passem por um período de quarentena semelhante ao imposto a funcionários de bancos centrais ou órgãos do governo. “Não suporto a idéia de criar um código específico a esse respeito, mas me parece óbvio que o princípio aplicável ao serviço civil faz todo sentido no mundo corporativo”, afirmou num encontro para conselheiros organizado, em junho, pela Associação Britânica de Seguradoras.

Hoje presidente do conselho do banco Alliance & Leicester, Higgs é autor do Higgs Report, cujas recomendações para a formação dos conselhos e a atuação de conselheiros independentes foram adotadas pelo código de boas práticas britânico, o Combined Code. Ele também defende a necessidade de estabelecer políticas rígidas para a contratação dos bancos de investimento pelos conselhos de companhias abertas e aponta como exemplos de potencial de conflito as contratações de ex-presidentes dos conselhos de companhias clientes dessas instituições.