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Capital globalizado
Diante da liquidez internacional e da atratividade do mercado de ações local, investidores de diversas partes do mundo entram na agenda dos RIs

 

O que representa o e-mail de um investidor de Dubai chegando à caixa postal do departamento de Relações com Investidores (RI) de uma companhia aberta brasileira? Muita coisa, agora que o Brasil está mais próximo do grupo de países graduados na arte de chamar a atenção dos capitalistas endinheirados que se espalham pelo mundo. Uma simples e inesperada mensagem internacional é a prova de que nossas companhias já conseguiram atrair o estrangeiro que está fora do tradicional eixo Estados Unidos – Londres. A Capital Aberto foi atrás de empresas que já passaram por essa experiência e deparou com uma corretora japonesa escrevendo análises sobre a Petrobras na própria língua dos ideogramas, e ainda achou um gestor de recursos escocês que quer aprender a falar português a fim de ampliar suas oportunidades de negócios por aqui.

Irlanda, África do Sul, Emirados Árabes, Austrália, Chile, Holanda, Argentina, Coréia do Sul e República Tcheca. Hoje, cada um desses lugares abriga pequena fração de pelo menos uma companhia brasileira. “É uma conseqüência natural para um mercado como o nosso, que se destaca entre os demais emergentes pelo alto grau da governança corporativa e pela avançada regulamentação”, afirma Geraldo Soares, presidente do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri). Segundo uma pesquisa realizada em 2006 pelo instituto, 48% de um total de 110 RIs entrevistados visitaram até três países no ano passado e 27% foram além dessa marca.

“A internacionalização do capital de companhias brasileiras aumenta à medida que mais empresas entram no radar de bancos e corretoras estrangeiros”, explica Soares. “Dessas instituições, saem os relatórios que as tornam conhecidas entre os grandes investidores globais.” O próximo passo costuma ser um convite para participar de encontros promovidos por bancos e corretoras no Brasil e no exterior, onde as companhias são apresentadas a potenciais acionistas.

Foi com a intermediação de um banco que a Positivo Informática conquistou investidores na Argentina e no Chile. A gerente de RI, Silvia Emanoele, conta que nesse tipo de reunião é muito comum aparecerem interessados de diversas partes do mundo. No mês passado, por exemplo, a companhia esteve entre as convidadas do UBS num evento realizado em São Paulo. Das 14 audiências marcadas, oito eram com investidores estrangeiros que vieram até o Brasil. O fato se repetiu quando a empresa participou de um encontro com essa mesma finalidade no México. “Por incrível que pareça, não falamos com nenhum mexicano”, conta Silvia. “Mas nos apresentamos para dois investidores, um de uma instituição chilena e outro da Argentina, que lá estavam atrás de oportunidades em mercados emergentes.”

Na Lupatech, o intermediador obteve um feito inusitado. “Há cerca de dois meses, o telefone tocou e era uma corretora agendando uma reunião com um grupo de cinco coreanos que estavam em São Paulo”, conta o diretor de RI, Thiago Alonso de Oliveira. Para ele, é possível que o trabalho dessas instituições tenha atraído, inclusive, acionistas dos quais nunca saberão a procedência. Isso porque muitos compram os ativos brasileiros através de fundos de investimentos com sede em Londres ou nos Estados Unidos, e é esse registro que chega até o departamento de RI das companhias. Por vezes, conseguem identificar a origem de um investidor apenas quando este lhe envia um e-mail. “Foi assim que descobrimos ter acionistas em Dubai, França e Alemanha”, lembra Oliveira.

PRÓ-ATIVIDADE — É claro que, na missão de globalizar o capital, nossas companhias também adotam iniciativas próprias. Um exemplo são as viagens a países com inúmeros potenciais compradores de ações, mas ainda pouco freqüentados. Em dezembro do ano passado, a Lupatech realizou um road show que passava por Chile e Argentina. A visita, recorda Oliveira, surpreendeu os investidores locais, pois é raro uma empresa brasileira incluir a América do Sul no roteiro de suas apresentações. “Se percorremos tantas cidades distantes no Brasil, por que deixar de lado os nossos países vizinhos?”, avalia o diretor da Lupatech, que tem cerca de 2 mil investidores, entre individuais e institucionais, dos quais 405 são estrangeiros.

A captação de recursos estrangeiros aumenta à medida que mais empresas entram no radar de bancos e corretoras internacionais

A estratégia do Itaú foi ainda mais agressiva. Em 2005, decidiu abrir a terceira filial de sua corretora no exterior, dessa vez em Hong Kong. Além da corretora na China, hoje eles mantêm escritórios em Londres e nos Estados Unidos. “É gratificante saber que cada vez mais somos conhecidos em diferentes mercados”, afirma Silvio de Carvalho, diretor-executivo de controladoria do banco. Quando perguntado sobre a presença de acionistas de países menos tradicionais, ele lembra de investidores que vieram da Turquia e da Holanda e cita um grupo da Finlândia e outro da Dinamarca. “Muitos deles fazem questão de visitar o Brasil e, ao chegar, surpreendem-se com a organização do nosso mercado.”

Para aqueles que se espantam com a idéia de os escandinavos virarem fregueses do mercado de capitais brasileiro, saibam que eles também estão no mailing de acionistas do gerente de RI da CCR, Arthur Piotto. A companhia, cuja metade do free float hoje está nas mãos de estrangeiros, tem planos de contemplar a Finlândia no próximo road show que fizer pela Europa. “Também incluiremos a Suíça, onde há muitos representantes de investidores do Oriente Médio”, acrescenta. Ainda na lista de investidores de origens diversas, a CCR cita os australianos — público que se interessa muito pelo segmento de concessão de rodovias no seu próprio território e em mercados emergentes. O namoro com essa região segue tão firme que, no fim deste mês, o executivo se prepara para receber um grupo da Austrália em São Paulo.

HORAS CONTADAS — Austrália, Dubai, Hong Kong… Se a conquista do Oriente seguir nesse ritmo, em breve, o fuso horário será um problema para os departamentos de RI que se dispõem a buscar investidores do outro lado do planeta. Na Localiza, por exemplo, existe uma regra interna para que todos os e-mails sejam respondidos num prazo máximo de 24 horas. Se o emissor estiver no Japão, azar do diretor de RI, Silvio Guerra, que terá 12 horas a menos para correr com a resposta. “Já decorei os fusos de tudo quanto é lugar”, brinca. Quando a memória falha, ele recorre a uma espécie de “cola” — planilha estrategicamente grampeada na sua agenda com a diferença de horários dos principais países.

De Chicago, Guerra conversou com a Capital Aberto. Estava num daqueles eventos promovidos por bancos internacionais que apresentam as companhias brasileiras para o mundo. “Nesses encontros, já recebemos pessoas de Cingapura, do Kuwait e até da África do Sul”, comemora. Orgulhoso por essas conquistas, afirma que a globalização não é mais privilégio, mas sim obrigação. Quando forem a Londres, por exemplo, pretendem esticar até Edimburgo, pois conhecem a predileção escocesa por mercados emergentes. Assim, vê-se que a marca de 85% do free float em poder de investidores internacionais alcançada pela Localiza, uma das maiores da Bovespa, só tende a aumentar.

Resta saber por que é tão importante para as equipes de RI diversificar cada vez mais sua presença internacional. A resposta óbvia é que há muita poupança disponível fora dos eixos tradicionais à procura de boas oportunidades de investimento. Mas não se trata apenas disso. “Quando conquistamos visibilidade global, temos a prova de que a informação chegou de forma clara a diferentes culturas, sendo suficiente para motivar esses investidores a acreditar no nosso discurso e aplicar nas nossas ações”, afirma Marco Geovanne, gerente de RI do Banco do Brasil, que já compara sua rotina à de um caixeiro-viajante.

O banco tem acionistas em países como Irlanda, Itália, França, Holanda, Dinamarca e até na República Tcheca. “Outro dia mesmo, em evento promovido por um grande banco estrangeiro em São Paulo, conversei com um grupo de investidores da África do Sul que tem ações do banco”, conta. Em janeiro passado, Geovanne embarcou para Cingapura e Hong Kong para testar, pela primeira vez, vender ações em mercados fora do eixo Londres – Estados Unidos. Graças ao trabalho de formiguinha dos profissionais de RI e à ação comercial dos grandes bancos de investimento, hoje os investidores externos estão praticamente alfabetizados sobre o Brasil. “Ninguém mais confunde samba com tango aí fora”, brinca o RI do Banco do Brasil. Ele mesmo já soube de um gestor escocês de hedge fund que queria aprender português. Questionado sobre o motivo de tal interesse, o investidor afirmou que entender a cultura brasileira e a dinâmica do País iria ajudá-lo a se diferenciar entre os demais gestores globais. “Diga se isso não é motivo de orgulho?”, conclui.

Relatório da Petrobras ganha versão em japonês da corretora Nomura

De todas as estratégias das companhias brasileiras para atrair investidores estrangeiros, a da Petrobras é, sem dúvida, um exemplo à parte. Patrocinadora oficial do Grande Prêmio de Fórmula 1, a companhia costuma convidar de 15 a 20 potenciais acionistas — locais ou externos — toda vez que uma dessas corridas acontece num país de seu interesse. No dia 18 de março, o diretor de RI, Raul Campos, estava exatamente em Melbourne, na Austrália, a cidade que inaugurava a temporada 2007 da competição, com um grupo de possíveis compradores de ações da empresa. E quem quiser saber o próximo destino da equipe de RI, basta olhar o calendário da Fórmula 1 e ver que mais uma visita foi programada para o GP da Malásia.

A globalização da estatal petrolífera chegou ao ponto de fazer uma das maiores corretoras do Japão, a Nomura, incluí-la na lista de ações cobertas pela equipe de pesquisa. E a prova de que o leitor da análise sobre a Petrobras seria mesmo o japonês chegou em setembro, quando a corretora elaborou um relatório todo escrito nos herméticos ideogramas nipônicos. “Ver um relatório em japonês foi uma surpresa extremamente agradável”, lembra o gerente de RI, Alexandre Fernandes. Sua alegria só não foi maior porque, obviamente, não entendeu o significado de nenhum daqueles tracinhos. “Só dava para ler a palavra Nomura.”

Contudo, depois que os símbolos em kanji, katakana e hiragana viraram palavras em inglês, a diretoria da companhia sentiu-se aliviada ao descobrir que a recomendação do analista era de compra. Com 33 páginas, o texto foi escrito originalmente em inglês pelo escritório da corretora em Londres. Diante do interesse do público japonês pela Petrobras, a Nomura decidiu traduzi-lo em ideogramas.

A Capital Aberto teve acesso ao documento nas duas versões. A Petrobras é citada como uma das principais forças no mercado de energia da América Latina. “A mudança da condição do Brasil de um país importador para exportador ganhará ainda mais força com o aumento da produção, do consumo e da exportação de etanol”, diz o estudo. Em fevereiro passado, os ADRs da Petrobras entraram para a lista das 30 ações mais recomendadas pela corretora aos investidores japoneses. (A.S.S.)


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