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Pura diversão
Paulo Cezar Aragão, advogado da BMA.

 

ed37_p060-061_pag_1_img_001Aos 55 anos, o advogado Paulo Cezar Aragão se sente orgulhoso por estar à frente de uma equipe que, segundo ele mesmo gosta de frisar, participou de algumas das transações “mais divertidas” do Direito empresarial no Brasil. Casado, pai de dois filhos e avô coruja de duas meninas que nasceram e vivem na França, Aragão se destaca por uma inteligência refinada. E pela oratória carismática com voz serena que, vez ou outra, dispara uma pitada de ironia. Quem conhece um pouco da história de seus 35 anos dedicados à profissão sabe que essa entrega ao trabalho jamais faria sentido se não tratasse de alguém apaixonado pelo que faz. “Nasci obcecado pelo trabalho”, chega a admitir.

Desde 1995, é um dos pilotos do escritório Barbosa, Müssnich & Aragão. Mas, para conhecer sua trajetória antes da sociedade, é preciso voltar a 1973, quando o recém-formado Paulo trabalhava no escritório de advocacia do pai, na área do Contencioso. Ali teve início o ensaio do que seria seu primeiro grande amor na profissão: o Direito Civil. Começou dando aulas sobre o tema e, quando se deu conta, já tinha três livros publicados e uma agenda de palestras por vários estados do País. “Era uma espécie de caravana ‘Bye, Bye, Brasil’ do Direito Civil”, lembra. A paixão durou até 1977, ano em que foi fisgado pela curiosidade de fazer parte do recém-criado órgão regulador do mercado de capitais, a Comissão de Valores Mobiliários, que anunciava um concurso público para contratação de jovens talentos. Aragão passou nas provas e por lá trabalhou de 1978 a 1981 — primeiro como gerente, depois como superintendente jurídico do órgão.

No final de três anos, achou que era hora de voltar para o setor privado e, em 1982, entrou para o escritório de João Pedro Gouvêa Vieira. Não havia como negar mais. Daquele momento em diante, o Direito empresarial tomaria conta de sua vida. Cabe ressaltar, contudo, que essa história sofreu uma pequena interrupção quando Aragão foi seduzido por um convite da GP Investimentos, onde atuou como consultor entre 1994 e 1997. Perguntado por que trocara a profissão de seus sonhos pela nova experiência, Aragão justifica: “Na época, sofria da síndrome do ascensorista. Ou seja, aquele que não consegue saber como é que termina uma história porque as pessoas saem do elevador justamente na hora que estão contando o seu desfecho. Acontece a mesma coisa com o advogado. Você não sabe como as coisas terminaram depois de encerrado o seu trabalho. Na GP, podia ver como uma empresas funcionava de perto”. De quebra, acumulou no currículo a experiência de trabalhar ao lado de Jorge Paulo Lemann e Carlos Alberto Sicupira, criadores da GP e clientes seus até hoje. Nesse meio tempo, fundou o escritório Barbosa, Müssnich & Aragão.

Ali ele se deparou finalmente com sua fase de maior reconhecimento prof issional , quando assumiria um papel-chave em “negócios divert idos” como a assessoria prestada na privatização da Telebrás e na fusão das cervejarias Antárctica e Brahma. “Às vezes, fico encabulado, pois os clientes me pagam para fazer algo que simplesmente adoro”, brinca. Aragão gosta de mencionar também que nenhuma dessas realizações seria possível se não houvesse um trabalho de toda a equipe. “Muita gente acredita que o sucesso é saber o que fazer em determinada situação. Mas transformar o ‘faça assim que dá certo’ em realidade envolve dez, vinte pessoas numa única operação”, esclarece. E vai além: “Se dissessem ao Michelângelo que ele teria dois meses para pintar a Capela Sistina, sozinho, não conseguiria. Com um time de ajudantes, talvez.”

“Às vezes fico encabulado, pois os clientes me pagam para fazer algo que simplesmente adoro”
“Transformar o ‘faça assim que dá certo’ em realidade envolve dez, vinte pessoas numa única operação”

Na sua avaliação, o grande marco para o Direito empresarial nesses últimos três anos foi a pujança da migração de companhias para o Novo Mercado. Do ponto de vista regulatório, ele avalia que ocorreu uma verdadeira mudança de paradigmas na postura da CVM. Se na sua época existia a chamada regulação bombeiro — “quando acontecia alguma coisa de manhã, baixava-se um decreto à tarde” — hoje ele reconhece que as medidas do órgão são desenvolvidas com muito mais profundidade e discutidas em audiências públicas.

Que recado Aragão teria para os jovens advogados da área empresarial? “Antes de mais nada, é preciso saber que o sucesso é o resultado de muito trabalho, de um esforço contínuo de 30, 40 anos.” Para quem discorda, o melhor, segundo ele, seria comprar um barco e ir velejar. Mas emenda: “Francamente, até para ser um bom velejador, também é preciso passar várias horas treinando todos os dias”. Em resumo, sua mensagem para os mais novos é que a tal história de que o talento é 10% de inspiração e 90% de transpiração é pura verdade. Aragão é do time dos que acham que o impossível tem de ser feito na hora. Já o milagre, pode demorar um pouco mais.

Não pensem, porém, que ele gosta de fazer projeções para o futuro. “Minha bola de cristal está no conserto desde 1986, época do Plano Cruzado”, costuma repetir. Classifica o Brasil como um país “curioso” e avalia que, com o fim da era da esperteza e do famoso jeitinho, o desafio será estar pronto para lidar com problemas internacionais, como os episódios da Bolívia e as brigas na Organização Mundial do Comércio. Imagina ainda que a China ganhará muito mais importância por aqui do que tem hoje. “Daqui a dez anos, muita gente vai estar falando mandarim”, profetiza. Mas onde estaria Paulo Aragão daqui a uma década? Fazendo a mesma coisa, tenham certeza. Provavelmente, daqui a vinte ou trinta anos, segundo ele mesmo define, será aquele velhinho que vive puxando a orelha dos estagiários.


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