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Pecados capitais
As boas práticas de RI muitos já conhecem. Mas e as falhas? Perguntamos a dez investidores o que esse profissional está fazendo de errado - e como poderia melhorar

ed34_p048-050_pag_1_img_001Por um acaso, na sua companhia existe um diretor ou gerente de Relações com Investidores interessado em saber o que o mercado sugere para melhorar o seu trabalho? Então, passe já esta reportagem para ele. A Capital Aberto buscou essa resposta com analistas de corretoras, gestores de recursos, representantes de associações de classe e um diretor de fundo de pensão. No total, foram dez entrevistas em uma pesquisa informal para identificar as principais falhas no atendimento do RI brasileiro.

Na lista das pisadas de bola desse departamento coube um pouco de tudo. As reclamações foram desde a não-atualização dos sites até faltas mais graves, como um tratamento mais VIP reservado aos grandes acionistas e menos atencioso aos pequenos investidores. A rapidez dos entrevistados para lembrar as deficiências das equipes de RI impressionou. Todos tinham uma queixa na ponta da língua. Não que ninguém tenha lembrado das virtudes desses profissionais. Pelo contrário, alguns fizeram questão de manifestar os elogios. Mas a proposta da reportagem era dar voz às broncas, como você verá nos próximos parágrafos.

Tânia Sztamfater, chefe do departamento de pesquisa do Unibanco, foi quem deu o puxão de orelha mais leve. Carregando a placa de uma das maiores instituições financeiras do País, nem de longe ela pertence ao grupo dos que sentem uma certa demora desses departamentos para obter respostas às suas solicitações. Contudo, apesar de exaltar a eficiência dessas áreas, Tânia guarda uma crítica sobre o fato de os diretores participarem pouco das reuniões que ela marca com os investidores. “O problema é que, como acumulam também a diretoria financeira, quase nunca eles têm disponibilidade para estar presentes e mandam os gerentes no lugar”, diz. “Sentimos falta de um executivo sênior nesses encontros.”

Já Rodrigo Lopes, sócio da Nitor Investimentos, detecta um número maior de problemas. O primeiro é o de ainda haver RIs que, simplesmente, não retornam as ligações. Ele nota essa dificuldade, principalmente, quando pede alguma informação mais específica, sobre determinado fornecedor, por exemplo. “Se não podem revelar algum dado, deveriam avisar que, por uma questão estratégica, não estão autorizados a fazê-lo”, sugere. “No entanto, muitos preferem deixar a gente esperando, sem dar qualquer resposta.”

DE NOVO, A TRANSPARÊNCIA — Na sua vez de soltar o verbo sobre o que pode melhorar no atendimento ao investidor, o analista da corretora Souza Barros Ricardo Tadeu Martins escolheu um tema para lá de batido: os sites de RI. Mas o fato é que, mesmo cansadas de saber a importância deste canal de comunicação com o investidor, as equipes de RI ainda cometem falhas gravíssimas como a de não-atualizar regularmente as informações ali disponíveis.

A falta de cuidado com a manutenção do site pode, além de deixar uma má impressão, induzir o investidor a conclusões enviesadas. É o que acontece, por exemplo, quando a seção dedicada às estimativas de analistas fica parada no tempo. “Algumas deixam, coincidentemente, apenas as falas de quem recomendou a compra”, ironiza Martins.

A bem da verdade, nessa questão há algo mais gritante do que a falta de atualização. Basta lembrar que, na grande parte dos sites, essa seção é apresentada ao internauta com o nome de “cobertura de analistas”. Logo, era de se esperar que estivessem ali todas as últimas “coberturas” realizadas ou alguma ressalva sobre o critério de seleção desses textos. Caso contrário, o investidor poderia ser influenciado a acreditar que os relatórios encontrados são todos os divulgados e que, se não houvesse uma recomendação negativa, é porque a companhia estaria muito bem vista pelos analistas. “As empresas que querem prestar esse serviço precisam tomar certos cuidados”, avalia Luiz Otávio Broad, da corretora Agora Sênior.

Ele adiciona à sua lista de sugestões a transmissão, em tempo real, de reuniões públicas com analistas, a fim de que os profissionais de outros estados possam participar das discussões. “Por estarmos no Rio, quando a reunião ocorre em São Paulo temos dois problemas: o primeiro é não acompanhar o que está sendo falado. E, o segundo, não conseguir contatar ninguém do RI porque estão todos na apresentação.”

Manuel Lois, diretor da corretora Spinelli, lembra que, se hoje essas falhas já causam um ruído, a situação pode se complicar ainda mais com a tendência de aumento no número de investidores pessoas física. “Notamos a dificuldade dos profissionais de RI de dar vazão à demanda”, afirma. Então, o que fazer? Bem, na impossibilidade de ter mais pessoas trabalhando na área, Lois sugere aproveitar melhor o uso dos meios eletrônicos, como o website. “Em muitos casos, também falta pró-atividade. Se a companhia sabe que o mercado vai questioná-la sobre determinado tema, por que não deixar pronto um comunicado?”, questiona.

MEDIDA CERTA — Ainda no quesito agilidade, descobrimos no bate papo com investidores que muitos se incomodam (pasmem!) com o excesso de informação. Segundo eles, é como se qualquer brisa que passasse pelos corredores da empresa fosse motivo para os RIs dispararem mensagens via e-mails e celulares. Mas na hora da tempestade, ao contrário, o posicionamento oficial da empresa ainda demora a chegar. O presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec), Haroldo Levy, acredita que essa postura reflete a falta de profissionais de RI com mais conhecimento sobre o tenso dia-a-dia de quem está do outro lado do balcão à procura da melhor oportunidade para investir.

“Não falta quantidade de informação. O problema é a qualidade do que é divulgado”, explica. Para obter essa qualidade, continua, só há uma maneira: conhecer bem a empresa, o setor, o negócio e, principalmente, o investidor. “Ter pessoas capacitadas para atender esse público não significa trazer apenas uma bagagem acadêmica ou um MBA. Tem de ter experiência para entender o mercado”, reforça. Entre as sugestões para esses departamentos, Haroldo puxa a sardinha para o seu lado e defende a realização de um número maior de Apimecs, além de um comportamento mais sincero por parte do RI. “O RI sincero é aquele que não esconde os problemas e comenta as soluções possíveis”, define. “Esse sabe o valor que sua credibilidade traz para a companhia.”

Pior do que a falta de habilidade para tratar a má notícia é quando o RI se esconde até na hora de apresentar os bons resultados. Estamos falando daquele perfil tímido, que prefere ficar sem dizer bom dia para o outro não puxar assunto, conhece? Gustavo Barbeito, analista do Banco Prosper, é quem sabe dessas histórias. Designado a acompanhar o desempenho de papéis de companhias com menor capitalização, chamados de segunda linha, ele costuma se deparar com empresas ainda de controle familiar que, por conta da pouca liquidez, não têm tanta prática para operar o seu departamento de Relações com Investidores. “Muitos deles acham que o mercado é um bicho papão.”

O risco de brincar de esconde-esconde é que essa indisposição de se comunicar seja mal interpretada pelos investidores. Afinal, a pouca exposição ao mercado pode ter por trás uma gestão ruim. Théo Rodrigues, diretor do Instituto Nacional de Investidores (INI), aponta um outro medo por parte desses profissionais — o da pessoa física. “Ainda há o mito de que o investidor individual dá trabalho”, desabafa.

MAIS GOVERNANÇA — Nesse festival de dicas e conselhos ao RI, cabe ainda a observação do diretor de participações da Previ, Renato Chaves. Como investidor institucional, ele sente falta de informações mais precisas sobre os assuntos que serão tratados nas assembléias de acionistas. “Normalmente, as propostas apresentadas na assembléia vêm incompletas, sem dados suficientes”, conta. “Isso já nos fez deixar de votar algumas vezes.” O ideal, para ele, seria que o RI defendesse internamente uma apresentação mais detalhada dos temas a serem discutidos como forma de preparar melhor os investidores para essas ocasiões.

E quem fecha a artilharia sobre os pecados das companhias no diálogo com o mercado é Alexandre Póvoa, sócio-diretor do Modal Asset Management. Ele concorda com vários dos pontos de vista listados acima, mas chega à conclusão de que o problema todo consiste no fato de o RI não se preocupar muito em perguntar ao mercado onde sua equipe vem acertando, o que pode ser feito para melhorar e como evitar ruídos. “Precisamos ser vistos como parceiros”, acredita.

Povoa dá a alfinetada, mas também faz um mea culpa: “Freqüentemente nos colocamos na cadeira dos diretores da companhia e analisamos a empresa do modo que nós gostaríamos que ela fosse, e não como ela é na realidade, com as suas dificuldades do dia-a-dia.” A ponderação do economista nos obriga a frisar que os RIs possuem, certamente, alguns bons argumentos para se defender das críticas aqui apresentadas. Mas, por enquanto, eles podem aproveitar as broncas dos investidores para melhorar o que for possível.


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