A indústria de investimentos perdeu no sábado o gestor de recursos Pedro Damasceno, 47. Sócio da Dynamo desde os seus primórdios, ele é parte integrante da constituição desta gestora que, apesar de representar uma espécie de contracultura da agressividade proeminente no mercado de capitais, conquistou a admiração dos pares justamente por sua personalidade distinta e pela performance exemplar de seus fundos. Aos olhos da CAPITAL ABERTO, Damasceno distinguiu-se por sua maneira de escrutinar os negócios. Compreender os grandes movimentos da tecnologia e da sociedade e como eles impactarão as companhias no futuro era uma anseio deste gestor de longo prazo. Outro valor transmitido por Damasceno à “garotada” da Dynamo era que a análise de uma companhia não existe sem um profundo entendimento de quem são e como pensam os seus donos e gestores. A mentalidade das pessoas, ele dizia, é elemento primordial para confiar no futuro de um negócio — e sem o “olho no olho” com os gestores, os balanços dizem pouco. Abaixo, alguns pensamentos compartilhados por Damasceno com a CAPITAL ABERTO ao longo dos últimos anos.
Política econômica
“Todo governo, não importa sua orientação, já descobriu que a inflação é importante, e as contas públicas também. O que é preciso agora para o desenvolvimento das companhias e o fomento da competição é a eficiência microeconômica, que vai desde a compra de um imóvel até um grande projeto de infraestrutura.”
Desenvolvimento
“O país precisa mudar a mentalidade. O capital deve ser remunerado, e o empresário tem de competir globalmente. Ele não pode ir a Brasília reclamar cada vez que o câmbio sobe ou desce.”
Uma ação, um voto
“Não necessariamente esse é o modelo ideal. Temos empresas com uma ação, um voto que são uma bagunça e outras que têm preferenciais e geram enorme retorno para os acionistas. No passado, discutíamos muito a expropriação dos minoritários, mas hoje essa questão tem um tom totalmente diferente porque avançamos bastante.”
Ativismo
“Ativismo era uma coisa antes do Novo Mercado e agora é outra. Nós preferimos dizer que nossa postura é colaborativa, não ativista.”
CVM
“Acreditamos que ela pode e deve se aperfeiçoar na aplicação de multas, e não em regular. O importante é haver sanções elevadas para quem fizer besteira, a partir de um corpo técnico capacitado e ágil.”
Análise de ações
“Nosso lema é saber mais sobre as companhias do que qualquer insider.”
Trabalhar na Dynamo
“Nós fazemos a mesma coisa há muito tempo e é isso que queremos continuar fazendo.”
Lembrança boa
“O dia em que um cliente perguntou a um dos “garotos” [da Dynamo] o que ele gostaria de fazer dali a alguns anos, e a resposta foi: “O mesmo que estou fazendo agora.”
Contratação de pessoas
“Não buscamos necessariamente os melhores, mas os mais compatíveis. Ou seja, aquele que, em primeiro lugar, gosta mais de analisar empresas do que de ganhar dinheiro”
Evolução
“A evolução vem dos problemas. Os últimos dez anos [a entrevista foi concedida em setembro de 2013] tiveram um avanço grande porque os dez anteriores foram cheios de problemas. Provavelmente, nesta próxima década, veremos problemas novos que, na década seguinte, permitirão um amadurecimento importante.”
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