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Sem medo de arriscar
Em busca de alternativas para rentabilizar seu dinheiro, investidores da classe C reservam parte de suas economias para investir em ações

, Sem medo de arriscar, Capital Aberto

Adriano de Maio, 26 anos, estuda administração e recebe R$ 2 mil por mês como comprador de uma indústria do setor alimentício. Mora numa casa construída no mesmo terreno da residência dos pais, no Tatuapé, zona leste de São Paulo, junto com a esposa, auxiliar administrativa, e o filho de quatro anos. O casal tem uma renda conjunta de R$ 3,5 mil. Com esse montante, Maio paga o financiamento do carro, um Celta, e ainda reserva uma quantia para investir na Bolsa de Valores. Ele aplica de R$ 200 a R$ 400 todo mês em ações. Maio faz parte da classe C, um público que cresce em importância para o mercado acionário brasileiro. Com renda mensal entre R$ 1.115 e R$ 4.807 por domicílio, essa camada social representa a maior parcela da população brasileira (53,03%), segundo dados da Fundação Getulio Vargas (FGV). Na corretora Tov, vem ganhando peso e já responde por 20% dos clientes. “Somos as Casas Bahia do mercado financeiro”, brinca o gerente de canais eletrônicos, André Jorge.

Segundo Jorge, 25% dos novos cadastros diários recebidos pela corretora são de investidores com esse perfil. Um dos motivos do sucesso é o preço do home broker da Tov. Desembolsando a partir de R$ 5 por mês, o investidor pode começar a se aventurar na Bolsa. Jorge explica que, apesar de a corretora não focar exclusivamente esse público, a inclusão de textos educativos no site e de traduções de termos em inglês facilita a entrada de pessoas de renda mais baixa. “Queremos desmistificar e popularizar o mercado”, diz Jorge. Um dos objetivos da corretora é crescer junto com a BM&FBovespa, cuja meta é cadastrar 5 milhões de investidores pessoas físicas até 2014. Maio é um dos clientes da Tov, na qual acumula R$ 5 mil em ações. Incentivado por um amigo, ele fez um curso sobre o assunto e começou a investir há um ano e meio, pensando no longo prazo. Atualmente, aplica seu dinheiro principalmente em blue chips como Petrobras e Vale. “Como estou começando, prefiro o mais garantido”, ensina.

FUGINDO DO TRADICIONAL — O bom momento econômico vivido pelo País colabora para o avanço da classe C na Bolsa. Com mais dinheiro no bolso, esse público procura alternativas para aplicar suas economias. A baixa rentabilidade das aplicações tradicionais também contribui para isso, na opinião do educador financeiro Mauro Calil, orientador de cursos do Instituto Nacional de Investidores (INI).

O webdesigner André Gebaile, de 23 anos, também tem se dedicado a formar uma poupança expressiva em renda variável. Separa mensalmente entre R$ 1.200 e R$ 1.500 para aplicar em ações — uma quantia significativa considerando seu rendimento médio de R$ 2.500. Antes de aplicar, ele fez um curso sobre investimentos em ações.
“Comecei investindo o dinheiro que tinha guardado na poupança. Na época, R$ 790”. Atualmente, Gebaile faz free lances para agências de publicidade, editoras e empresas de software. Seu pai é corretor de imóveis, a mãe é dona de casa, e o irmão de 19 anos, estudante. A renda da família, que mora no Jabaquara, em São Paulo, gira em torno de R$ 4 mil.

A baixa rentabilidade das aplicações tradicionais contribui para a entrada da classe C na Bolsa

Segundo Calil, esse é o perfil típico dos investidores da classe C. “A maioria é estudante ou pessoas em início de carreira”, afirma. Rodrigo Puga, responsável pelo home broker da corretora Spinelli, aponta outra característica desse público: a propensão maior a correr riscos, devido à busca por ganhos rápidos. “Cerca de 80% desses investidores são homens entre 20 e 25 anos”, estima Puga. Atualmente, entre 15% e 20% dos novos cadastros diários da corretora são provenientes de pessoas com essa faixa de renda. “Ainda é pouco, mas esse número vem crescendo”, garante. Até meados de 2009, esse percentual era quase nulo, mas hoje soma mais de mil investidores da base de 16 mil da corretora. O crescimento mais acelerado aconteceu a partir do início de 2010.

Puga conta que a Spinelli tem buscado simplificar a vida dos investidores. Além de textos educativos e materiais de apoio oferecidos no site, a corretora tem blogs que tratam do mercado financeiro e fóruns de discussão. Ainda permite ao investidor conversar com um analista antes de fazer aplicações. “Isso ajuda a tirar o medo da Bolsa.” Essa preocupação em orientar os novos aplicadores também é replicada pela equipe de atendimento da corretora, principalmente quando está lidando com pessoas da classe C. “A ideia é evitar que caiam de paraquedas na Bolsa”. Iniciativas como essas são bem recebidas pelos investidores. Até porque fazer um curso para aprender mais sobre ações pode custar caro. Para se ter uma ideia, o curso ministrado por Calil, do INI, dura seis horas e custa R$ 300, uma quantia relevante para quem já não tem muito para gastar.

Na BM&FBovespa, todas as atividades e os cursos de educação financeira são gratuitos. Patrícia Quadros, gerente de popularização da BM&FBovespa, afirma que não há direcionamento específico para nenhuma classe social. Porém, ela sabe do interesse da população de menor poder aquisitivo. “A Bolsa promove ações na praia e não há local mais democrático do que esse. Vamos à Riviera (de São Lourenço), ao Guarujá, a Santos, à Praia Grande“, exemplifica. A Bolsa tem ainda outras iniciativas para se aproximar do grande público, que incluem programas na televisão aberta, no rádio, na internet, além de cursos presenciais e on-line.

DE OLHO NAS GERAÇÕES FUTURAS — Outra forma de desmistificar a Bolsa é abrir as portas a estudantes. Desde 2006, é realizado o Desafio Bovespa, competição anual de simulação de investimentos voltada a escolas públicas e particulares de ensino médio do estado de São Paulo. No ano passado, 297 colégios públicos se inscreveram na gincana, contra 235 privados. A estudante Ariane Fernanda de Oliveira participou da terceira eliminatória em agosto.

Aos 20 anos, ela é atendente de telemarketing e cursa o primeiro ano do ensino médio. Com um salário de R$ 515, é uma das três fontes de renda da casa. Moram com ela a mãe, seis irmãos, um tio e uma prima. Para Ariane, o Desafio Bovespa lhe deu conhecimento para, no futuro, poder investir em ações. “Quando a gente não conhece, tudo é difícil, mas, no fim, a gente vê que não é tanto assim.”


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