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“Depois de 20 anos de FIDC, já estava mais que na hora de liberar para o investidor de varejo”
João Baptista Peixoto Neto, sócio-fundador da Ouro Preto Investimentos
João Baptista Peixoto Neto, sócio-fundador da Ouro Preto Investimentos

O mercado de crédito, nos últimos anos, passou por uma verdadeira revolução, com a maior participação do mercado de capitais como financiador das empresas, em substituição aos grandes bancos. A nova realidade exige a adaptação de investidores e gestoras e inclui produtos como FIDCs e Fiagro, ambiente navegado pela Ouro Preto Investimentos, gestora criada há 13 anos, especializada em fundos estruturados e com mais de R$ 10 bilhões sob gestão.

O entrevistado de hoje na Capital Aberto é um dos sócios da Ouro Preto João Baptista Peixoto Neto, formado em direito e com experiência em estruturação de operações do mercado de capitais. Na entrevista, o executivo contou um pouco da história da gestora e dos planos de crescimento, que inclui os FIIs de crédito e a oferta de FIDCs para o varejo, agora autorizada pela CVM 175.

Ouro Preto, “Depois de 20 anos de FIDC, já estava mais que na hora de liberar para o investidor de varejo”, Capital Aberto

Como era o mercado quando a Ouro Preto começou?

Na década de 2000, 2010, houve uma revolução. Em 2001, FIDC, 2003, FIP, 2005, 2006, começaram a sair CRI, CRA. Fundo Imobiliário teve várias alterações, como a isenção fiscal. Uma série de fatores fizeram com que o FII também crescesse absurdamente. Tivemos grandes mudanças nessa década, com tudo que podia ser feito para preparar o mercado de capitais para ele ser super forte e ter um papel mais relevante dentro do mercado financeiro. Agora, estamos em um momento de crescimento muito grande das operações, especialmente operações de crédito. A Ouro Preto já percebia isso há muito tempo, então montamos a gestora justamente para viver essa onda de securitização de crédito. A nossa especialidade são fundos estruturados, FIDC, Fundo Imobiliário e FIP. Tivemos tanto trabalho com o FIDCs, tanta demanda, que acabamos não focando tanto em FII e FIP, porque achamos que o mercado de FIDCS tende a ser muito maior.

Ouro Preto, “Depois de 20 anos de FIDC, já estava mais que na hora de liberar para o investidor de varejo”, Capital Aberto

Até onde você imagina que irá crescer a participação do mercado de capitais como financiador das empresas?

A tomada de recurso de terceiros para fazer operações de crédito vai começar a ser feita muito mais dentro do mercado de capitais do que dentro do mercado bancário, ele vai ser um grande concorrente dos bancos na concepção do crédito. Em cinco, seis anos, vai mudar a cara do crédito no Brasil. Estamos nesse processo. Já começou a crescer, mas a lógica é uma curva em L, em que o negócio começa, e depois a velocidade aumenta. E isso vai acontecer por uma série de transformações de comportamento, todas essas mudanças regulatórias, a questão tecnológica.

Ouro Preto, “Depois de 20 anos de FIDC, já estava mais que na hora de liberar para o investidor de varejo”, Capital Aberto

Peixoto Neto, você mencionou a revolução do mercado de crédito. Como a Ouro Preto está se posicionando com relação a essa revolução? Quais são os planos da gestora?

Agora, também vamos focar bastante no FII de Crédito, porque acreditamos que vai crescer muito também. E Fiagro, que é o Fiagro FIDC que temos no mercado. Ou seja, é um Fiagro que usa a mesma estrutura, o mesmo arcabouço jurídico do FIDC. Temos hoje 90 FIDCs e vai ter uma quantidade muito grande. Faremos um FIDC por dia. Ele está deixando de ser um mercado bancário e vindo para o mercado de capitais, o mercado de crédito.

Ouro Preto, “Depois de 20 anos de FIDC, já estava mais que na hora de liberar para o investidor de varejo”, Capital Aberto

Em termos de crédito, qual será o perfil do país nos próximos anos?

Ao longo de 10 anos, acho que o Brasil vai ter um perfil parecido com o que era nos EUA, no qual o crédito é dado mais pelo mercado de capitais do que pelo mercado de bancos, exatamente pela dificuldade de você montar um banco, as operações bancárias. É muito mais fácil você montar um FIDC do que você fazer um banco. Mas uma outra característica é que o FIDC é muito mais enxuto e adequado a uma operação específica de crédito.

Além disso, o mercado de crédito está se tornando cada vez mais especializado. Então, você vai pegar um crédito, por exemplo, para um especialista. Você quer comprar uma moto? Você vai pegar um crédito com um especialista em financiar motos. Você quer pegar um cartão de crédito? Você vai pegar o cartão de crédito com um especialista em emitir e fornecer crédito por intermédio do cartão de crédito. Hoje, os bancos não agem dessa maneira. O foco não está na operação do banco, está no cliente. Já o mercado vai focar mais no produto e vai ter uma explosão de operações, que vão surgir em torno de fintechs, consultoras de crédito, de grandes empresas. Toda grande empresa vai querer montar a sua operação de crédito. 

Ouro Preto, “Depois de 20 anos de FIDC, já estava mais que na hora de liberar para o investidor de varejo”, Capital Aberto

Como a Ouro Preto se posiciona nessa revolução? Qual o foco dos investimentos e o público-alvo?

A Ouro Preto tem cerca de R$ 10 bilhões sob gestão, diversos tipos de fundos. Temos também um ELF, uma operação de fundos exclusivos, fazemos a gestão para famílias ricas, um pouco disso, fundos multimercados, mas o nosso foco está em fundos de crédito, especialmente em FIDCs, e tem fundos de renda fixa de crédito privado, fundos multimercados de crédito privado, fundos imobiliários de crédito privado e Fiagro.

Ouro Preto, “Depois de 20 anos de FIDC, já estava mais que na hora de liberar para o investidor de varejo”, Capital Aberto

Quais são os planos da gestora diante da revolução no mercado de crédito? 

Em número de fundos de direito creditórios, a Ouro Preto já é a maior em diversificação. Tem uma que tem mais fundos, mas é muito especializada em multicedentes e multissacados. Temos 90 FIDCS. Poucas gestoras têm uma quantidade tão grande de FIDCS. Agora, queremos ser a primeira em quantidade de fundos e em diversificação de operações de crédito, ser bem ativos na gestão desses fundos, ou seja, ter equipes para cada tipo de crédito, sempre em parceria com empresas, com Fintechs, com construtoras de crédito. Já estamos bem-posicionados, porque somos bem conhecidos no mercado. O nosso passivo vem de bancos, family offices, fundos nossos mesmo que estão em plataformas de investimento. Então já é um passivo bem diversificado. O que queremos, na verdade, é escalar isso. Achamos que o que vai acontecer agora é que, por exemplo, hoje estamos com R$ 10 bi, e temos o potencial de chegar no final do ano com R$ 25 bi.

Ouro Preto, “Depois de 20 anos de FIDC, já estava mais que na hora de liberar para o investidor de varejo”, Capital Aberto

Outros especialistas que conversaram com a Capital Aberto vêem um risco na oferta de FIDCs, um produto complexo, para o varejo. Qual a visão da Ouro Preto sobre isso? 

Eu não acho que tenha complexidade. Acho que há até uma certa incoerência da própria CVM no passado, porque ações são consideradas um ativo de altíssimo risco, e qualquer pessoa pode comprar porque está aberto para o varejo inteiro. Acho que isso não vai ser um problema, não acho que o FIDC tenha um risco muito maior. ,

O risco, por exemplo, hoje, de uma pessoa que está investindo na Bolsa comprar uma ação errada e aquela ação cair 50% e ela perder dinheiro, ou até a empresa quebrar, existe para qualquer tipo de ativo. O que acontece no Brasil é que, como houve uma concentração bancária muito grande, as pessoas ficaram muito acostumadas a não correr risco. E como a taxa de juros é muito alta no Brasil, então, todo mundo estava investido em título público, como os fundos de pensão. E é óbvio que correr mais risco significa também ter mais problemas. Então, é natural. Não estou dizendo que não haverá problemas com FIDCs, claro que haverá, mas por isso que o investidor precisa ser mais bem informado. Mesmo o investidor de varejo. Acho que o investidor tem que ter essa liberdade, mas é claro que é preciso educação financeira. 

Ouro Preto, “Depois de 20 anos de FIDC, já estava mais que na hora de liberar para o investidor de varejo”, Capital Aberto

A oferta de FIDC para varejo é positiva?

Depois de 20 anos de FIDC, já estava mais que na hora de liberar para o investidor de varejo. E para ele tem certas regras, por exemplo, rating, só pode investir em cotas sênior. Tem alguns mitigadores de risco, alguns pontos que servem para proteger mais o investidor de varejo. E os FIDCs vão concorrer para valer com poupança, com fundo imobiliário, com qualquer outro tipo de ativo de banco, porque vão conseguir dar uma rentabilidade um pouco melhor.

Ouro Preto, “Depois de 20 anos de FIDC, já estava mais que na hora de liberar para o investidor de varejo”, Capital Aberto

E qual a posição do Ouro Preto com relação aos FIDCs para varejo, vocês pretendem ofertar? 

Sim. Pretendemos lançar vários FIDCs para varejo até meados do ano. Só não lançamos ainda esses fundos para varejo, primeiramente porque tem uma confusão aqui na CVM, que fez uma nova prorrogação. Segundo, tem aquela questão de que todos os players têm que estar preparados, o administrador do fundo. Até que todos estejam bem preparados, estamos atrasando um pouco isso, mas essa é prioridade nossa também, lançar os fundos de varejo. Não é porque eu acho que vai vir muito dinheiro por causa do varejo, mas isso vai ter um curso muito grande para o setor de FIDC.

Ouro Preto, “Depois de 20 anos de FIDC, já estava mais que na hora de liberar para o investidor de varejo”, Capital Aberto

Como garantir uma venda qualificada de FIDC para esse perfil de investidor?

Teremos dois tipos de fundos: um fundo que é um condomínio fechado, igual um fundo imobiliário, vamos listar esses FIDCs em bolsa, que vão dar uma renda mensal, então qualquer pessoa vai poder investir, todo o mercado vai poder acessar via plataforma de investimento. E aí, eu entendo que você tem dois tipos de investidor, um investidor que tem um consultor ou um assessor de investimento, ou um investidor que vai sozinho, que leu a respeito e acha que entende, e vai entrar diretamente numa plataforma e comprar esse fundo. Estamos em pelo menos umas 10, 14 plataformas de investimentos. E aí, o fundo aberto, a diferença é que tem um prazo para resgate, ele pode resgatar. Certamente, uma outra coisa interessante também para o investidor de varejo, é que o prazo o prazo máximo de resgate é de 180 dias. É um prazo bem razoável, mas eu acho que o produto que vai ganhar mais no mercado vai ser um prazo de resgate de 60 dias. Então teremos um FIDC, um fundo aberto, com bastante liquidez.

E como vocês vão se organizar para oferecer esse produto para o varejo? Vai ter alguma segmentação de clientes?  Vamos conversar com os escritórios de agentes autônomos, assessores de investimento e consultores de investimento, dar palestras, cursos, explicar o produto, aquilo que eu falei que acontece já no mercado de fundo imobiliário. Você entra no YouTube, tem um milhão de especialistas em fundo imobiliário. Tem mais especialistas do que fundo imobiliário. Está cheio de gente falando sobre fundo imobiliário. Mas por quê? Porque se popularizou. O FIDC, você quase não encontra ninguém falando sobre, parece um negócio meio nebuloso, mas logo ele vai se tornar conhecido também. Então as pessoas vão entender a característica principal do FIDC, que é a subordinação e, no final, os investidores vão começar a aprender a se proteger também.

Ouro Preto, “Depois de 20 anos de FIDC, já estava mais que na hora de liberar para o investidor de varejo”, Capital Aberto

Então quais as perspectivas de vocês para o FIDC para o varejo? Acham que esse produto deve deslanchar? Mas a que prazo? 

Vai deslanchar a partir do segundo semestre. A CVM prorrogou por mais quatro meses a entrada em vigor da 175, o que acaba fazendo com que todo mundo vá mais devagar. E as mudanças da 175 para o setor são importantes, como, por exemplo, o registro centralizado dos créditos. Pode ser que a coisa comece a deslanchar mesmo, inclusive o FIDC para o varejo, a partir de meados no final deste semestre, mas, com certeza, chegando em 2025, isso vai bombar. 

Ouro Preto, “Depois de 20 anos de FIDC, já estava mais que na hora de liberar para o investidor de varejo”, Capital Aberto

Quais as perspectivas do Ouro Preto para o mercado de crédito do Brasil a médio e longo prazo?

Queremos ser uma das maiores gestoras nessa área de crédito privado. Não vou falar a maior gestora, porque é muito pretencioso, mas uma das maiores nessa área de crédito privado, tendo como principal instrumento para isso o FIDC, depois o Fiagro e o FII também. Acreditamos que esse metade desse mercado que hoje está nos bancos virá para o mercado de capitais via FIDC. É uma questão de tempo.  Os bancos têm quase R$ 6 trilhões de carteira de crédito. Não vai demorar muito tempo, talvez uns seis, sete anos, para começarmos a ver mega gestoras, com carteiras de R$ 100 bi, R$ 200 bi em crédito em diversos segmentos. Hoje está crescendo muito o número de gestoras, o número de operações, o que mostra que o produto já está chamando a atenção de muita gente. Só que, depois, muitos desses fundos, vão crescer exponencialmente. Você pega a carteira dos bancos, tem R$ 600 bilhões de crédito agrícola. Daqui a cinco anos, desses R$ 600 bilhões que hoje estão 100% concentrados nos bancos, metade, R$ 300 bilhões, vão estar em Fiagros e FIDCs.


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