Um escreve com tijolos e o outro lê em números. Os dois mundos, imobiliário e mercado de capitais, que começaram a comunicar-se há pouco, estão ainda tendo alguns problemas na confluência de suas linguagens.
O grande número de empresas que recentemente ingressaram no mercado de capitais, através de ofertas públicas de ações, ainda passa pelo duro teste de se fazerem compreender pelos analistas de mercado, bastante habituados com as empresas comerciais e industriais que compuseram as carteiras clássicas de investimento, mas sem as ferramentas e dicionários necessários ao pleno entendimento deste novo tipo de atividade. A recíproca também é verdadeira. Os agentes de mercado sofrem os ritos de passagem para poder enxergar adequadamente as informações deste novo e extremamente peculiar ramo de negócios.
As empresas imobiliárias, construtoras e incorporadoras trazem em seus balanços e demonstrativos financeiros algumas informações que soam estranhas para os ouvidos dos analistas, ainda pouco familiarizados com a rotina do setor. Seus produtos e ciclos econômicos são invariavelmente díspares dos modelos usualmente aplicados e, com isto, às vezes assustam ou decepcionam esses profissionais, já que os resultados não vêm na velocidade e com a roupagem esperadas.
Soma-se a isto o momento especial que vive o setor imobiliário, talvez com o melhor cenário da história brasileira em termos de potencialidades de financiamento e demanda, o que certamente acelera o ritmo de aquisições — de terrenos, empreendimentos e empresas — e de negócios. Afinal, todos querem surfar na melhor parte da grande onda que se avizinha para este e, certamente, alguns anos seguintes.
Do outro lado, as empresas imobiliárias sofrem com as dificuldades inversas, pois tentam adaptar-se às exigências de seus consultores e analistas, imprimindo uma velocidade e um volume de operações incomuns para o “construbusiness”.
Acreditamos que o balanço das empresas imobiliárias não é para “ser lido a cada trimestre”, como se faz usualmente com as demais empresas listadas em bolsa. A quantidade de novos negócios em linha de produção não pode ser exigida na mesma proporção de outras atividades. Importante lembrar que os sinalizadores de liquidez, desejáveis em muitos casos, nem sempre significam saúde para as empresas deste segmento. Além disso, que a produção segura e responsável de um imóvel (o produto final) leva, em média, 24 meses.
Ao tentar coletar informações destas empresas, usando suas planilhas e conceitos usuais, os analistas ora vêem sinais positivos que inexistem, ora põem sob alerta empresas que, na verdade, estão absolutamente saudáveis. E algumas destas empresas, com os novos “sócios” capitalistas, tentam conseguir números para seus balanços, a fim de atender às expectativas — algumas geradas por mera especulação e outras decorrentes de promessas feitas nos IPO’s —, sem o devido tempo de maturação para certos empreendimentos que iniciam ou adquirem.
É claro que precisaremos de mais tempo para adaptação das empresas imobiliárias às práticas comerciais e níveis de informação que o mercado de capitais naturalmente incute nas companhias abertas. Ao mesmo tempo, vale lembrar que o investimento no setor imobiliário é, certamente, bastante seguro e possui um potencial de rentabilidade dos mais atrativos para os próximos anos, até porque se trata de um mercado consumidor onde há estupenda demanda reprimida.
É preciso que investidores e analistas tenham tolerância e tranqüilidade para acompanhá-lo e usufruir do respectivo retorno no momento certo.
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