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“Nossa principal receita hoje é financeira, fruto dos investimentos que fazemos, que renderam R$ 14 bilhões em 2023”
Daniel Lima, CEO do FGC
Daniel Lima, CEO do FGC

O papel do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) vai muito além de indenizar clientes com papeis de bancos ou instituições financeiras que foram liquidados. Na visão do CEO do FGC, Daniel Lima, a instituição ainda não é bem entendida pela sociedade por desconhecer seu funcionamento. A última vez em que foi chamado a atuar, no ano passado, o FGC indenizou clientes das financeiras Portocred e da BRK no valor de R$ 2,2 bilhões. “Atuamos também socorrendo bancos em dificuldade, com empréstimos, ou buscando um novo controlador, mas são processos sigilosos. Um papel importante para a segurança do sistema”, comenta Lima. No “Além do Capital” desta quarta-feira (20), o entrevistado é Daniel Lima, executivo com passagens pela Itaú asset, BM&FBovespa (B3), e pela diretoria de investimentos e presidente da Petros. Hoje, ele responde por um patrimônio de R$ 125,4 bilhões do FGC que renderam, só em juros dos investimentos feitos, a cifra de R$ 14,9 bilhões no ano passado.

Daniel Lima, “Nossa principal receita hoje é financeira, fruto dos investimentos que fazemos, que renderam R$ 14 bilhões em 2023”, Capital Aberto

Porque na sua visão, o FGC apesar de quase 30 anos de existência ainda não é tão conhecido do investidor?

Eu concordo que ainda não é tão bem conhecido, sua existência e funcionamento. Mas acho ainda que a foto não seja boa, o filme é bom. Ainda que o fundo não seja amplamente conhecido, ele já é muito mais conhecido do que era há 5 anos. E mais conhecido do que era há 10 anos.

Daniel Lima, “Nossa principal receita hoje é financeira, fruto dos investimentos que fazemos, que renderam R$ 14 bilhões em 2023”, Capital Aberto

A que se deve este filme melhor do que a foto?

A partir de 2013, surgiu um outro agente nesse mercado, que foi a intensificação de distribuição de produto bancário para a corretora, por agentes autônomos de investimentos. As corretoras, quando distribuem um CDB do banco, comunicam o que é o FGC por seu cliente. As mídias sociais também colaboram, tem muito influencer que vive de comentar sobre produtos financeiros e ajudam a tracionar o FGC. Aqui no Fundo também participamos de podcasts, o que era inimaginável há dez anos, e tem função importante.

Daniel Lima, “Nossa principal receita hoje é financeira, fruto dos investimentos que fazemos, que renderam R$ 14 bilhões em 2023”, Capital Aberto

Quais são os principais desafios para o FGC em um ambiente com novos produtos, mais investidores e um volume maior de recursos a serem cobertos?

O grande desafio do FGC nesta nova configuração do mercado com muito mais investidores, um quantitativo completamente diferente, é investir em tecnologia. Assim como as associadas fizeram, para poder chegar a mais pessoas com custo muito menor e com uma comodidade maior. E acho que um dos marcos do FGC dessa estratégia foi o lançamento do aplicativo do FGC em 2020. Também investimos em servidores que rodam na nuvem, redesenhamos os nossos programas para que rodem atividades em paralelo e em sistemas que auxiliam o liquidante a compilar a informação de pagamento.

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Você citou o lançamento do aplicativo, em 2020. Qual a importância da iniciativa?

Antigamente, o cliente tinha que ir em uma agência bancária designada pelo FGC. Hoje, tudo é feito pelo celular, baixa o aplicativo, coloca o número da conta, tira uma selfie e uma foto do documento. Isto é importante porque antes pagávamos 10 mil ou 15 mil pessoas quando uma instituição quebrava, hoje falamos de 100 mil e no futuro talvez um milhão. Não dá para mandarmos todos a uma agência.

Daniel Lima, “Nossa principal receita hoje é financeira, fruto dos investimentos que fazemos, que renderam R$ 14 bilhões em 2023”, Capital Aberto

Quais são as principais fontes de recursos do FGC ? Além da transferência de recursos das instituições associadas?

Hoje o grande fator de crescimento do patrimônio do FGC não são as contribuições das instituições parceiras, mas da receita de investimentos que fazemos. O balanço de 2023 deve ser publicado em breve e vai apontar uma receita financeira de R$ 14 bilhões, um valor expressivo. Em segundo lugar, vem as contribuições das associadas, de R$ 5,1 bilhões por ano, ou 0,01% por mês dos depósitos elegíveis para a cobertura do fundo, que incluem LCI, LCA, CDB, RDB, Letras de câmbio, poupança e DPGE.

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Quais são os investimentos feitos pelo FGC?

Investimentos em praticamente três ativos. Títulos públicos indexados à inflação, que são as NTNBs, títulos públicos indexados ao CDI, que são as LFTs, e operações compromissadas com o lastro em títulos públicos. É uma carteira conservadora e com alta liquidez, que é fundamental para que em situações de crise o fundo cumpra seu papel. É mais ou menos entre 50% e 60% em compromissadas, 18% em NTNBs e o restante em LFT.

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Uma crítica recorrentemente feita ao FGC é que demora a pagar os clientes. Isto tem melhorado?

Quando pagávamos as garantias em papel, ou seja, a pessoa tinha que aparecer fisicamente e assinar os documentos era mais demorado. Quando o Banco Central decreta a liquidação extrajudicial de uma associada, era nomeado um liquidante, que ia na instituição em liquidação para compilar uma lista de credores, um trabalho prévio ao do FGC e que consome um mês, se os documentos estiverem em ordem. Depois, o fundo levava mais um mês em todo o processo de pagamento, no total demorava em média dois meses. Com o aplicativo, a nossa parte é feita em dois dias. Todo o processo leva um mês e dois dias, na média.

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Este prazo é o ideal?

Ainda que a gente esteja feliz com um perto de mês no total, a nossa ambição é chegar nos parâmetros internacionais que indenizam em sete dias. Não é o ideal o que temos, mas avançou bem. No passado tinha processos que levavam 4 ou 6 meses.

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Há alguma possibilidade de que os produtos cobertos pelo FGC sejam ampliados, ou seja, que o fundo considere outros investimentos.

Acho que não. A gente tem que lembrar que é sempre produto de captação bancária. A gente vê algumas discussões de cobrir criptoativo, cobrir recursos de casas de apostas, cujo saldo fica parado, mas não tem nada de concreto. Não vejo sentido.

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Qual é hoje o patrimônio líquido do FGC?

Está na casa dos R$ 125,4 bilhões. Em depósito elegível, ou seja, os depósitos que estão nos bancos e financeiras e são cobertos pelo FGC, chega a R$ 4,5 trilhões. Já os depósitos cobertos de fato, lembrando que investimentos por CPF nos produtos listados são cobertos em até R$ 250 mil, com exceção a DPGE que chega a R$ 40 milhões, o valor é de R$ 2,3 trilhões.

Daniel Lima, “Nossa principal receita hoje é financeira, fruto dos investimentos que fazemos, que renderam R$ 14 bilhões em 2023”, Capital Aberto

Você foi diretor de Investimentos da Petros. Isto ajudou na função que exerce hoje no FGC, uma entidade também com bilhões a investir?

Lá tinha uma questão de equilíbrio financeiro, de pôr a casa em ordem que aqui não tem. Por outro lado, tem uma agenda jurídica bastante importante. Então a gente tem casos na justiça muito conhecidos, como o caso do Cruzeiro do Sul. No fundo sou um economista que gosta do tema do jurídico que tanto na Petros como aqui é importante.

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A que agenda você se refere?

Me refiro ao processo de resolução bancária, que é resolver bancos com problemas, algo ainda deve ser mais conhecido pela sociedade. Às vezes, a gente usa algumas analogias do tipo de recuperação judicial, processos de falência, que têm similaridades, mas não são a mesma coisa. Aqui, o objetivo é salvar o banco quando ele é viável. Se ele não é viável, não faz sentido. O dinheiro das reservas do FGC é o dinheiro da sociedade. O papel do FGC é a manutenção da estabilidade financeira.

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Porque este mal entendimento da sociedade sobre o papel do FGC? É ideológico?

Muita gente tem a visão de que o FGC se beneficia da intervenção em um banco, isto não é verdade.  Quando há um banco frágil e estamos ajudando é tentando buscar um novo controlador ou porque vai ser muito complicado para a sociedade se aquele banco quebrar. É para isso que a gente usa os nossos recursos. Existe um projeto de lei, que é o PL 281, que foi mandado para o Congresso em dezembro de 2019. Ele dá uma atualizada no arcabouço regulatório brasileiro com relação a esses processos de resolução bancária. Eu acho que a tramitação desse projeto de lei vai ser um bom exercício para as pessoas entenderem melhor a função de um garantidor.

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Quando vocês participam do esforço para salvar um banco ou achar outro controlador normalmente não é dada publicidade. Isto não é ruim para a imagem do fundo?

Nós não podemos falar sobre os contatos privados até porque nossa função é tirar a percepção de risco da sociedade. E não aumentar essa percepção de risco. Este tipo de informação, de que o FGC está socorrendo uma instituição, se vem a público causa mais problemas, contamina o setor. Não dá para mostrar que o FGC emprestou tanto para o banco X ou para o fundo Y. Isto não ajudaria. Depois de 2008, entre 2010 e 2013, foram vários episódios em que o fundo socorreu bancos. Na pandemia, eu até imaginava que poderia ter problemas, mas foi o oposto. O saldo de depósitos elegíveis saltou de R$ 2,2 trilhões, em 2019, para R$ 4,5 trilhões. Isso mostra que o sistema financeiro bancário brasileiro goza da confiança das pessoas.


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