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“A SulAmérica só joga no mundo do high grade. A gente não desce para o mundo do high yield”
Marcelo Mello,
CEO da SulAmérica Investimentos
Marcelo Mello, CEO da SulAmérica Investimentos

A indústria de fundos de investimentos nos últimos anos sofreu perda relevante de recursos, mas nos últimos meses começou a ensaiar uma recuperação. Uma gestora em particular caminhou na direção contrária e seguiu atraindo recursos dos investidores para seus fundos. É a SulAmérica Investimentos Vida e Previdência, comandada pelo CEO Marcelo Mello. Com uma captação avançando 30% desde o começo de 2023, a asset tem R$ 70 bilhões sob gestão e uma posição invejável em recursos de investidores institucionais, algo perto de 70% do total administrado. Em entrevista à Capital Aberto, o CEO fala sobre a estratégia de navegar no ambiente dos fundos de crédito high grade, diz que não vê os multimercados retornando à atratividade tão cedo e que mudanças regulatórias vão reduzir custos, mas só no futuro.

SulAmérica, “A SulAmérica só joga no mundo do high grade. A gente não desce para o mundo do high yield”, Capital Aberto

O que vocês fizeram como gestores para continuar crescendo mesmo durante o período de saques da indústria de fundos?

A gente investiu muito nas equipes nos últimos três anos. Reforçamos o departamento macroeconômico, o departamento de crédito, área de renda variável e comercial. A gente criou um time quantitativo. Eu acho que essa evolução mais recente é fruto desses investimentos com resultados positivos nos nossos fundos. Como o ambiente macroeconômico contribuiu para um fluxo mais forte nessas estratégias mais voltadas para risco de mercado, renda fixa e crédito privado, como a nossa posição estava muito competitiva, a gente acabou sendo beneficiado. Não deve ser diferente em 2024.

SulAmérica, “A SulAmérica só joga no mundo do high grade. A gente não desce para o mundo do high yield”, Capital Aberto

Os últimos anos foram de intensas mudanças regulatórias, qual o impacto na atuação da gestora?

As novas regulações trazem um pouco mais de apelo para o mercado de crédito, como os papéis de infraestrutura que levam benefício fiscal para o emissor. Tivemos também mudança nos critérios de emissão de papéis incentivados como CRI, CRA, LCA e LCI, que vão fazer com que o investidor busque gestores qualificados para encontrarem opções. Eu acho que 2024 ainda vai ser um ano muito semelhante ao que foi 2023 do ponto de vista de fluxo e a gente deve ver um maior apelo para multimercados e renda variável apenas em 2025.

SulAmérica, “A SulAmérica só joga no mundo do high grade. A gente não desce para o mundo do high yield”, Capital Aberto

Dentro da renda fixa de crédito privado, como o investidor tem se comportado. Está disposto a assumir mais riscos?

O investidor está caminhando em duas direções no mundo da renda fixa. Na direção de risco de crédito, ele está mais no high grade, que é onde a gente joga, a gente não está mais no mundo de high yield. E no outro subsegmento de renda fixa, ele começa a olhar produtos de renda fixa com risco de mercado com juro nominal, juro real, operações de arbitragem, que vão buscar até 120%, 130% do CDI no ano. É uma forma de o investidor contratar risco, mas não via multimercado, ainda dentro da renda fixa. Só em 2025, se a Selic for menor do que neste ano, é que o investidor vai caminhar para o mundo do multimercado, de mais baixa volatilidade, olhando novamente para a renda variável.

SulAmérica, “A SulAmérica só joga no mundo do high grade. A gente não desce para o mundo do high yield”, Capital Aberto

Problemas de crédito de empresas como Americanas e Light contaminam fundos de crédito, mesmo os sem exposição aos ativos. O que pode ser feito para não ter esses sustos como estes no crédito privado?

Acho que primeiro tem uma premissa importante de educação do investidor que não pode ser negligenciada. O risco de crédito tem risco. Independente se você está no crédito high grade ou no crédito high yield, tem um risco a ser considerado. Por isso que na nossa opinião faz todo sentido uma boa diversificação. Acho que um ponto importante que é o nosso posicionamento na SulAmérica é só jogar no high grade. A gente não desce para o mundo do high yield justamente porque acha que tem oportunidade no mundo do high grade, mas como você bem mencionou, o crédito também é uma estratégia dinâmica que exige uma gestão dinâmica. Na nossa visão, produto de crédito privado não pode ser aquele produto que você compra um ativo e senta em cima. Você precisa ter uma gestão dinâmica no mercado secundário, no mercado primário, eventualmente fazendo reposicionamento de carteira. A gente tem uma estrutura de crédito bastante grande, reforçada, para poder olhar o mercado secundário, mercado primário, girar a carteira, fazer leitura do que pode estar acontecendo, o que faz mais sentido estar posicionado, entendendo que pode aumentar ou diminuir o caixa, que é uma estratégia de posicionamento.

SulAmérica, “A SulAmérica só joga no mundo do high grade. A gente não desce para o mundo do high yield”, Capital Aberto

E a liquidez de alguns fundos, muito alta, alguns D0, outros D10, mas com ativos de muito risco na carteira, não é um problema em momentos de estresse?

Eu acho que a indústria continua demandando produtos com liquidez curta. Isso é um problema, sem dúvida nenhuma, de educação mesmo. É fazer o investidor entender que o produto com liquidez diária não é necessariamente o melhor produto. Porque para você ter liquidez diária, um produto de crédito, você precisa ter mais caixa, você precisa ter ativos mais curtos. E ativos mais curtos vão remunerar menos do que um ativo médio, de duration média. Eu não acho que os produtos hoje estejam descalibrados em relação à carência. O que eu acho é que como o investidor ainda demanda produtos com carências muito curtas, o nível de caixa dos produtos e a redução do duration médio dos fundos acaba deixando o prêmio na mesa.

SulAmérica, “A SulAmérica só joga no mundo do high grade. A gente não desce para o mundo do high yield”, Capital Aberto

Já dá para visualizar um horizonte em que investidores aceitem produtos de prazo maior e os gestores tenham este espaço para gerir as carteiras com mais conforto e buscando maior rentabilidade?

Eu acho que sim. Vamos pegar agora os papéis de infraestrutura que vão levar o benefício fiscal para o emissor. Esses papéis vão ter que ter um prazo mínimo, acho que são de 5 ou 7 anos ou menos agora. Para você ter um ativo num fundo que tenha 7 anos, por exemplo, você não pode ter liquidez diária. Em adição a isso, se a gente continua vendo fluxo para crédito, obviamente que os spreads vão continuar fechando. E aí, o investidor vai capturar spreads mais elevados em prazo médio de carteira mais elevado. O investidor vai ter que estar mais disposto a comprar produtos com fluxos mais elevados. Está caminhando, não na velocidade que a gente gostaria.

SulAmérica, “A SulAmérica só joga no mundo do high grade. A gente não desce para o mundo do high yield”, Capital Aberto

Qual sua avaliação das novas debêntures de infraestrutura, cujo incentivo é para o emissor do papel e não mais o investidor?

Primeiro os papéis incentivados, cujo incentivo é para o investidor, vão continuar sendo emitidos. Já nos de infraestrutura, a gente tem um novo comprador destes ativos, que até então estavam fora desse mercado, que são os investidores institucionais, que já são isentos do imposto de renda, portanto, não se sentiam tão motivados a comprar um papel incentivado. Além deles, as próprias pessoas físicas que olhavam os papéis incentivados para elas, mas, dependendo da taxa, mesmo comprando um ativo que ela vai ter que pagar imposto de renda, esse ativo pode vir com uma taxa competitiva. Eu acho que esse novo ativo que vem para o mercado, ele não é só para o público nacional, é para o público em geral. E eu acho que vai ter apelo e pode ter uma demanda interessante com o ativo de longo prazo, com o ativo de infraestrutura, com o ativo que tem tudo a ver com o crescimento do país.

SulAmérica, “A SulAmérica só joga no mundo do high grade. A gente não desce para o mundo do high yield”, Capital Aberto

Na pandemia, o tema ESG ganhou muita relevância, mas neste ano passou a ser questionado, quando o assunto é produto de investimento. Como você entende este momento em que gestoras como a BlackRock de certa forma põe de lado o termo ESG?

Eu acho que, primeiro, tem uma questão, que é a forma como você enxerga ESG no seu processo de investimento. Uma coisa é você enxergar ESG como fatores mitigadores de risco, que é a forma como a gente enxerga. Necessariamente, a gente precisa sensibilizar o nosso portfólio com os fatores ESG, porque a gente acha que isso nos ajuda a mitigar algum risco potencial ambiental, social ou de governança. É uma obrigação fiduciária nossa. Isso vem antes de qualquer percepção de que esse approach vai gerar mais resultado. Na prática, deveria gerar, porque se eu acho que isso vai mitigar algum risco potencial, no tempo isso vai me ajudar. O que a gente vê na Europa, por exemplo, é uma visão muito madura de investimentos ESG. Ninguém questiona. Nos Estados Unidos, nos Estados republicanos, é um questionamento em cima de visões mais ortodoxas, digamos assim. A gente aqui na América do Sul, em todo o nosso processo, a gente considera os fatores ESG, mas a gente não tem um filtro negativo. A gente tinha um filtro negativo até 2009 que era quando a gente penalizava quem não seguia os nossos incentivos, mas a gente não beneficiava quem fazia uma evolução. Fomos evoluindo. E hoje, cada empresa tem o seu score final, a gente compara o score final dessa empresa com o score do setor, e a gente procura dar mais alocação para aquelas empresas que tem scores mais elevados.

SulAmérica, “A SulAmérica só joga no mundo do high grade. A gente não desce para o mundo do high yield”, Capital Aberto

A CVM vem promovendo mudanças regulatórias importantes, com a 175, 179, 160 entre outras medidas. Qual o principal impacto no mercado?

As regras dão mais transparência para todos os clientes do mercado, principalmente os investidores, para que eles entendam quanto cada stakeholder está ganhando de comissão, de remuneração. Acho que isso é um golaço porque eu acho que torna esse ambiente mais saudável. Então, esse ponto da transparência é importante. No ponto do equilíbrio de responsabilidades. Até a CVM 555 existia ainda um desequilíbrio da responsabilidade do administrador, do gestor, do custodiante e do distribuidor. Acho que isso também ajuda. E o último ponto é a modernização. A criação de classes e subclasses é importante. Vai na direção correta e a indústria brasileira já era uma das indústrias mais envolvidas no mundo. Teremos menos produtos, fundos, tudo mais racional. Haverá uma redução de custo, porém não será imediata, virá com o tempo.

SulAmérica, “A SulAmérica só joga no mundo do high grade. A gente não desce para o mundo do high yield”, Capital Aberto

Outras mudanças importantes foram na tributação de fundos exclusivos fechados e em fundos de previdência exclusivo, promovidas neste ano. Qual o impacto?

Acho que tem alguns pontos. O primeiro é que, quando o governo fechou a porta do fundo exclusivo fechado e trouxe o come-cotas, eles tinham R$ 700 bilhões. Eu não achava que ia ter uma migração enorme para a previdência aberta, até porque uma boa parte dos ativos que estavam dentro desses fundos exclusivos fechados já tinham algum tipo de alíquota diferenciada. Então, o que a gente achava que iria acontecer é o investidor desmembrando os produtos, separando os ativos e capturando esse benefício fiscal. O que o governo fez de acabar com a possibilidade da criação de fundos exclusivos de previdência, na minha visão, foi um movimento acertado. Porque traz para o mundo da previdência só quem, de fato, pensa no longo prazo. Não traz aquele investidor que está buscando só o benefício fiscal. Isso é muito mais saudável. Não tinha por que o governo deixar essa porta aberta, na minha opinião.

SulAmérica, “A SulAmérica só joga no mundo do high grade. A gente não desce para o mundo do high yield”, Capital Aberto

Dá para manter o forte crescimento da operação? A SulAmérica segue buscando peças no mercado?

Hoje, a nossa maior preocupação é com a qualidade do nosso portfólio, menos com o crescimento, crescer mais do que a indústria ou crescer em relação ao que a gente tem de produtos. A gente continua reforçando os times, lançando novos produtos, mas não temos uma meta de crescimento de volume. A nossa meta é continuar competitivo. Trouxemos profissionais como Nathalia Cataldo, head de Distribuição e vinda da Garde, o Mário Amigo, para a distribuição, que era da Nordea, o Gilberto Nagai, para a área de renda variável, entre outros. A gente está olhando agora, por exemplo, uma posição para a área de infraestrutura, para fundos de infraestrutura.


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