Cautela é a palavra-chave nos mercados globais, que estão à espera da divulgação da leitura de maio do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos e da reunião do Federal Reserve (Fed), nesta quarta-feira (12). Após os índices S&P 500 e Nasdaq baterem recordes no começo da semana, ontem a NYSE recuou 0,66% e a bolsa de tecnologia caiu 0,62%. O mercado local também foi marcado por revisão das expectativas após o IPCA de maio mostrar uma inflação de 0,46%, uma aceleração em relação a abril (0,38%).
Se no mercado americano a expectativa é pelo comunicado do Fed, que pode dar pistas de quando pode começar o início de corte nos juros, no Brasil a visão de que haveria novo corte pelo Comitê de Política Monetária (Copom) caiu por terra, após a aceleração do IPCA em maio. O diferencial de juros entre os dois mercados é um importante drive para investidores globais decidirem onde alocar os recursos. Nos EUA, o juro está na faixa de 5,25% e 5,50% ao ano, com um juro real na casa de 2,08%, descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses. No Brasil, segundo cálculos do MoneYou, o juro real está em 6,54%.
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“O Copom toma como relevante a ancoragem das expectativas e não a inflação corrente. O resultado desta terça não melhora a dinâmica do IPCA”, comenta em relatório o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves. “Nos EUA, uma super quarta-feira com CPI de maio e Fomc, com atualização das projeções econômicas dos membros do comitê, além da entrevista de Powell.” A tendência, segundo Gonçalves, é que o Fed mantenha a taxa básica de juro e peça “mais tempo para buscar mais segurança sobre a trajetória da inflação”.
Reflexos na renda variável
Na Bolsa brasileira, que está em queda ao longo de 2024, a recuperação esperada não deve vir no curto prazo, já que a Selic mantida em 10,50% estimula a renda fixa. “De fato, acho que essa expectativa de que o Copom pause o juro em 10,5% na próxima reunião já tem tido um impacto no mercado de ações”, diz Jennie Li, estrategista de Ações da XP, lembrando que no ano passado o mercado local se beneficiou do ciclo de corte de juros, enquanto no exterior não se via muita clareza sobre quando esse ciclo começaria.
“Ao longo desse início de 2024, a gente começou a ver um cenário externo um pouco mais adverso com expectativas em relação ao primeiro corte pelo Fed sendo cada vez mais adiada para depois. Internamente outros fatores domésticos também pressionaram a Bolsa”, conta Jennie, acrescentando que a política fiscal, um Copom mais duro e o IPCA reforçam a visão de juro mantido em dois dígitos.
“Acho que esse cenário de juros mais altos não somente por aqui, mas lá fora também prejudica a volta forte dos IPOs.” Neste cenário, Jennie lembra que as small caps têm sido mais penalizadas do que o próprio Ibovespa. “Empresas domésticas que são mais sensíveis a juros também”.
Dólar pressionado
A procura por dólar, seja no mercado à vista ou futuro, foi reforçada ao longo deste mês, o que levou a moeda a subir 0,06%, a R$ 5,3597 no spot ontem. Só nos 11 primeiros dias de junho, a moeda acumula elevação de 2,07%. Na segunda-feira (10), o dólar chegou a bater em R$ 5,3887, em um dia de forte volume de negociações, o maior desde 19 de abril. “A previsão para câmbio é bastante volátil e tem algumas incertezas que a gente não tem como antecipar”, ressalta Leonel Oliveira Mattos, analista de Inteligência do Mercado especializado em câmbio da StoneX. “A moeda sobe desde o dia 15 de abril, principalmente pela perda de credibilidade da política fiscal, o que também colabora para que o BC mantenha o juro alto.”
Para o especialista, se o governo não reagir ao dólar alto, tentando recuperar a credibilidade, a moeda tende a seguir no patamar alto até 2025, algo que também dificulta o combate à inflação. “O próprio Banco Central pode atuar, não para definir um patamar para o dólar, mas para evitar excessos de volatilidade”, explica Mattos, lembrando que o dólar alto afeta o combate à inflação e a perspectiva de rendimento dos investidores externos. “Por mais que a gente tenha instrumentos financeiros, como cupom cambial, para que a pessoa possa ter uma previsibilidade maior, essa volatilidade acaba atrapalhando quem busca um investimento de maior prazo.”
Ontem, o mercado de câmbio foi bem menos intenso do que na véspera. Um dos motivos, destaca o especialista da StoneX, foi o compasso de espera pela decisão do Fed e a inflação americana.
Fundos de Investimentos
A indústria de fundos de investimento, que perdeu recursos nos últimos anos, vinha se recuperando em 2024. Maio, contudo, foi de saída líquida de recursos, de R$ 8,8 bilhões, o primeiro mês no vermelho este ano. A perspectiva de Selic estável não ajuda os fundos de ações e multimercados, em especial, os que mais têm sofrido resgates.
“Para a indústria de fundos, a possibilidade do fim dos cortes na Selic, mantendo os juros em um patamar ainda alto, afeta o apetite por risco dos investidores, o que contribui para retiradas em classes de fundos mais arrojadas, como ações e multimercados. Por outro lado, os fundos de renda fixa tendem a ser uma opção para o investidor”, afirma Soraia Barros, gerente-executiva de Gestão de Recursos e de Serviços Fiduciários da Anbima.
Apesar disso, a visão da Anbima é que a indústria de fundos vive um momento de recuperação, com resultados positivos puxados principalmente pela classe de renda fixa. Na visão de Soraia, se os juros continuarem nos patamares atuais, esse tipo de fundo deve continuar se destacando.
Além disso, a menor oferta de títulos isentos por causa das restrições impostas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) tende a manter os fundos de investimentos como uma alternativa interessante para diversificação dos investimentos.
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