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Mercado se posiciona para o “risco Trump” e mantém dólar pressionado
Moeda norte-americana parece ganhar cada vez mais força como hedge com a desvalorização do real e expectativa sobre os próximos passos do Fed, enquanto ETFs de ouro sofrem com realizações
dólar, Mercado se posiciona para o “risco Trump” e mantém dólar pressionado, Capital Aberto

Diante de um cenário mundial de alta da inflação e incerteza sobre o corte dos juros nos Estados Unidos pelo Federal Reserve, que tem norteado o rumo dos investimentos e da política monetária de diversos outros países, ativos de proteção (hedge), como dólar e ouro, voltam a atrair a atenção do mercado. O ano eleitoral nos EUA, com possibilidade uma disputa acirrada entre Donald Trump e Joe Biden, também pesa, especialmente sobre o dólar. A demanda por ouro no 1º trimestre, excluindo o mercado de balcão, caiu 5% na comparação anual para 1.102 toneladas, devido às contínuas saídas de ETFs, segundo levantamento do World Gold Council. No entanto, incluindo a compra no balcão, a demanda total de ouro aumentou 3% ano a ano, para 1.238 toneladas – o primeiro trimestre mais forte desde 2016. 


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“Durante grande parte do trimestre, os investidores pareceram concentrar-se na resiliência do mercado de trabalho dos EUA e nos resultados de inflação mais quentes do que o esperado, o que empurrou ainda mais as expectativas de corte das taxas. A força do mercado acionista desviou ainda mais a atenção dos investidores do ouro”, diz o relatório do World Gold Council, justificando as saídas dos ETFs lastreados na commodity. As participações globais em ETFs de ouro diminuíram em 114 toneladas no primeiro trimestre (queda de US$ 6 bilhões) e o investimento via mercado balcão, de 136 toneladas, foi um dos principais contribuintes para a procura total e para o preço do ouro atingir níveis recordes em março.

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Dierson Richetti, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, aponta que o ouro vem subindo gradativamente desde o início da guerra da Rússia e da Ucrânia. “Nos últimos meses essa alta veio acontecendo por conta de alguns motivos como os conflitos mundiais, Rússia e Ucrânia, Israel e Hamas, conflitos em áreas de tráfego de navios, uma possível recessão americana, a falta de controle da inflação nos Estados Unidos. Isso gera uma aflição, uma aversão ao risco. Por isso, as pessoas optam em buscar uma referência, que é o ouro”, diz o especialista. “100 gramas de ouro vai ser sempre 100 gramas de ouro. Estamos muito em busca desta questão de proteção, principalmente pela aversão ao risco. Hoje a cotação da grama do ouro está em torno de R$ 380 e ela não sai deste patamar para R$ 200 da noite para o dia. Ela pode até vir subindo, mas essa alta é gradativa, um pouquinho a cada dia.”

Ainda segundo o World Gold Council, o investimento em ouro no primeiro trimestre, excluindo o mercado balcão, caiu 28% ano a ano. A força no investimento total em barras e moedas é atribuída à procura dinâmica de pequenas barras de ouro, compensada por uma queda na procura de moedas de ouro que reflete, em parte, uma divergência no comportamento de investimento entre o Ocidente e o Oriente, evidente em todas as áreas de investimento em ouro durante o trimestre: a realização de lucros por parte dos investidores ocidentais contrastou com a procura de investimento, em grande parte unilateral, na Ásia. 

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“Os ETFs de ouro globais registaram um oitavo trimestre consecutivo de saídas. Apesar de uma queda de 114 toneladas nas participações em ETF, os ativos sob gestão (em dólares americanos) atingiram o seu valor mais elevado em quase dois anos, com US$ 222 bilhões, graças ao forte desempenho do preço do ouro”, diz o documento.

Embora a procura via mercado balcão não seja diretamente observável, o posicionamento de investidores especulativos no mercado futuro dos EUA pode ser um indicativo de que as posições longas líquidas detidas por gestores de recursos registaram um aumento acentuado ao longo de março e atingiram o seu nível mais elevado em dois anos, em cerca de 540 toneladas. “Observaram-se movimentos comparáveis nos mercados de futuros chineses no final do trimestre e, de forma mais significativa, em abril. Semelhante às mudanças relatadas no ano passado, o volume via mercado balcão também incorporou compras por indivíduos com elevado patrimônio líquido em vários mercados, bem como uma saudável acumulação de stocks em mercados em toda a Ásia.”

Dólar brilha

Enquanto os ETFs de ouro sofrem com as realizações, o dólar parece ganhar cada vez mais força. Alexandre Viotto, head de banking e câmbio da EQI Investimentos, aponta que a exposição ao dólar futuro tem aumentado, principalmente em fundos e ETFs.

“O que a gente tem visto mês após mês é que as apostas na B3 para uma valorização do dólar, quer dizer, uma desvalorização do real, vêm aumentando. Isso diz muita coisa. E o que as empresas têm feito? Elas têm se posicionado fazendo um hedge cambial, principalmente”, diz Viotto. “Temos visto isso na nossa mesa, os importadores ou as empresas que têm obrigação em dólar, fazendo o NDF, que é a compra do dólar futuro, ou fazendo só a cambial, trocando as dívidas que estavam em dólar por uma dívida em reais.” 

Além dos fundos e ETFs para os investidores que costumam buscar proteção do dólar, a EQI observou que as empresas com obrigações futuras em moedas estrangeiras, têm feito mais hedges do que faziam no ano passado. “Esse é um movimento que a gente tem visto e deve se intensificar no segundo semestre, na nossa opinião.”

Outro fator que levou à revisão de expectativas sobre o dólar é que a moeda brasileira perdeu força em relação a outras devido ao diferencial de juros. O Brasil tinha o diferencial da taxa de juros local, o carry trade, que estava muito maior do que agora. O prêmio de risco que havia antes para o investidor colocar dinheiro no Brasil, um país que está relativamente arrumado, mas com uma taxa de retorno muito grande, começou a diminuir em relação a outros países como Turquia, África do Sul e México, que começaram a ficar um pouco mais atrativos, fazendo o real sofrer.

Frente a essa desvalorização da moeda brasileira e uma expectativa com relação aos cortes do Fed, que podem nem acontecer este ano, as perspectivas para o dólar são muito mais altistas do que baixistas. Dessa maneira, a exposição em dólar futuro tem aumentado para os diversos investidores que buscam proteção. 

No Brasil, a princípio, a previsão para o dólar no começo de ano era queda. “A expectativa era bater R$ 4,50, mas em virtude dos acontecimentos, tanto internos, da política, quanto externos, dos juros nos Estados Unidos no curto prazo não caírem, acabou que virou, e a expectativa para o dólar, pelo menos até o final do ano, a menos que aconteça alguma coisa, é muito mais altista do que baixista, e isso favorece a moeda, os juros, tanto que o Banco Central está fazendo com que a Selic caia mais lentamente agora, o que enfraquece a Bolsa no curto prazo”, comenta Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos, empresa de educação financeira.

Com relação ao exterior, a moeda também ganha força. “Teremos agora a queda do euro na próxima reunião, a princípio em junho, quando finalmente Christine Lagarde, presidente do  Banco Central Europeu, deve iniciar os cortes, antes dos Estados Unidos, em virtude dos dados macro vindo bem melhores, principalmente a inflação, inicialmente com um controle maior, e com isso o dólar acaba se fortalecendo no mundo, juntamente com os índices norte-americanos, S&P, Dow Jones, temos a moeda norte-americana favorecida no mundo”, aponta Cohen.

Expectativas e o “risco Trump”

Para Viotto, da EQI, apesar do Focus desta segunda-feira (20) ter apontado dólar a R$ 5,04 para o final do ano, essa visão é um pouco otimista. A casa espera mais volatilidade ainda para o segundo semestre, justamente por causa da eleição nos EUA. 

“A gente está com o real contra o dólar operando acima de R$ 5,10 há um tempo. A nossa mesa de câmbio acredita em dólar a R$ 5,30, R$ 5,40 nos próximos meses. Com a eleição norte-americana por vir, a tendência é que o dólar fique um pouco mais agitado, um pouco mais volátil no segundo semestre”, diz o head de banking e câmbio.

Viotto acredita que o “safe haven” dos norte-americanos deve continuar se valorizando e relembra o fenômeno que ocorreu quando o ex-presidente dos EUA Trump foi eleito, em que commodities e dólar, ativos comumente inversamente proporcionais, subiram de preço ao mesmo tempo por cerca de três ou quatro meses, até normalizarem. Quando Trump assumiu, com a ideia do America First, a promessa era investir em infraestrutura. Como o mercado americano compraria mais ferro, mais commodities para fazer esses investimentos, as commodities subiram de preço. Quando ele assumiu e não conseguiu implementar a política do jeito que queria, a situação se inverteu. O especialista comenta que o ex-presidente dos EUA começou a ser mais protecionista contra a China e outros lugares, e que o dólar seguiu forte enquanto as commodities caíram, também impactando negativamente o Brasil.

“Digamos que de fato o Trump seja eleito, é bem provável que ele venha com uma ideia parecida. Como o mundo vive em ciclos e eles costumam se repetir, minha impressão é que se ele for eleito, começar a disparar nas pesquisas quando a campanha começar a pegar, é provável que o dólar se valorize mais, por conta desse risco Trump”, diz Viotto, da EQI Investimentos. “Pode ser que no ano que vem, se tivermos uma condição fiscal um pouco melhor, o dólar possa ficar ao redor de R$5 e alguma coisa, até abaixo disso. Mas eu não vejo, pelo menos o que a gente tem de cenário agora, acho bem difícil ter dólar com tendência de baixa, acho que a tendência é de valorização.”


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