Volta ao mundo
Gestores de fundos aproveitam o encantamento com Brasil para ampliar a sua clientela internacional

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Em março de 2010, aterrissou em Nova York um grupo de brasileiros formado por Hermínio de Freitas e Genaro Oddone, presidentes das companhias Providência e da Tegma, respectivamente; Marcelo Audi, economista do banco Santander; e Fernando Camargo Luiz, Fábio de Carvalho, Flavio Adorno e Mathias Wagner, sócios da Orbe Investimentos. O motivo da viagem foi o primeiro evento realizado pela gestora de recursos paulista em solo norte-americano com objetivo de captar clientes estrangeiros para o fundo Orbe Brazil Fund. O saldo do encontro, que reuniu 60 investidores em um hotel de Manhattan, foi comemorado no fim da manhã do dia 9 daquele mês. A Orbe faz parte de um time de gestoras de fundos que, além de dar as boas-vindas aos estrangeiros, foi buscá-los por conta própria.

Com o fluxo de capitais direcionado ao Brasil, investidores externos querem estreitar os laços com gestores locais. Antes acomodados em fundos referenciados em índices, agora eles procuram profissionais com uma postura ativa. O objetivo é se aproximar de quem conhece profundamente a dinâmica de um dos mercados emergentes mais relevantes do mundo atual. Sabendo disso, a Orbe passou dois anos cultivando relacionamentos com representantes de instituições de fora do País e decidiu reuni-los no mesmo lugar, em Nova York. A presença de executivos de empresas investidas e de um economista se deveu à estratégia de mostrar não só a visão da gestora sobre o Brasil, mas também de players locais. “No Brasil, o investidor olha basicamente para o retorno do fundo. Lá fora, querem saber qual a sua relação com o resto do mercado, o percentual do float que você tem de determinado papel, o que fazem as outras gestoras”, compara Fernando Luiz, sócio da Orbe.

Desde o início da captação do Orbe Brazil Fund, em 2007, a gestora vem dobrando o número de aplicadores de outras nacionalidades ano a ano. De 2010 para 2011, a expectativa é pular dos cerca de 50 atuais para mais de cem. Para Luiz, o modelo “anticíclico” — ou seja, de comprar quando o mercado cai — tem sido o chamariz da gestora. “O investidor estrangeiro entende isso muito melhor que o brasileiro. Por isso faz todo sentido buscarmos esse tipo de cliente”, aponta.

MAPA AMPLIADO — As gestoras de fundos aumentam não só a quantidade de contatos com o exterior, mas também a diversidade de territórios explorados. No ano passado, a paulistana Capitânia foi procurada por um fundo soberano do Oriente Médio para participar do processo de seleção de gestores para um portfólio de ações de companhias brasileiras. Empolgada, a Capitânia não só entrou no processo de “due diligence”, que já dura quase um ano, como lançou em 2010 o Capitania Equity Strategies Fund, seu primeiro fundo offshore dedicado a papéis verde-amarelos. O fundo acumula um volume de US$ 15 milhões, proveniente de oito investidores.

Antes, o País estava dentro de América Latina e emergentes; hoje, é visto separadamente como opção de investimento

Entre 2003 e 2007, antes da crise, participar de fundos indexados foi uma solução cômoda e eficaz. O mercado brasileiro estava barato, e era fácil acompanhar o movimento de alta da BM&FBovespa por meio de gestores globais baseados na Europa ou nos Estados Unidos. Não era necessário garimpar produtos específicos para se obterem ganhos maiores. “Hoje, com o Ibovespa perto de 70 mil pontos, não é mais tão claro que o índice terá uma valorização estupenda”, explica Ricardo Quintero, presidente da Capitânia.

Seu fundo voltado ao mercado externo tenta replicar o portfólio do doméstico Capitânia Equities FIC-FIA. Criado em 2007, quando a Bolsa rondava os 50 mil pontos, acumulou 115% de rentabilidade, enquanto o Ibovespa, no mesmo período, subiu em torno de 25%. O que distingue os dois produtos é a prioridade dada pelo fundo offshore aos recibos de ações brasileiras negociados nos Estados Unidos (ADRs). Essa preferência existe para evitar o custo do imposto sobre operações financeiras (IOF), que encarece a entrada direta de dólares no Brasil.

CARREIRA SOLO — O uso de veículos espelhos também é a estratégia da Leblon Equities, do Rio de Janeiro. Fundada em 2008, logo no início recebeu dinheiro de um investidor norte-americano no fundo offshore criado em outubro, um mês depois do lançamento de seu primeiro fundo. Hoje, 60% dos US$ 250 milhões sob gestão vêm de fora. Essa proporção reflete a mudança da visão internacional sobre o mercado brasileiro, salienta Pedro Rudge, um dos sócios-fundadores da asset. “Estados Unidos e Europa não são mais, necessariamente, uma solução adequada para o investidor focado em retorno. Com tudo o que tem por acontecer no Brasil, somado a investment grade, políticas consistentes, transparência e credibilidade da regulação, fomos elevados a uma nova classe de ativos”, afirma. Antes, o País estava dentro de América Latina e emergentes; hoje, é visto separadamente como opção de investimento.

De acordo com Laura Tostes, responsável pela área comercial da Leblon Equities, os estrangeiros expostos a Brasil através de gestores globais estão migrando para fundos offshore geridos por casas nacionais. “Ter pessoas dedicadas localmente é mais eficiente para aumentar os retornos”, assegura. Outra mudança está no perfil do investidor. Laura observa que, há alguns anos, lidar com renda variável no Brasil era coisa para aplicadores de curto prazo, principalmente hedge funds e alguns especuladores. Hoje, os nomes mais importantes são de longo prazo, como fundos de pensão, por exemplo.

A Fama Investimentos é outra que percebe a maior abertura internacional para firmas brasileiras. Voltada a small caps, com foco em governança e de longo prazo, a gestora mira o investidor estrangeiro, geralmente mais alinhado com esse tipo de estratégia. Atualmente, 55% do patrimônio de R$ 1,6 bilhão administrado pela firma de São Paulo é procedente de outros países. Mas não foi sempre assim. Foram anos de espera — mais precisamente, desde 2005 — até a casa ver o apetite externo se converter em clientes de peso. Entre 2009 e 2010, o volume de recursos externos cresceu 10%.

De acordo com Maurício Levi, sócio da Fama, o investidor estrangeiro institucional é bastante criterioso, por isso a captação se torna um processo longo. A rotina passa pelo esforço de conseguir um acesso, tentar marcar uma reunião, e conseguir apresentar uma estratégia. Quando há interesse pelo produto, inicia-se uma etapa árdua de due diligence, que avalia desde gestão, portfólio e sistemas operacionais até segurança de informação e backup. “Nenhuma decisão é tomada rapidamente quando se trata de investidor estrangeiro”, afirma.

Apenas no início desse processo, a GAP Asset Management se aliou a parceiros para atingir o público internacional. Neste ano, a gestora entrou na lista de dois “financial advisors” — um em Londres e outro em Nova York — que auxiliam investidores institucionais a alocar recursos no Brasil. E também negocia sua inclusão na cesta de outra consultoria especializada no mercado latino-americano. A aposta da GAP é captar seus primeiros clientes estrangeiros ao longo de 2011. José Eduardo Louzada de Araújo, sócio da casa, explica que os parceiros funcionam como um funil. “O investidor quer um gestor de determinado produto, a consultoria seleciona dentro de seu portfólio de gestores os que considera mais adequados e coloca os dois em contato.”

A Bawm Investments, um multifamily-office que ajuda investidores a escolher gestores no Brasil, tem percebido na prática o interesse de clientes internacionais por assets nacionais. Em um ano, a Bawm viu quintuplicar o número de investidores estrangeiros atendidos pelo serviço de consultoria. “Isso vem desde o fim da crise. A procura aumentou, especialmente para os casos de fundos voltados para a Bolsa e para crédito”, diz o sócio da Bawm George Wachsmann, citando os fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs).


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