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Virada enérgica
Depois da moratória em 2003, Light muda o controle, reestrutura dívida e volta a ter luz própria

Há praticamente um ano, na tarde do dia 13 de fevereiro de 2008, a Light ressurgia, triunfante, de um modorrento inferno astral. A distribuidora que leva energia elétrica a 3,8 milhões de clientes em 31 municípios do Rio divulgava o sepultamento de um prejuízo de R$ 150,5 milhões, ao anunciar lucro de R$ 1,07 bilhão. Foi um brinde espetacular: comemorava-se, afinal, o melhor resultado da companhia em 12 anos. Mais do que tirar o balanço do vermelho, o ganho deixava evidente que a virada financeira da Light não era apenas uma promessa feita por seus novos donos. Era real. Depois de nove anos, os dividendos — R$ 721 milhões — voltaram a ser distribuídos aos acionistas.

Era um figurino novo para vestir uma empresa velha. Com seus mais de 100 anos, a Light teve uma trajetória digna de enredo de novela. Foi privada, estatal e privada. Subiu ao céu e desceu ao inferno. Teve donos com nacionalidades diferentes — canadenses, franceses, americanos e brasileiros. Ao longo dos anos, operou em atividades bem distantes da sua atual realidade. Era dona, quem diria, dos bondes que transportavam passageiros dentro da “Cidade Maravilhosa”. Foi precursora no lançamento do ônibus elétrico que percorria a famosa Avenida Rio Branco e circulara até 1927. E, também, a criadora da Viação Excelsior, que trouxe a inovação ao lançar os moderníssimos ônibus com cobrador e, logo depois, os ônibus de dois andares, apelidados pelo carioca de “chope duplo”. Além do transporte — seja de passageiros, seja de energia elétrica —, a companhia operou, ainda, na área de telefonia. Mas tudo isso foi há muito tempo.

O mais recente e importante capítulo da sua história secular vem sendo escrito desde 11 de agosto de 2006, quando a Light deixou de ser controlada pela Electricité de France (EDF) e foi arrematada pelo consórcio Rio Minas Energia (RME) — formado pela estatal mineira Cemig, a Andrade Gutierrez, a Equatorial Energia e a Luce do Brasil —, dono de 52% do capital total. “No dia em que foi comprada, a ação estava cotada a R$ 15 na bolsa, e os novos donos pagaram R$ 6”, recorda Ronnie Vaz Moreira, vice-presidente de Relações com Investidores (RI). “Hoje está a R$ 23, mas pode bater em R$ 36 ou R$ 38, como já ocorreu no passado”, emenda o executivo, que já foi diretor financeiro da Petrobras e presidente da Globopar.

Sua contratação, aliás, faz parte da estratégia de reestruturação comandada pelo sempre gentil José Luiz Alquéres, ex-presidente da Eletrobrás e atual presidente da Light. Quando capitaneou, pessoalmente, a aquisição da Light, Alquéres (que também já comandou a francesa Alstom) tinha planos de formar uma equipe de ponta para tocar a empresa. Além de Moreira, ele contratou Roberto Alcoforado, ex-presidente da Celpe, e Paulo Henrique Born, ex-vice-presidente da Duke Energy.

Com esse time, Alquéres pôs em prática um plano de gestão com 14 grandes frentes de ação — equacionamento de dívida, aumento da arrecadação, renegociação de recebíveis do setor público, dentre outras. Uma das principais, porém, foi mudar a estrutura da dívida, cara para uma empresa que, em 2003, no pior momento de sua crise financeira, deixou de honrar quase meio bilhão de reais em compromissos com um pool de bancos privados. Era o primeiro calote da Light e o segundo de um setor que agonizava, ainda com rescaldo do racionamento de energia elétrica de 2001. Antes da Light, a AES, dona da distribuidora Eletropaulo e da geradora AES Tietê, havia dado um “default” de US$ 1,2 bilhão. Moreira lembra que 55% da dívida estava denominada em dólar. Hoje, apenas 4% estão em moeda estrangeira. O valor e os prazos para pagamento também diminuíram. Passaram, respectivamente, de R$ 2,53 bilhões em dezembro de 2006 para R$ 1,37 bilhão em setembro de 2008, e de 5,4 anos para 3,5.

Os resultados se refletiram nos últimos balanços. No terceiro trimestre de 2008, a distribuidora teve um lucro líquido de R$ 207,8 milhões, ante um ganho de R$ 50,01 milhões em igual período do ano anterior. No acumulado dos nove meses, a soma sobe para R$ 697 milhões, contra R$ 578 milhões. A receita líquida, no terceiro trimestre de 2008, foi de R$ 1,3 bilhão, um crescimento de 11,1%. E o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações) totalizou R$ 364 milhões, alta de 46% em comparação com o terceiro trimestre de 2007. A melhora de números se deve a uma conjunção de fatores, incluindo a própria reestruturação e a expansão do mercado, mas também ao fato de a Light ter revertido provisões no segundo e no terceiro trimestre do ano. As despesas financeiras caíram de R$ 132,5 milhões para R$ 106 milhões no terceiro trimestre de 2008.

A companhia — que também comercializa e gera energia elétrica com cinco usinas (855 MW) — possui uma base de clientes diversificada: 42% da eletricidade vendida em sua rede de distribuição destina-se a atender a demanda de clientes residenciais, 31,8% a clientes comerciais, 9,4% a industriais, e 16,8% a outros. “É, na verdade, como se a companhia estivesse sendo privatizada agora”, compara o executivo. A Light fez parte do pacote de privatização do governo FHC. Foi leiloada na bolsa carioca em 1996 e comprada pela EDF, pela Reliant Energy e pela CSN.

, Virada enérgica, Capital Aberto


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