Uma segunda-feira negra

Pânicos no mercado internacional têm estranha preferência pelo outono no Hemisfério Norte. Foi assim em dezembro de 1914, em outubro de 1929 e de 1987 e em setembro, limiar da estação, de 2001, após o ataque às torres gêmeas, e de 2008, com a quebra do Lehman Brothers.

O ano de 1987 vinha sendo excepcional no mercado de ações norte-americano. Em agosto, o Dow Jones tinha atingido 2.722 pontos, 44% acima do fechamento de 1986. Mas enfraqueceu a partir de então, chegando a 2.246 na sexta-feira, 16 de outubro. Na segunda-feira, 19, a debacle se iniciou na abertura de Hong Kong e Austrália, contaminou as bolsas europeias, eclodiu fortemente em Nova York, reverberou nos contratos de índice de Chicago e atingiu também os pregões de São Paulo e Rio de Janeiro, que ainda existia. Wall Street teve a maior queda percentual de sua história em um único dia: 22,6%, com o Dow Jones retrocedendo para 1.738 pontos. A data de 19 de outubro de 1987 passou à crônica como “Black Monday”, ou seja, “segunda-feira negra”.

Em São Paulo, o Ibovespa, criado em 1968, recuou 16,1%, maior perda em um só dia de toda sua trajetória. Dos 93 papéis que constituíam a carteira teórica, nenhum subiu e 78 apresentaram queda. No Rio de Janeiro, o índice carioca IBV sofreu menos, com uma perda de apenas 12,1%.

Analistas, políticos e economistas buscam interpretações que esclareçam fatos dessa natureza. Formam-se painéis em que se discutem os eventos e se apresentam possíveis causas. O detonador imediato da insegurança na “segunda-feira negra” foi, sem dúvida, um ataque dos Estados Unidos, naquele dia, às instalações petrolíferas iranianas no Golfo Pérsico, o que prenunciaria estado de guerra iminente.

A intensidade e a velocidade da queda foram atribuídas ao automatismo de ordens de venda programadas em computador — mecanismo que já era amplamente disseminado nos Estados Unidos. Mas tal razão não se sustenta. O movimento começou com força nas bolsas de valores de Hong Kong e Austrália, nas quais ordens eletrônicas automáticas não eram usuais nem predominantes. Passou pela Europa e só mais tarde, ao longo do dia, atingiu Nova York.

Observadores habituados a métodos matemáticos não costumam se conformar com explicações fundadas no âmago da natureza humana, as únicas a justificar movimentos como o de 19 de outubro de 1987. Pânicos acontecem, e suas causas, na verdade, são mais ligadas à psicologia de massas do que a tabelas econométricas.


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