Em dezembro de 2000, um grupo de pessoas assistia com certo ceticismo ao lançamento, pela então Bovespa, de segmentos especiais de negociação que prometiam tirar o mercado de capitais brasileiro do fundo do poço, elevando o padrão de governança das companhias listadas. No último dia 25, outra plateia com olhares desconfiados acompanhava a apresentação, conduzida por BM&FBovespa, Anbima e Febraban, de um projeto que almeja alçar o País ao posto de centro financeiro e de negócios da América Latina, “com projeção e conexões globais”. Quem te viu e quem te vê, Brasil. Nove anos foram suficientes para transformar um mercado.
Mas toda mudança carrega uma parte dolorosa. Abrir mão de direitos adquiridos para alinhar-se a padrões internacionais de comportamento tem seu preço. Foi penoso para muitos empresários abdicar de prêmios de controle historicamente elevados e dar direito a tag along para os acionistas minoritários. Agora, está sendo duro para alguns executivos aceitar que seus salários apareçam desnudados nos documentos públicos das companhias para as quais trabalham.
Não é por teimosia que países como Estados Unidos, Alemanha, Austrália, França, Holanda, Irlanda, Itália, Noruega, Reino Unido, Portugal, África do Sul e Índia, para citar apenas alguns, obrigam os principais executivos de companhias abertas a divulgar o valor de seus pacotes de remuneração individualmente. Eles adotam a prática porque consideram esse dado, assim como os muitos outros exigíveis de uma companhia aberta, relevante para investidores fazerem suas análises.
No Brasil, além de um sentimento generalizado de aversão à abertura dos salários, há um movimento de boicote à regra da Comissão de Valores Mobiliários que requer essa transparência. Diversas companhias — algumas consideradas de primeira linha — aproveitaram-se de uma liminar conseguida na Justiça e não divulgaram a informação.
Na matéria de capa desta edição, procuramos analisar, com o apoio de especialistas, as razões para tamanha rejeição à regra. O medo da violência — justificativa mais alegada — é apenas um dentre vários elementos que explicam a reação de nossos executivos.
A reportagem é também um convite para pensar no mercado de capitais que queremos ter. Se o Brasil está mesmo interessado em ser um polo de atração de emissores e investidores, como planeja a Brain, suas companhias e respectivos executivos terão de se expor a mudanças.
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