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Tenda reforçada
Voltada para baixa renda, construtora mostra boa recuperação sob o controle da Gafisa e se beneficia do pacote habitacional lançado pelo governo

Pelos critérios de avaliação desta seção — que, na banda “up” e colorida de azul, se propõe a analisar empresas na crista da onda —, a construtora Tenda jamais surfaria por aqui, ainda mais se o período observado remetesse a agosto de 2008. Em meados do mês que antecedia a marola da crise mundial, a Tenda aproximava-se de naufragar em mares revoltos. O valor do papel caía drasticamente e a sua cotação já era pior do que gorjeta na saída do supermercado. No dia 21 de novembro, chegou ao fundo do poço: R$ 0,76 por ação. Agora, faz jus ao ditado popular, segundo o qual depois da tempestade vem a bonança. Navega tranquila e tornou-se recordista de alta na bolsa entre os seus pares no setor, com valorização de 190% no ano (de R$ 1,16 para R$ 3,71, em 29 de maio).

Ao divulgar o resultado do primeiro trimestre, a empresa surpreendeu positivamente analistas, a exemplo de Eduardo Silveira e Sami Kralic, da Fator Corretora. Embora não enalteça o papel, a dupla revelou que o balanço da Tenda superou as expectativas. Os motivos: forte volume de vendas contratadas, baixo nível de estoque (equivalente a apenas 13 meses de vendas) e reduzida alavancagem financeira — apenas 2% da dívida líquida sobre o patrimônio líquido. Os dois elogiaram, ainda, o “guidance” de vendas entre R$ 1,4 bilhão e R$ 1,6 bilhão e a margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) entre 14% e 16%.

A virada da Tenda começou no ano passado, mas não sem traumas. Depois de agonizar e quase ruir suas estruturas numa sexta-feira negra, a empresa amanheceu na segunda-feira, 1º de setembro, sob o controle da Gafisa, a maior construtora do País. Em uma operação montada às pressas e sem envolver um centavo em dinheiro, o controvertido, impetuoso e jovem empresário Henrique Alves Pinto — que queria fazer da Tenda o “Habib’s da construção” — saiu de cena, tornando-se apenas acionista. Com o caminho livre, a Gafisa, por meio da Fit Residencial, sua controlada e braço que atua no segmento de baixa renda, passou a ser titular de 60% do capital total e votante da Tenda. O mercado reagiu rápido ao negócio e, logo após o anúncio, tanto os papéis da Tenda quanto os da Gafisa disparavam na bolsa, com altas de 30,6% (R$ 4,90) e 10,5% (R$ 25,80), respectivamente.

Na operação, a Tenda incorporou a Fit, da Gafisa, e emitiu um total de 240,4 milhões de papéis. Essas novas ações foram adquiridas pela Gafisa, que se tornou acionista majoritária e controladora da nova empresa — a junção da Tenda com a Fit, ambas voltadas para a construção de baixa renda. Os donos da Tenda, que detinham 51% da empresa, ficaram com 20,3%; os minoritários dispersos na bolsa, com 19,7%. Numa tacada recente, em maio, os ex-donos diminuíram um pouco mais a participação, vendendo ações diretamente ao megainvestidor imobiliário americano Sam Zell. Por meio da Equity International, ele pagou R$ 28 milhões para levar 4,86% do capital acionário da Tenda. Sam Zell já possui 18,7% das ações da Gafisa e, com essa aquisição, passou a morder 11% da Tenda, indiretamente.

Com o negócio, houve novo lustro para as ações da Tenda. Até antes da crise, em agosto, ela era a queridinha dos analistas de bancos de investimentos. Tanto e a tal ponto que, quando as ações ainda estavam na casa dos R$ 11, os mais entusiasmados já previam que batessem R$ 20. O valor de mercado da Tenda, considerada na época a terceira maior do País, chegou a R$ 1,7 bilhão. No fim de maio, com a recuperação recente, esse número se aproximava de R$ 1,5 bilhão.

Mudar de controlador impediu a Tenda — com suas três décadas de vida — de ir à lona da noite para o dia. Mas o pacote habitacional lançado pelo governo Lula, em março, foi o empurrão que faltava para que a companhia, originalmente familiar e de capital mineiro, decolasse novamente. Afinal, o programa “Minha Casa, Minha Vida” prevê a construção de um milhão de moradias, com investimentos de R$ 34 bilhões, para famílias com renda de até dez salários mínimos. A parcela mínima para prestação será de R$ 50, e o valor máximo do imóvel a ser financiado de R$ 130 mil, segundo o governo. O dono de uma construtora que, tal como a Tenda, é voltada para a baixa renda, diz que o projeto muda radicalmente o cenário de todo o setor, e não apenas para aquelas que operam no segmento popular. Até porque, como recorda ele, as construtoras sofreram um duro revés ao longo do ano passado, quando tiveram quedas abruptas nos lançamentos e aumento das dívidas.

No primeiro trimestre deste ano, a geração de caixa da Tenda, medida pelo Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização), cresceu 14,8%, para R$ 23 milhões. Para 2009, no entanto, a companhia espera alcançar margens anuais entre 14% e 16%, com foco contínuo no aumento da velocidade de vendas, mas sem esquecer do controle de custos. Este item, aliado às despesas da Tenda (ambos em ritmo superior ao da receita), fez com que, no primeiro trimestre, a empresa apresentasse recuo de 37,1% no lucro líquido. Este passou de R$ 17,55 milhões para R$ 11,04 milhões. Ainda utilizando-se a mesma base de comparação, a receita operacional líquida somou R$ 206,7 milhões, expansão de 32,3%. Os custos operacionais cresceram 41,2%, para R$ 138,5 milhões, devido à expansão no volume de unidades vendidas e em construção. Já as despesas subiram 51,5%, para R$ 51,2 milhões.

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