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Inflação e fatores externos voltam a atrapalhar previsões para o Ibovespa

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Em fevereiro, o dragão da inflação deu uma amostra de seu poder de fogo e voltou a atrapalhar as previsões para os investimentos em bolsa. As expectativas se deterioraram após a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 0,83% em janeiro, o maior desde abril de 2005. Em 12 meses, o índice ficou em 5,99%, bem superior ao esperado e ao centro da meta de inflação, que é de 4,5% ao ano. Ameaçado por um inimigo que mostra vigor e ciente de que tem capital político neste início de mandato para colocar o trem nos trilhos, o governo federal antecipou para o mês passado o anúncio dos cortes de R$ 50 bilhões no orçamento da União. É consenso, contudo, que esse ajuste é incapaz de excluir a necessidade de elevar os juros para segurar o consumo do setor privado. A dúvida é até que ponto essa elevação pode impactar o interesse dos investidores por renda variável.

São duas as formas de domar a demanda agregada e, consequentemente, segurar os preços dos bens e serviços: pela via do consumo do setor público ou do setor privado. A primeira é executada por meio do corte de gastos e, a segunda, de forma indireta, pelo aumento dos juros. Quanto mais perdulário o governo for, maior será a conta paga pelo setor privado — afetando diretamente as perspectivas para a Bolsa. Mas qual é a probabilidade de a atual gestão petista deixar para trás a “generosidade” da era Lula e fazer sua lição de casa?

CORTE SUPERFICIAL — Dada a reação ao anúncio dos cortes, a maioria dos agentes econômicos entendeu que ela é baixa. Além de se esforçar para não gastar, a presidente Dilma Rousseff terá uma tarefa adicional: convencer o mercado de que a iniciativa é para valer, e que o mesmo ministro (Guido Mantega) que era partidário de uma política fiscal dispendiosa e adepto de uma contabilidade criativa para tentar cumprir a meta de superávit primário de 2010 agora resolveu fechar as torneiras. “Para quebrar as expectativas negativas, só com uma paulada fiscal ou aumento de juros”, diz João Luiz Mascolo, professor de economia do Insper. Ou com a figura de um fiador com mais credibilidade para levar à frente uma política de austeridade fiscal, como o ex-ministro Antônio Palocci.

Se a “paulada fiscal” é ilusória, resta mexer nos juros. Depois da divulgação do IPCA de janeiro, alguns começaram a se perguntar se a elevação da Selic não teria de ser mais contundente. No entanto, pairam dúvidas sobre a política monetária: muitos se perguntam se o Banco Central (BC) vai realmente perseguir o centro da meta de inflação, que é de um IPCA de 4,5%. Como o sistema prevê uma banda de dois pontos percentuais para cima ou para baixo desse índice, é possível ficar dentro da faixa, mas com índices de preços cada vez mais elevados. Para este ano, o mercado espera um IPCA de 5,79%, segundo o relatório Focus, do BC, de 18 de fevereiro.

Divulgada a dimensão do corte, os economistas naturalmente se dividem entre otimistas e pessimistas. O tamanho do ajuste é considerado adequado e, se ele for para valer, haverá um decréscimo dos gastos do governo federal em relação ao PIB. O orçamento de 2010 previa gastos de R$ 680 bilhões, e o de 2011, de R$ 770 bilhões. Se Brasília realmente passar a tesoura, gastará algo como R$ 720 bilhões neste ano — o que ainda significa um crescimento nominal de 5,8% em relação a 2010. Com o esperado incremento do PIB, o impacto desse aumento de despesas tende a ser menor. “Como o PIB deve crescer cerca de 4%, a política fiscal parece menos expansionista”, afirma o economista do Itaú BBA, Maurício Oreng.

SUCESSO IMPROVÁVEL — “É possível fazer essa redução no orçamento, pois o governo tem incentivos para implementá-la”, avalia o economista Felipe Salto, da consultoria Tendências. Para ele, a União pode economizar até mais que os R$ 50 bilhões, se encarar um controle na boca do caixa, deixando de empenhar todos os recursos requeridos pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

“Para quebrar as expectativas negativas, só com uma paulada fiscal ou aumento de juros”

Já outros analistas são bem mais céticos: “O corte provavelmente não será da magnitude divulgada”, considera Ricardo Amorim, economista da consultoria Ricam. Excluindo-se toda a parte dos gastos que o governo não pode mexer — como o pagamento de salários, pensões, gastos sociais —, sobrariam apenas R$ 53 bilhões para serem cortados, segundo seus cálculos. Ou seja, seria altamente improvável que o governo conseguisse poupar quase tudo o que pode.

Neste ano, já é dada como certa uma elevação da Selic para algo entre 11,75% a 12,75%, independentemente do tamanho do ajuste fiscal. Se a deterioração nas contas públicas continuar, as expectativas serão ainda mais desfavoráveis ao governo, e mais subidas nos juros podem ser necessárias para segurar os preços. Nesse cenário um tanto pessimista, as aplicações de renda fixa se tornam mais atraentes, e o fluxo para a renda variável seca. Para Amorim, quem quiser obter lucro na Bolsa neste ano terá de estar vendido em ações ou comprado em papéis de setores defensivos (como energia e telecomunicações), de empresas que pagam bons dividendos ou de companhias sólidas, cujos preços estejam muito descontados.

O caldo de preocupações é engrossado pelo cenário externo. “A elevação da Selic para até 12,75% já está precificada. O que ainda não está nos preços é a provável piora nas economias européias”, alerta Amorim. Na sua avaliação, o endividamento no setor público de vários países europeus não foi resolvido, e novas nações devem esticar a lista dos insolventes até o fim de 2011 ou início do ano que vem. Portugal, Espanha, Bélgica e Itália, por exemplo, precisarão recorrer ao Fundo Monetário Internacional e ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira para fechar suas contas. O problema é que não há recursos suficientes para socorrer a todos, observa Amorim. Ele prevê uma nova fase de confusão nos mercados, com impacto na BM&FBovespa.

O RETORNO DO TIO SAM — Outro fator com potencial para chacoalhar as bolsas é a recuperação norte-americana. Raphael Martello, economista da Tendências, acredita que os juros devem permanecer baixos na Europa ainda por um bom tempo, já que a situação econômica dos principais países do Velho Continente ainda é frágil. Mas, fora da zona do euro, as coisas começaram a mudar. Como os riscos de uma nova recessão nos Estados Unidos são tidos como baixos, espera-se uma elevação nos juros do país para o fim de 2011 ou no início de 2012. Uma eventual melhora de rentabilidade de títulos do Tesouro norte-americanos, conhecidos por serem mais seguros, reduziria a atratividade dos papéis emitidos por mercados emergentes, e o fluxo de fora para a nossa Bolsa.

Mas nem todos veem nuvens carregadas se avizinhando. Do lado dos otimistas, estão os economistas Álvaro Bandeira, da corretora Ativa, e Roberto Padovani, do Banco WestLB. Bandeira declara que a saída de estrangeiros em fevereiro foi só um movimento de curto prazo, e que as empresas brasileiras vão continuar apresentando bons resultados. Ele crê que as medidas anunciadas pelo governo surtirão efeito, e que o Ibovespa pode terminar 2011 na casa dos 82 mil pontos. Em 28 de fevereiro, o índice fechou em 67.383 pontos, com 2,8% de desvalorização no ano.

Padovani também está confiante de que o governo vá entregar o ajuste fiscal que prometeu. Ao longo do primeiro semestre, ele considera provável que se forme um consenso de mercado sobre a elevação de juros nos Estados Unidos, o que levaria os investidores a rebalancear portfólios e a realizar lucros nos mercados emergentes. Passado esse momento, Padovani vislumbra bons ventos para a Bolsa. “Deve haver uma correção de preços, e não uma mudança de tendência”, explica. Ele afirma ser possível comprar a carteira do Ibovespa e esperar por 75 mil pontos em dezembro, o que daria um retorno de 11,3% (em comparação a fevereiro). Uma coisa parece certa: 2011 promete emoção.


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