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Sócio dentro de casa
Companhias ampliam programas de venda de ações para funcionários em busca de benefícios que vão além do alinhamento de interesses

Durante a década de 90, quando a privatização estava em voga no Brasil, vários funcionários de empresas estatais foram chamados para participar de clubes de investimento e comprar ações das companhias que estavam em vias de passar para as mãos do setor privado. Tratava-se de uma exigência legal, cuja intenção era reduzir a oposição à venda das estatais e, de certa forma, compensar os trabalhadores pelas perdas que teriam com a desestatização. Agora, empregados voltam a ser convidados para investir nas ações das firmas em que trabalham. Mas, ao contrário do que acontecia nos anos 90, o movimento é espontâneo e parece ser impulsionado pela intenção de promover o alinhamento de interesses entre as companhias e seus colaboradores.

Por alinhamento de interesses, entenda-se a idéia de aumentar o comprometimento dos empregados e ampliar os vínculos com eles. Essa forma de raciocínio está se tornando cada vez mais comum. A participação de empregados nas ofertas públicas iniciais de ações, por exemplo, tem sido uma prática bastante adotada. Basta olhar os casos de empresas que vieram a mercado recentemente e reservaram uma parcela da oferta para seus funcionários, como Renar Maçãs, CPFL Energia, Porto Seguro e Grendene.

Na Porto Seguro, a idéia de oferecer as ações para os funcionários tornou-se realidade no ano passado, mas já vem de tempos atrás. Era desejo do pai do atual controlador da empresa, Jayme Garfinkel, que os funcionários e corretores que vendiam os seguros da Porto tivessem participação acionária na companhia, conta Mario Urbinati, diretor de relações com investidores.

Na verdade, a própria abertura de capital já devia ter acontecido há mais tempo. Em 1997, a Porto estava com tudo preparado para entrar no pregão da Bovespa, mas o lançamento foi atropelado pela eclosão da crise asiática – que ocorreu uma semana antes da data prevista para o início do processo. Os planos foram retomados no ano passado, quando se decidiu pela reserva de 1% da oferta pública para os empregados.

A empresa concedeu um desconto de 20% sobre o preço de lançamento das ações para aqueles que comprassem até R$ 3 mil. A adesão ficou dentro das expectativas, segundo Urbinati. Dos cinco mil funcionários, 300 compraram os papéis. Agora, a empresa estudará a inclusão da bonificação com ações no conjunto de benefícios que oferece aos seus funcionários.

Na oferta pública inicial da CPFL Energia, que ocorreu em setembro de 2004, também foi feita a reserva de 1% das ações para os funcionários. Não houve desconto para a compra dos papéis, mas o percentual dos empregados não poderia entrar no rateio previsto para ocorrer caso a demanda dos investidores excedesse a oferta (o que acabou acontecendo, tanto para o lote destinado às pessoas físicas, quanto para o reservado aos institucionais). De acordo com Vítor Fagá de Almeida, gerente de relações com investidores da holding, a adesão surpreendeu e chegou a quase 1%. “Faríamos tudo de novo, se a oferta fosse hoje”, diz.

Na oferta da Renar Maçãs, encerrada em fevereiro, parte das ações também foi destinada aos empregados. De um total de 700 funcionários, 218 formaram um clube de investimentos, juntaram R$ 320 mil e abocanharam 2% da oferta. As cotas podiam ser adquiridas com aplicações mínimas de R$ 50,00. O grupo incluía de tratoristas a aplicadores de herbicida, serventes, apicultores e “formigueiros” (funcionários incumbidos de combater as formigas).

ABORDAGEM CAUTELOSA – Um dos cuidados tomados pelas empresas que incluíram os funcionários em suas ofertas foi o de explicitar que a compra de ações era facultativa. Ou seja, informar sobre a oferta sem incentivá-los a comprar os papéis. Caso contrário, esse tipo de iniciativa poderia ser interpretada como forma de aliciar recursos dos empregados. Outro ponto é que, se estes não tiverem sido bem informados sobre o investimento, podem ficar insatisfeitos com os empregadores se o desempenho em bolsa não sair como esperado.

Por isso é que o programa envolve também uma preparação sobre o mercado acionário. No caso da Porto Seguro e da CPFL Energia, as informações que serviram de subsídio para os funcionários tomarem a decisão de compra dos papéis foram transmitidas pelas empresas e pelos envolvidos no processo de emissão de ações. Ambas também levaram até suas unidades as apresentações feitas no âmbito do programa “Bovespa vai à Empresa”. Jornais internos e o site de RI também foram utilizados como meios de comunicação.

Outra empresa que promoveu iniciativas para tornar seus funcionários também acionistas foi a Mundial (ex-Eberle). Quando passou por um processo de reestruturação e promoveu um aumento de capital, aproveitou para criar um clube de ações dos empregados e obteve a adesão de 30%, entre 1 mil funcionários. Lançado em dezembro de 2003, o clube detêm cerca de 1,5% do capital total da empresa. A companhia financiou a aquisição dos papéis em 12 parcelas, sem juros, e se comprometeu a garantir o principal se a ação caísse abaixo do preço de subscrição no prazo de dois anos. “Acreditamos que, ao criar boas oportunidades para os funcionários, demonstramos que estamos construindo uma relação de afeto”, diz o diretor de relações com investidores da Mundial, Michael Ceitlin.

ESTRATÉGIA DE COMUNICAÇÃO – Esse movimento que agora ganha força, e que visa utilizar o mercado acionário como uma forma de aumentar o comprometimento dos empregados, também chegou a empresas que estão listadas há mais tempo na bolsa. Nem sempre o objetivo é fazer com que os funcionários se tornem acionistas. Promover palestras sobre o mercado e sobre o resultado da empresa também é algo que pode arejar a comunicação interna.

A área de relações com investidores da Caemi vem realizando palestras para o seu corpo gerencial desde o fim de 2003. São espécies de “road shows” internos, feitos a cada três meses, para expor os resultados do período. De acordo com José Roberto Pacheco, gerente de relações com investidores da companhia, o que se busca é fazer com que os funcionários compreendam melhor a atuação da Caemi e, também, aproximar as práticas das diversas unidades (que ficam em Minas Gerais, onde estão as jazidas de minério de ferro, e no Pará, onde a atividade é de extração de caulim). Como as unidades são geograficamente distantes e se dedicam a operações diferentes, seus funcionários ficavam sem uma visão do conjunto.

O Banco do Brasil (BB) também deve implementar neste ano um programa de palestras para seus funcionários em parceria com a Bovespa. A intenção é instalar programas pilotos em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, e treinar pessoas que atuarão como multiplicadores desse conhecimento, repassando as informações e os conceitos para os demais empregados. Essa estrutura será necessária, conta o gerente de relações com investidores do banco, Marco Geovanne, porque a instituição conta com cerca de 80 mil empregados. Além das palestras, a intenção é falar sobre o mercado de ações por meio do circuito interno de TV do banco e de sua revista.

Geovanne diz que o programa, estruturado em conjunto com a área de recursos humanos, tem dois objetivos: um deles é a criação de uma cultura de investimento no mercado de capitais, o que poderá abrir caminho para a eventual adoção de uma remuneração variável associada a ações. O outro é contribuir para uma mudança de mentalidade dos empregados. “Queremos que eles percebam que podem fazer diferença, em vez de puramente reclamar das condições de trabalho”, afirma.

A instituição pretende ainda fazer com que os funcionários atuem como “porta-vozes” do banco. Habilitados a diferenciar os fatos que efetivamente envolvem o banco de eventuais rumores, eles contribuiriam para a defesa da marca da instituição e para o aprimoramento da comunicação externa.

Programa de visitas da Bovespa cresce 135% em 2004

O número de empresas que buscam informar os seus funcionários sobre o mercado de capitais vem aumentando, conforme demonstram os registros do programa “Bovespa vai à Empresa”, promovido pela Bolsa. O total de companhias visitadas subiu de 17, em 2003, ano do lançamento do programa, para 40 no ano passado, um crescimento de 135%.

O diretor de marketing da Bovespa, Luis Abdal, estima que entre 30 mil e 40 mil pessoas assistiram às palestras, visitaram os estandes montados nas empresas ou o Bovmóvel – um furgão equipado com telas de cotações e materiais de apoio para explicar o funcionamento do mercado de capitais. Atualmente, a Bolsa tem três Bovmóveis, conta com 50 promotores (ex-operadores de pregão que passaram por um processo de treinamento para lidar com o público) e estrutura disponível para montagem de até 15 estandes. No total, incluindo todas as iniciativas do projeto de popularização do mercado (como o “Bovespa vai até a Praia” e outros), a Bolsa tem 190 mil nomes cadastrados.

As empresas têm contribuído para o projeto. No ano passado, a Vale do Rio Doce fez um trabalho de divulgação nas suas principais unidades operacionais espalhadas pelo Brasil, o que permitiu que 17 mil pessoas tivessem contato com conceitos do mercado, de ações via o programa da Bolsa. Durante as visitas, é comum, por exemplo, os funcionários descobrirem que a companhia para a qual trabalham é de capital aberto. E passar a entender o significado do termo.

Além de promover o contato com os funcionários da empresa, a iniciativa cria uma aproximação com as comunidades locais. Foi o que aconteceu nas visitas às unidades da Vale, conta Abdal. “Quando chegávamos nas cidades, a comunidade toda solicitava nossa presença”, recorda.


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