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Situação constrangedora?
Saiba como lidar com acionistas que criam saias justas nas assembleias

, Situação constrangedora?, Capital AbertoEm abril de 2007, o economista Stephen Kanitz reclamou do tratamento que as grandes empresas dão aos seus clientes – o próprio, inclusive – naquelas robotizadas e cansativas ligações com a turma do telemarketing. Compartilhou a sua fúria com os leitores da coluna “Ponto de Vista”, de sua autoria, na revista Veja. Kanitz, no entanto, não se limitou às queixas. Deu também algumas dicas de como chamar a atenção das empresas, e uma delas toca especialmente executivos da área de relações com investidores (RI): “Ultimamente eu tenho tido mais sorte ligando para o departamento de acionistas do que para o atendimento ao cliente. Dou um número de um acionista qualquer e comento o que pretendo dizer na assembleia sobre a não solução do meu problema”. E foi além: “Como muitos dos presidentes dessas companhias estão mais preocupados com suas stock options do que com os clientes, tratarão melhor você como acionista do que como consumidor”.

Até parece que Kanitz previu há três anos uma situação que atualmente assombra os RIs. Como lidar com os acionistas que querem discutir em reunião de investidores assuntos que nada têm a ver com o desempenho da companhia? O superintendente de RI do Itaú, Geraldo Soares, já sentiu na pele o descontentamento de um cliente que enfrentava problemas com o cartão de crédito e tentou resolver a questão numa reunião promovida pela Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec). “Não tinha nenhuma relação com o objetivo do encontro, que era a apresentação de resultados”, recorda. Esse tipo de saia justa pode acontecer também numa assembleia. Nesses encontros, qualquer acionista — mesmo os que têm apenas uma ação — pode participar e manifestar suas dúvidas e descontentamentos, desde que o tema conste na ordem do dia.

Minoritários, algumas vezes sem motivos válidos, comparecem a essas reuniões e soltam o verbo — situações que vêm se tornando mais frequentes nos últimos anos devido à ampliação do número de pessoas físicas na base de acionistas das companhias abertas. Salpicam, aqui e ali, casos folclóricos de acionistas minoritários se exaltando com questionamentos nem sempre tão relevantes para o futuro da empresa.

Uma das histórias mais emblemáticas talvez seja a da acionista Elizabeth Cruz de Oliveira, que se manifestou com veemência numa assembleia da à época recém-fundida BM&FBovespa, em 2008. Em tom pouco suave, ela questionou o então presidente do conselho da companhia, Manoel Félix Cintra Neto, sobre as razões para o nome da BM&F preceder o da Bovespa na nova denominação. Ficou um clima de chacota no ar. E o executivo respondeu que a escolha da ordem devia-se à sonoridade das palavras. A mídia especializada em negócios destacou o acontecimento. Elizabeth ganhou seus quinze segundos de fama, embora negue que tenha tido essa intenção. O objetivo dela, conforme contou na época, era acompanhar com lupa vigilante a empresa da qual se tornara acionista.

Uma forma de se precaver de episódios embaraçosos é caprichar na comunicação com o investidor pessoa física

PARTICIPAÇÃO EXCESSIVA — Intenções boas ou não, o fato é que os administradores vêm temendo cada vez mais a possibilidade de se deparar na assembleia com um acionista que tenha alguns parafusos a menos. E como fazer, então, para lidar com a situação? Há soluções a partir de diversos prismas. Para o neurologista Roberto Hirsch, do Hospital Albert Einstein, a melhor saída é não alimentar a questão. “Pessoas com comportamento de autovalorização têm, inconscientemente, determinadas atitudes para chamar a atenção e, dessa forma, se sentirem incluídas no sistema”, diz. O especialista faz questão de ressaltar que cada caso é um caso. Mas, em geral, pessoas que buscam um palco aparentemente sem razão possuem baixa formação educacional, poucas conquistas e acreditam, fielmente, que estão lutando em prol de uma causa.

Longe dos consultórios, e no campo corporativo, um caminho para se precaver de situações embaraçosas é caprichar na comunicação com o investidor pessoa física. O Itaú, por exemplo, que tem 95% da sua base formada por esse tipo de público, prepara a elaboração de uma cartilha contendo o beabá das dúvidas mais prementes dos acionistas que, em alguns casos, conhecem pouco sobre o mercado de capitais.

BARRADOS PELA LEI — Do ponto de vista jurídico, a única forma de manter um minoritário abusado longe das assembleias é se ele for punido pelo artigo 120 da Lei das S.As., que prevê a suspensão dos direitos do acionista que deixar de cumprir obrigação da lei ou do estatuto social. Dentre os deveres previstos pela lei, está o compromisso de votar na assembleia sempre no melhor interesse da companhia. Atrapalhar o evento, comentando assuntos fora da ordem do dia, pode ser uma atitude interpretada como contrária a esse princípio. “Pode-se ter uma medida como essa, mas, em todos esses anos, nunca vi”, afirma o advogado João Laudo de Camargo, especialista em mercado de capitais e sócio do escritório Bocater, Camargo, Costa e Silva. “Em última instância, pode-se até registrar um boletim de ocorrência”, explica.

Até porque, como reforça o advogado, as assembleias são uma reunião de colegiado, coordenada por uma mesa, composta de um presidente e um secretário. Ao primeiro cabe conduzir os debates da melhor maneira possível, garantindo que os acionistas cheguem a uma decisão consciente. Paciência e uma dose de jogo de cintura ainda são, sem dúvida, o melhor remédio para lidar com acionistas inconvenientes. Não é para menos que essas são virtudes exigidas de um RI.


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