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Risco à la carte
Com novas oportunidades sobre a mesa, fundos de pensão migram lentamente da zona de conforto para a diversificação

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Em setembro de 2009, os gestores da Previ respiraram aliviados. A Resolução 3.792 do Conselho Monetário Nacional (CMN) chegava para acabar com a obrigação dos fundos de pensão de se adequar ao limite de 50% do patrimônio para investimentos em renda variável. Naquela época, pouco mais de 63% da carteira do fundo dos funcionários do Banco do Brasil estava alocada em ações. A medida esticou a parcela máxima para 70% e abriu novos segmentos para aplicações dos fundos, como os investimentos estruturados (limite de 20%) e no exterior (10%). Mas essa disposição para encarar aplicações mais voláteis ainda é tímida entre os fundos de pensão. Um ano e oito meses após a publicação da 3.792, ainda são poucas as fundações que consideram palatável o gosto do risco. “O parâmetro legal é condição necessária, mas não suficiente”, afirma Jorge Simino, diretor de investimento e patrimônio da Fundação Cesp. Para ele, as incertezas do cenário macroeconômico, especialmente o internacional, tornam desconfortável uma atitude mais agressiva dos gestores.

A Fundação Cesp mantém a mesma alocação em cada classe de ativos desde o início de 2008: são 70% em renda fixa, 24% em renda variável, 3,5% em imóveis, e 2,5% em empréstimos a participantes. A baixa exposição ao mercado de capitais é, segundo Simino, um dos motivos para o bom desempenho do fundo em 2010. A rentabilidade de 19,48% superou a meta atuarial de 17,41% (calculada com base no IGP-DI, mais 6% ao ano). “Renda fixa atrelada à inflação e investimentos em imóveis agregaram valor”, argumenta. Mesmo satisfeito com o retorno da carteira atual, o diretor não fecha as portas para as novidades da 3.792. A migração lenta, explica, é parte do longo aprendizado para encarar ativos mais arriscados, um mercado novo para a maioria das fundações.

Se as classes de ativos apimentadas ainda afugentam as gestões conservadoras, é fato que ao menos existe curiosidade das fundações sobre esses investimentos. Não foi à toa que a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCap) criou o Comitê Executivo de Investidores Institucionais (CEII). Desde março, a entidade reúne as fundações com o objetivo de disseminar o conhecimento sobre private equity e incentivar o crescimento desse tipo de ativo nas suas carteiras de investimento. Além da coordenadora Patrícia Freitas, superintendente de investimentos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), fazem parte do CEII representantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e dos fundos de pensão Valia, Funcef, Fapes, Previ e Petros.

As reuniões são trimestrais e alimentam com informações os gestores responsáveis pelas operações diárias das fundações. Esses profissionais aprofundam os temas em encontros mensais e passam ao Comitê as principais dúvidas. O ciclo se fecha com a entrega das respostas possíveis aos gestores ou com o envio de sugestões ao regulador. “É uma forma de eliminar a assimetria de informação numa indústria cada vez mais sofisticada”, esclarece Patrícia.

Há bons exemplos dos resultados de uma abertura maior para os ativos de risco. O diretor de investimentos da Fundação dos Economiários Federais (Funcef), Demósthenes Marques, conseguiu aplicar na prática a Moderna Teoria de Finanças: investimentos de maior risco apresentam, em janelas relativamente longas, as melhores rentabilidades. Nos resultados dos últimos oito anos, a carteira de renda variável da Funcef, mesmo com a crise financeira de 2008, teve a melhor rentabilidade dentre todas as classes de ativos: acumulou retornos de 699%, diante de uma meta atuarial de 145,96% e de uma variação do Ibovespa de 553,81% no mesmo período. Para o gestor, isso foi possível graças ao incremento das condições macroeconômicas.

Nos últimos oito anos, a carteira de renda variável da Funcef teve o melhor retorno dentre as classes de ativos: 699%

Os novos limites trazidos pela regulação, em 2009, chegaram muito depois da decisão da Funcef de assumir mais risco. A estratégia do fundo é a mesma desde 2005, com um modelo de gestão de renda variável composta de uma única carteira, subdividida em três categorias. Duas delas estão relacionadas com o Ibovespa: a passiva busca replicar os retornos do índice, e a ativa tenta bater o Ibovespa no curto prazo. A terceira não se baseia em nenhuma cesta de ações predeterminada — apenas persegue uma rentabilidade significativamente superior à dos índices de mercado no longo prazo. Foi esse caminho que levou a Funcef à ampliação de seus investimentos em participações societárias e em fundos de private equity de 17,93%, em 2003, para 43,18% dos investimentos totais, em dezembro de 2010. “Migramos investimentos ligados à taxa Selic para aqueles relacionados ao crescimento das empresas nacionais”, diz Marques. Do total de R$ 18,4 bilhões aplicados em renda variável no fim do ano passado, R$ 3 bilhões estavam em 31 Fundos de Investimento em Participações (FIPs), classificados pela 3.792 como investimentos estruturados.

Além da Funcef, que tem 6,9% do patrimônio em private equity, a Petros possui 5% das suas aplicações alocadas em 25 FIPs, totalizando mais de 100 empresas investidas. O diretor financeiro e de investimentos, Carlos Fernando Costa, conta que o fundo dos funcionários da Petrobras tem uma gerência especialmente dedicada à gestão de private equity, dada a importância do segmento dentro da carteira. “Para nós, é um investimento consolidado, de bom retorno a médio e longo prazo.” Seu plano é aumentar a participação em segmentos nos quais a Petros considera não estar suficientemente presente, como tecnologia, educação, saúde e na cadeia produtiva do pré-sal.

A Fundação Real Grandeza vai por um caminho parecido. Encerrou 2010 com apenas 1,1% do patrimônio alocado em investimentos estruturados, mas em 2011 pode elevar essa classe de ativos para até 6%, conforme recomendação do estudo ALM (sobre gestão de ativos e passivos). De acordo com o diretor de investimentos, Eduardo Henrique Garcia, serão feitos aportes em FIPs e em Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs). “Esses fundos devem se beneficiar com o crescimento da economia brasileira e os investimentos em infraestrutura. Faremos novas aplicações nesse tipo de ativo gradualmente”, justifica.

Quanto aos investimentos no exterior, ainda existem barreiras regulatórias. Para aplicar em ativos lá fora as fundações devem usar como veículo um fundo de investimentos constituído no Brasil. Considerando que essas instituições têm limite máximo de 25% de participação no patrimônio de outras carteiras, seriam necessários mais investidores interessados nesse fundo de investimento — para, a partir dele, fazer a alocação no exterior. “A decisão de investir lá fora já é difícil isoladamente. Conciliar essa estratégia com a de outros investidores torna a tarefa ainda mais complicada”, defende Renê Sanda, diretor de investimentos da Previ. O gestor imagina que dentro de alguns anos as fundações devam sugerir ao regulador alguma forma de sanar esse obstáculo.

A Petros, no entanto, já está conversando com gestores de fundos no exterior. “A intenção é explorar esse segmento no médio prazo”, observa Costa. “Queremos novas oportunidades. Cada vez que temos a chance de abrir o leque, vale a pena experimentar”, acrescenta. Por ora, quem já agarrou a chance foi a Valia. O investimento foi feito de forma direta, com a compra de Brazilian Depositary Receipts (BDRs) da GP Investments negociados na BM&FBovespa — nesse caso, por se tratar de ativo listado na Bolsa brasileira, a aquisição direta é possível. Dentro da carteira, a aplicação soma pouco mais de R$ 40 milhões, cerca de 0,2% do patrimônio global da Valia. Como se vê, a 3.792 pode não ter tido o efeito de aumentar o apetite pelo risco das fundações em geral, mas alguns expoentes iniciam uma caminhada lenta e visível com destino à renda variável. Uma mudança de visão que, a depender do nível da taxa Selic nos próximos anos, tem tudo para se disseminar.


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