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RIs globais
Ricardo Florence e Jeffrey Morgan

, RIs globais, Capital AbertoNesta edição especial, entrevistamos o presidente executivo do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), Ricardo Florence, e o seu equivalente no National Investor Relations Institute (Niri), Jeffrey Morgan, para mostrar semelhanças e divergências de visões sobre o ofício de RI nos Estados Unidos e no Brasil. A escola norte-americana de RI é muito mais antiga que a brasileira, mas as práticas já não são mais tão diferentes assim. Alguns dos debates que ocorrem lá fora, inclusive, já chegaram ou até se encerraram por aqui, como o papel do RI na governança da companhia. Florence e Morgan enfatizaram a necessidade de os profissionais da área estarem sempre disponíveis aos acionistas, especialmente nos momentos de crise. A principal discordância está na maneira como encaram as mídias sociais. Confira os principais trechos das entrevistas.

CAPITAL ABERTO: No Brasil e, principalmente, nos Estados Unidos, companhias abertas estão usando, cada vez mais, mídias sociais como Twitter, Facebook e YoutTube para se comunicarem com investidores. Essas ferramentas devem fazer parte da estratégia de todo RI?

RICARDO FLORENCE: Não chego a estimular esse tipo de comunicação. O incentivo pode ser maior ou menor, dependendo do estágio e do ramo de atividade da companhia. Desde que as informações tratadas sejam públicas, já divulgadas à CVM, não vejo por que não adotar essas tecnologias. Mas o primeiro dever da empresa é publicar toda informação possível no site de RI e nos meios que a regulamentação exige. O objetivo do uso das mídias sociais é fazer com que essa informação chegue mais rapidamente ao acionista. Se o seu acionista não estiver usando esse tipo de ferramenta, ela não vai ser efetiva. É isso que o RI precisa medir para decidir se vale a pena se engajar ou não.

JEFFREY MORGAN: Entendo o RI como um comunicador financeiro, que se dirige a um público externo. Dessa maneira, quanto mais ele propagar sua mensagem, usando diferentes meios de comunicação, melhor será para a sua organização. As mídias sociais são apenas outro meio para enviar a mensagem, como propaganda em televisão ou relatório anual. No Niri, vemos as mídias sociais como uma tecnologia ou prática emergente que necessita de foco, razão pela qual há muita discussão sobre isso.

Quais desafios as tecnologias da web 2.0 trazem para o RI?

“Você pode se sentir obrigado a responder a todos os comentários (nas mídias sociais). Mas não estou certo de que deva responder a tudo”

RICARDO FLORENCE: Eu diria que lá fora, nos Estados Unidos, a preocupação com esses mecanismos já chegou ao órgão regulador. Mas aqui, talvez, estejamos em um momento anterior, o que dá a oportunidade às companhias de descobrir como tirar proveito disso para a área de RI. A empresa, em seu programa de comunicação como um todo, além de relações com investidores, não pode ignorar o que acontece no segmento de mídias sociais.

JEFFREY MORGAN: Nos Estados Unidos, analistas estão começando a usar mídias sociais como fonte de informação. Se sua empresa é uma rede de restaurantes e alguém anda dizendo, na internet, que sua comida é ruim, pode haver uma informação importante aí. É melhor saber o que está acontecendo nesse momento do que ficar se perguntando depois por que as ações caíram. Num estágio mais ativo, de efetivo uso das mídias sociais, você pode se sentir obrigado a responder a todos os comentários que aparecem, pois essa é a natureza do RI. Mas não estou certo de que tenha de responder a tudo. O fato de muitas pessoas passarem a falar da mesma coisa pode ser um sinal da hora de intervir.

“Quando as más notícias aumentam, você não pode se esconder: tem de estar disponível e ser consistente”

Quais são as habilidades fundamentais de um bom RI no mercado atual?

RICARDO FLORENCE: Deve ser uma pessoa proativa, cada vez mais alinhada com a estratégia da empresa, e que funcione como uma via de duas mãos entre o mercado e a companhia. Não dá pra determinar que o RI seja de comunicação ou de finanças, ou com grande conhecimento contábil. Hoje, o RI tem de ser um profissional completo. Em princípio, deve ser um generalista, com noções de todas as áreas. A combinação desses conhecimentos é que lhe vai permitir entender a estratégia da companhia e ajudar no seu desenvolvimento.

JEFFREY MORGAN: Nossas pesquisas mostram que as melhores qualidades de profissionais de RI são: consistência na comunicação, credibilidade e disponibilidade. Quando as más notícias aumentam, você não pode se esconder: tem de estar disponível e ser consistente na informação que prestar. Os investidores e os analistas estão sempre avaliando se o RI é honesto nas afirmações que faz sobre a companhia. É preciso propagar a mensagem mesmo quando ela não é a melhor, porque vai doer muito mais se você não se comunicar.

A crise mudou o papel do RI?

RICARDO FLORENCE: Se houve uma mudança, foi para melhor. O RI teve de ficar ainda mais próximo do investidor. Aquelas companhias que se fizeram presentes no início da crise, quando não havia muitas chances de operações, foram lembradas mais tarde. Isso prova que precisamos estar presentes não só nos bons momentos, mas também quando não estamos captando recursos. Esse relacionamento constante se converte em retorno para a empresa no decorrer do tempo.

JEFFREY MORGAN: Na recessão, percebemos que profissionais de RI, pelo menos nos Estados Unidos, naturalmente olham para receitas e lucros, receitas e perdas. Isso é compreensível, porque é onde os investidores se focam também. Mas a crise ensinou que informações como bens, endividamento e outros trechos do balanço patrimonial são igualmente importantes. O RI tem de ser capaz de ajustar esses dados numa mensagem que contemple, ainda, a macroeconomia.

“Não dá para determinar que o RI seja de comunicação ou finanças. Hoje, ele tem de ser um profissional completo”

As operações em alta frequência e a fragmentação do mercado acionário são alvos de discussões nos Estados Unidos. Quais são os impactos desses fenômenos na área de relações com investidores?

, RIs globais, Capital AbertoRICARDO FLORENCE: Esse é um passo ainda a ser dado no cenário nacional. Hoje, conhecemos a posição do fim do dia dos investidores, mas não conhecemos o que se passa no “intraday”. Seria interessante identificar quem são as pessoas que negociam os valores mobiliários para que possamos coibir quem não esteja operando de acordo com as melhores práticas. Uma negociação em alta frequência pode vir a distorcer, por exemplo, os índices acionários. O índice de negociabilidade de uma ação, critério utilizado para a inclusão no Ibovespa, depende do volume negociado e da quantidade de transações. Operações em alta frequência podem aumentar artificialmente o número de negócios realizados com ações de determinada companhia. Assim, a participação real de um determinado papel no índice pode ser distorcida. No Brasil, isso ocorre em baixa escala, mas já é mais preocupante nos Estados Unidos.

JEFFREY MORGAN: Certamente, se você tem ADRs está sendo afetado por isso. Nos Estados Unidos, cresceu muito o número de transações fora de bolsas de valores tradicionais. Quanto mais fragmentado é o mercado, mais difícil para o RI descobrir quem está comprando ou vendendo as ações. Vale dizer também que os operadores de alta frequência não se importam com os fundamentos da companhia para negociar. Eles verificam apenas fatores técnicos. Diante disso, o IR deve ser capaz de observar seu volume de negociação e separar o que são operações de alta frequência daquelas vindas de investidores de longo prazo. Isso não é uma ciência. Existem algumas ferramentas que facilitam esse processo.

Recentemente, o Ibri divulgou uma pesquisa com profissionais de RI que se mostram preocupados com o fato de corretoras pagarem as despesas de “non deal” road shows. Nos Estados Unidos, em quase 100% dos casos os custos são cobertos pelas corretoras. Qual é o problema disso?

RICARDO FLORENCE: Tudo aquilo que não é feito no melhor interesse da companhia não é uma atitude correta. Se a corretora tem um poder de influência muito grande ao arcar com todas as despesas, por exemplo, os interesses da companhia podem estar deixando de ser atendidos. É uma discussão puramente ética. Quando há algum tipo de contribuição do outro lado, a independência da empresa pode ser colocada em risco.

JEFFREY MORGAN: Os corretores são intermediários tentando vender serviços. Do ponto de vista de um RI, eu não vejo onde está o conflito de interesses. No caso norte-americano, você não pode entregar informações seletivamente. Tudo deve ser oferecido a todos. O fato de você ir a um road show patrocinado por alguém não representa nenhum conflito. Até porque não se trata de um pagamento, mas, sim, de uma cobertura de despesas. Se há, realmente, uma preocupação sobre isso, uma postura transparente pode ajudar. Na medida em que há prestação de contas, os riscos de mau comportamento diminuem. Os problemas acontecem quando você começa a esconder as coisas.


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