“RI nota 8”
Clodoir Vieira, Leonardo Zanfelicio, Oswaldo Telles, e Elsen Carvalho

, “RI nota 8”, Capital AbertoPeça-chave dentro de qualquer companhia que almeja um bom relacionamento com o mercado, o profissional de relações com investidores (RI) carrega uma responsabilidade e tanto. Da sua atuação depende a forma como a empresa é percebida por investidores e analistas de investimento — aqueles que, no fim do dia, recomendam ou não os papéis das companhias e estimam o seu preço-alvo. Sempre ávidos por informações e, por isso, “fregueses” assíduos dos RIs, esses profissionais seguiram de perto as transformações das áreas de relações com investidores nos últimos anos. Na entrevista abaixo, você acompanha a avaliação que quatro analistas experientes — Clodoir Vieira (analista chefe da Souza Barros Corretora), Leonardo Zanfelicio (analista da Concordia Corretora), Oswaldo Telles (analista chefe do Banif Invest), e Elsen Carvalho (analista sócio da Investidor Profissional) — fazem dos RIs brasileiros. Apesar de apontarem diversas melhorias, aspectos como falta de disponibilidade, qualidade técnica a desejar, e ausência de uniformidade no uso do quiet period são vistos como gargalos a serem corrigidos.

CAPITAL ABERTO: Como vocês avaliam o trabalho dos profissionais de RI nos dias de hoje?

OSWALDO TELLES: A forma como esse profissional atua depende totalmente da política da empresa. Apesar de existir uma regulamentação em lei sobre a quantidade de informação que deve ser divulgada, a política corporativa de cada companhia acaba determinando esse nível. Ter um RI acessível que atenda, explique e vá além desse nível mínimo de informação exigido em lei é vital para que uma empresa seja bem compreendida e o mercado tenha uma boa visão sobre ela.

No período de silêncio, os RIs poderiam ser mais seletivos: não comentar sobre resultados, mas falar sobre outros assuntos”

ELSEN CARVALHO: O papel do RI é fundamental para as informações fluírem bem da empresa para o mercado. Isso é algo com que os investidores se preocupam e levam muito em conta atualmente. De 2004 para cá, conseguimos ver uma melhora significativa. É possível perceber que, de fato, as áreas de relações com investidores estão mais estruturadas, e o nível dos profissionais está melhorando. É uma área em evolução.

CLODOIR VIEIRA: Na comparação do cenário atual com o de oito anos atrás, muita coisa mudou. No passado, os analistas enfrentavam bastante dificuldade para falar com o RI. Atualmente, o acesso às informações está mais fácil. O RI tem sido mais atencioso não só com os analistas, mas também com os investidores. Claro que não está 100% ainda. Em algumas empresas, o contato é complicado, mas a maioria apresentou uma melhora razoável.

LEONARDO ZANFELICIO: Em 99% das empresas somos bem atendidos. Sempre fiquei satisfeito com as informações que nos foram passadas. No geral, o trabalho das companhias que acompanho e com as quais tive esse relacionamento foi bem favorável.

“O profissional de RI, principalmente o diretor da área, deve estar preparado para todo o tipo de pergunta, seja ela do analista ou do investidor”

Quais são as qualidades que determinam se o RI é um bom profissional?

CLODOIR VIEIRA: Conhecimento e disponibilidade são as principais. Na média, daria nota 8 para os profissionais brasileiros. Alguns ainda não sabem transmitir a informação necessária ou preferem se fechar, com receio de passar um dado privilegiado. Também acredito que o RI precisa estar mais disponível.

LEONARDO ZANFELICIO: Não adianta o profissional de RI conhecer profundamente a companhia se não souber transmitir isso para o mercado. Também não adianta saber se expressar muito bem e não conhecer a empresa com profundidade. O RI deve ter uma ideia exata de todas as áreas da companhia, entender como ela está inserida no mercado e, claro, saber passar essas informações de forma clara e fácil não só para os analistas, mas também para os investidores em geral.

OSWALDO TELLES: O analista espera que, todas as vezes em que ele tem uma dúvida, o profissional de RI esteja disponível para conversar sobre o assunto. Nem sempre isso acontece. Em relação à confiabilidade, esperamos que tudo que ele diz a respeito da empresa seja isento. É fundamental que o RI saiba realmente o que está falando, sem achismo ou especulações.

ELSEN CARVALHO: Como principal porta-voz da companhia, o RI ideal é aquele que alia boa comunicação com transparência e, obviamente, agilidade. Garantir que as informações transmitidas pela empresa não deixem dúvidas já é boa parte do trabalho a ser feito por esses profissionais. Porém, não sei se devemos colocar toda a responsabilidade no RI ou na postura da companhia. Muitas vezes, o profissional está obedecendo a alguma orientação interna.

Na maioria das vezes, os analistas demandam muitas informações dos profissionais de RI. Esse profissional precisa estar preparado para responder a qualquer questão?

LEONARDO ZANFELICIO: O profissional de RI, principalmente o diretor da área, deve estar preparado para todo o tipo de pergunta, seja ela do analista ou do investidor, seja sobre governança corporativa, a parte operacional ou a contábil. O RI é a pessoa que faz a interlocução entre a empresa e o mercado. Ele precisa estar por dentro das políticas de governança: número de pessoas no conselho, tag along, etc. Tem que ter um pouco de conhecimento sobre tudo. Isso gera credibilidade para a companhia no mercado.

OSWALDO TELLES: Como ele é o contato com o mercado, deve saber explicar o que está acontecendo. Mas entendo também que esse profissional precisa tratar de diversos temas, e que é impossível ser especialista em todos. O ideal seria se o RI soubesse indicar um profissional da área quando ele não tem conhecimento adequado para falar sobre determinado assunto.

CLODOIR VIEIRA: Alguns RIs, infelizmente, ainda não estão preparados para falar sobre todos os aspectos que envolvem uma empresa. É fundamental que esse profissional saiba comunicar para o mercado tanto as informações boas, quanto as ruins, sobre a companhia. O investidor se sente mais seguro desse modo. Porém, existem empresas que se fecham quando passam por momentos complicados. Nesses períodos, é ainda mais importante que o RI explique o que está acontecendo. Caso contrário, o investidor acaba desvalorizando ainda mais a ação devido à falta de dados.

“O analista espera que, quando há uma dúvida, o RI esteja disponível para conversar. Mas nem sempre isso acontece”

Companhias com equipes de RI enxutas, pouco acessíveis para o mercado, podem ter a recomendação de sua ação prejudicada por isso?

CLODOIR VIEIRA: Ouço poucas reclamações de profissionais dessa área em relação às condições de trabalho. Muitas vezes, não temos muito diálogo com a área de RI e fazemos as recomendações de investimentos baseadas no release da empresa, na nota explicativa, no balanço, que é o mais importante. Claro que em geral isso é planejado em cima do que a companhia está fazendo e do que ela pretende fazer, o que é extremamente necessário a gente saber. As empresas menores, realmente, têm 2, 3 RIs e um gerente de área. É claro que eles não gostam de revelar que possuem uma equipe pequena. Para o investidor e para o analista, isso é um problema da companhia e não pode atrapalhar na hora de transmitir a informação.

LEONARDO ZANFELICIO: Quanto mais clareza o RI tiver ao se comunicar com o mercado, melhor será a avaliação do analista, já que dessa forma fica mais fácil projetar e trabalhar com os números. O profissional que não deixa claro quais são os planos e os posicionamentos da empresa acaba dificultando e impactando a decisão dos investidores.

ELSEN CARVALHO: Óbvio que é muito melhor quando uma empresa fornece informações com qualidade, precisão e rapidez. Isso facilita o trabalho dos analistas e a tomada de decisões. Um dos elementos que influenciam o preço das ações da companhia é quão bem os investidores entendem a empresa e se sentem confortáveis em relação às informações que recebem. Para quem é um investidor fundamentalista, que tem seu processo de análise e de pesquisa muito forte, por melhor que seja o RI, por melhor que seja o processo de comunicação da companhia, a diferença vai estar no tipo de dado que você consegue obter por outros caminhos.

OSWALDO TELLES: Se uma empresa sempre divulga resultados muito bons, mas tem um relacionamento ruim com o mercado, ela vai se beneficiar dos resultados. Claro que gostaríamos que o profissional de RI fosse o mais acessível possível. Mas às vezes ele enfrenta problemas internos, que não ficam claros para o analista. É difícil saber se ele não está acessível porque a companhia tem muita demanda interna ou porque não quer dar tanta atenção para o mercado.

E quando a companhia falha na divulgação de um fato relevante, a culpa é do RI?

CLODOIR VIEIRA: O RI é, sim, o principal responsável. Ele não pode deixar passar nenhuma informação que seja relevante para o mercado. A empresa deve lançar comunicados sobre todos os fatos que sejam importantes, e esse trabalho deve ser muito transparente. Do contrário, informações incompletas são divulgadas, e o RI acaba tendo de lançar uma nota para explicar o acontecido. Ele precisa se antecipar a qualquer tipo de informação.

LEONARDO ZANFELICIO: O mercado algumas vezes tira conclusões que não condizem com o que a empresa está fazendo. Nesse caso, o RI não tem culpa. É difícil penalizá-lo. A gente sabe que o mercado quer antecipar tudo para ter ganhos nas operações. É preciso verificar o que é verídico. Já vimos diversas notícias sobre empresas que decidem comprar outras que acabam não se concretizando.

OSWALDO TELLES: A empresa é obrigada, por lei, a divulgar para o mercado tudo aquilo que cause um efeito monetário muito grande nos negócios, sob pena de ser multada. Agora, abrir mais ou menos a informação é uma decisão da companhia, e o RI apenas segue as normas internas.

O período de silêncio é um problema para os analistas?

CLODOIR VIEIRA: Nessa situação, não há o que fazer. Nos períodos de pré-balanço, o profissional de RI realmente não pode passar informação. Então, quando chega essa época, o analista fica de mãos atadas. Ele, no máximo, pode citar essa situação no memorando que é enviado ao investidor.

LEONARDO ZANFELICIO: Durante o período de silêncio, o RI não pode falar sobre resultados, mas sobre questões passadas não existe nenhum impedimento. Contudo, aguardar por 15 dias não atrapalha muito o trabalho do analista, a não ser que aconteça alguma coisa muito relevante. Por exemplo, a empresa fechar alguma aquisição no meio do período de silêncio. Mas, nesse caso, provavelmente, ela terá autorização da CVM para informar o mercado.

ELSEN CARVALHO: O quiet period precisa ser respeitado. A época que antecede a divulgação de resultados é delicada mesmo, porque gera uma grande ansiedade nos investidores. Então, é um período em que as empresas se reservam bem, para não ter nenhum tipo de ruído. É uma prática normal e não temos nenhuma objeção em relação a isso.

OSWALDO TELLES: Esse período existe para evitar vazamento de informação relevante, que possa beneficiar alguém individualmente. O problema é que, às vezes, temos uma dúvida que não tem nada a ver com o resultado e, mesmo assim, não conseguimos falar com a empresa, porque eles fecham totalmente a porta para qualquer pergunta. Eles poderiam ser mais seletivos, não comentar sobre resultados, mas falar sobre outros assuntos. Algumas empresas até fazem isso, mas a maioria não.


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