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Conjunto de ações
Companhias que mais turbinaram o volume de negociação de seus papéis desde 2008 recorreram a táticas concatenadas

Fomentar a liquidez das ações é um desafio permanente das equipes de relações com investidores (RI). Bonificação, grupamento, desdobramento, oferta subsequente, contratação de formador de mercado e rodada de apresentação com investidores são algumas estratégias para atingir esse objetivo. Porém, se são muitos os instrumentos para incrementar os volumes de negociação, também são grandes as dúvidas sobre quais deles usar. Para responder a essa questão, a CAPITAL ABERTO analisou as companhias cujas ações registraram o maior acréscimo de liquidez entre o primeiro semestre de 2008 e o mesmo período de 2013 (veja infográfico ao final do texto). A reportagem descobriu que medidas de efeitos indiretos, como a migração para um nível de governança mais elevado, podem tornar as táticas tradicionais mais férteis. E que não existe uma estratégia única para turbinar a liquidez — é o conjunto da obra o que interessa.

A Hering, uma das empresas mais bem-sucedidas em aumentar a liquidez das ações no período analisado, é exemplo disso. Em 2008 e 2009, a negociação diária dos papéis girava em torno de R$ 1 milhão. No primeiro trimestre de 2010, pulou para R$ 5 milhões, em 2011 chegou a R$ 30 milhões e agora está em R$ 60 milhões. Para conseguir a proeza, a fabricante têxtil usou um mix de estratégias cujo ponto de partida foi a migração do Nível 1 para o Novo Mercado da BM&FBovespa, em 16 de maio de 2007. De acordo com relatório publicado recentemente pelo BTG Pactual, as companhias que optaram por se deslistar de níveis de governança corporativa baixos e passaram para o segmento máximo aumentaram a liquidez de suas ações, na média, em 40%.

No caso da Hering, contudo, apenas esse passo não bastou. Frederico Oldani, diretor de RI, conta que a liquidez dos papéis se manteve restrita porque até 2009 cerca de 85% do capital da Hering estava nas mãos de seis grandes acionistas — com destaque para a Tarpon e o HSBC. “Havia muito pouco papel disponível, por isso buscamos convencer esses investidores da necessidade de vender, aos poucos, sua participação em bolsa”, diz Oldani.
Os acionistas toparam e, a partir do último trimestre daquele ano, o volume médio diário de negociação começou a crescer. Paralelamente a isso, a diretoria de RI trabalhava para mostrar a bancos, corretoras e investidores institucionais que a companhia estava ampliando o lucro, reduzindo as despesas operacionais e aumentando a eficiência. O esforço não era feito só no Brasil, mas também nos Estados Unidos e na Europa. “Precisávamos dar a cara e mostrar a nossa história”, lembra Oldani. Naquela época, apenas uma instituição financeira analisava o papel da Hering: o Santander. Hoje, 18 casas diferentes, entre corretoras e bancos, se dedicam a essa tarefa.

Circulação
A companhia de bens de consumo Hypermarcas e a incorporadora e construtora MRV também recorreram ao aumento do número de papéis em circulação para turbinar a frequência de compras e vendas. Em junho de 2009, a construtora fez uma oferta primária de ações, na qual emitiu o correspondente a 18% de seu capital social. O resultado foi positivo. Quando a MRV abriu o capital, em 2007, o volume diário negociado com suas ações estava em R$ 21,1 milhões. No segundo semestre de 2009, após o follow-on, esse valor passou a R$ 34,5 milhões.

A Hypermarcas, por sua vez, fez duas ofertas subsequentes — uma em 2009 e outra em 2010 — que elevaram seu free-float de cerca 22%, no IPO, para, respectivamente, 41,6% e 49,8%. As emissões permitiram a ampliação da base de investidores e geraram caixa para aquisições. Com o dinheiro, a varejista comprou mais de duas dezenas de companhias e passou a aparecer constantemente na mídia. A exposição e o crescimento atraí-
ram os investidores, catapultando o volume acionário negociado de R$ 10,83 milhões diários, em 2009, para R$ 50,82 milhões no ano seguinte. A elevação possibilitou que a varejista entrasse para a carteira do Ibovespa. “Hoje, pelo menos 15 instituições financeiras acompanham ativamente as ações da Hypermarcas. As coberturas contribuem para gerar visibilidade e favorecem a liquidez das ações”, afirma Breno Oliveira, diretor de tesouraria e RI da Hypermarcas.

Outra forma de aumentar a quantidade de papéis em circulação é usar a bonificação — um aumento de capital da companhia por meio da capitalização de reservas. Esse tem sido um dos principais trunfos do Itaú Unibanco para reduzir o valor unitário de seus papéis e incrementar a liquidez. Como a bonificação representa apenas a transferência de valor da conta de reservas para o capital, sem alterar o patrimônio líquido, o preço do papel em bolsa tende a recuar, uma vez que o valor de mercado da companhia não se alterou. Em 2009 e 2013, o Itaú realizou duas bonificações à razão 10% — em outras palavras, a cada dez ações que detinha, o acionista recebeu uma nova.

Iniciativas como essa ajudaram o banco a impulsionar o volume diário de negociação em bolsa de R$ 191 milhões, em 2009, para R$ 331 milhões no primeiro semestre de 2013. Outro fator positivo para o aumento da liquidez foi a união de Itaú e Unibanco, anunciada em novembro de 2008. “Com a fusão, o papel do Itaú ganhou a liquidez da ação do Unibanco, que já era muito negociado no exterior”, observa Rogerio Calderón, diretor de RI da instituição. Hoje, cerca de 60% da movimentação de papéis do banco é feita na bolsa paulista; o restante é negociado em Nova York. Da base de acionistas, 32% são brasileiros e 68%, estrangeiros.

Barateando
Assim como a bonificação, o desdobramento reduz o valor das ações e tem impacto sobre a liquidez. Em outubro de 2010, a Hering fatiou seus papéis na razão de 1 para 3, tornando o preço mais acessível: de R$ 83,70 para R$ 27,90.
“De tempos em tempos, se a ação está cara, é bom avaliar o desdobramento. Um valor entre R$ 20 a R$ 30 é um patamar interessante”, avalia Oldani.

A MRV também optou por desdobrar suas ações na proporção de 1 para 3 a fim de ganhar liquidez em bolsa. Como resultado, o preço dos papéis baixou de R$ 40 para R$ 13,30, fazendo o volume diário de negociação passar de R$ 15 milhões para R$ 40 milhões, entre o primeiro semestre de 2009 e igual período de 2010. “Isso contribuiu para que, em janeiro daquele ano, entrássemos pela primeira vez na carteira teórica do Ibovespa”, recorda Mônica Simão, diretora-executiva de RI da MRV.

O desdobramento é umas das ferramentas preferidas dos RIs para tornar suas ações mais líquidas. Na década de 2000, o professor de finanças Paul Schultz analisou 235 desdobramentos, na proporção de 1 para 2 ou mais, ocorridos entre 1993 e 1994 nas bolsas norte-americanas. Ele verificou que, após o evento, os papéis dessas companhias passaram a ser mais negociados, principalmente pelos pequenos investidores. A pesquisa foi publicada no jornal da American Finance Association com o nome Stock Splits, Tick Size, and Sponsorship.

Formador de mercado
Quando o assunto é o uso de formador de mercado para expandir a liquidez, Hering e MRV divergem. Enquanto a fabricante têxtil prefere não usar esse artifício, a construtora optou por contratar um formador de mercado desde a abertura de capital. Esse profissional assume o compromisso de levar ao pregão, diariamente, ofertas firmes de compra e de venda para uma quantidade de ações predeterminada. Ao fazer isso, garante um grau mínimo de liquidez aos papéis e proporciona um preço de referência para a negociação do ativo.

“Esse agente é importante para manter a liquidez das ações, sobretudo em momentos em que a bolsa não vai bem”, justifica Mônica, da MRV. A Hypermarcas também conta com um formador de mercado desde a oferta pública inicial de ações. A Hering, entretanto, é cética quanto aos benefícios trazidos por essa atividade: “Acredito que o trabalho proativo de uma equipe de RI e outras providências são mais relevantes”, afirma Oldani.

Um estudo produzido por Marcelo Perlin, da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mostra que a contratação de um formador de mercado pode compensar. O autor analisou 106 companhias em julho de 2011 e verificou que, após a entrada do formador, o número de negócios com as ações das empresas cresceu, em média, 31%. Esse incremento foi mais pronunciado em papéis que já possuíam certo nível de liquidez, destaca o estudo.

Comunicação eficaz
Não importa qual seja a técnica utilizada para aumentar a liquidez, uma comunicação eficiente com os investidores nunca pode faltar. A Hypermarcas, por exemplo, realiza anualmente o Hype Day, no qual reúne acionistas e executivos para falar das estratégias da empresa. Em 2012, o número de investidores presentes ultrapassou os 230. “Além disso, participamos de diversas conferências organizadas por instituições financeiras no Brasil e no exterior. No ano passado, foram mais de 300 reuniões e 1.800 atendimentos por telefone e e-mail”, frisa Oliveira.

“Há uma relação circular entre a liquidez e o número de coberturas. São interesses que se retroalimentam”, analisa Guido Lemos, diretor de RI da PDG Realty. A incorporadora tem obtido sucesso em aumentar a liquidez de seus papéis. Em 2008, o volume médio de ações negociadas por dia girava em torno de R$ 11 milhões. Hoje, essa quantia beira a marca dos R$ 80 milhões. Lemos credita a alta ao contato estreito com os investidores e a um free-float elevado, superior a 90%.

O Itaú também é conhecido pela comunicação habilidosa com os investidores. Organiza mais de 20 reuniões Apimec por ano no Brasil e promove algo como 25 conferências e non-deal roadshows com corretoras brasileiras e estrangeiras. Graças a essas iniciativas, apesar do pessimismo dos investidores com a bolsa de valores nos últimos tempos, o percentual de acionistas pessoas físicas na sua base acionária tem crescido: em junho, era 2,5% superior ao computado no mesmo mês de 2012. “O Itaú opera com crédito de consumo e financiamento a empresas de vários setores, o que significa uma ampla exposição à economia brasileira. Isso torna o papel interessante”, ressalta Calderón. O conjunto da obra, mais uma vez, faz toda a diferença.

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