Ações para avançar
Relatório sugere caminhos para desenvolvimento mais acelerado em investimento de impacto
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Daniel Izzo*/ Ilustração: Julia Padula

A partir de 2016, começaram a chegar à caixa postal da Vox Capital e-mails diferentes do que era habitual. Em vez de empreendedores buscando investimentos, passamos a receber — sem termos feito nenhum esforço ativo comercial ou de marketing — mensagens de pessoas físicas que queriam investir conosco. Quase sempre o discurso se repetia. “Estou cansado de investir em coisas em que não acredito em busca apenas de retorno financeiro.” “Quero agora alinhar as minhas decisões de investimento aos meus valores pessoais.” “Pesquisei as opções existentes e encontrei vocês.”

Na grande maioria das vezes, tratava-se de investidores pequenos, que ainda hoje têm poucas opções no mercado para aplicar seu dinheiro de maneira ética e sustentável. Esse interesse vem aumentando rapidamente, no Brasil e no mundo. Cada vez mais pessoas e organizações querem, por meio de suas escolhas de alocação financeira, contribuir para melhorar o mundo em que vivemos. É esse impulso que gera o crescente interesse pelos investimentos de impacto.

Entretanto, na prática, o potencial não está sendo totalmente aproveitado. Ainda existem travas que fazem o volume investido e o nível de atividade serem menores do que a demanda já existente. Considerando esse contexto, o Global Impact Investing Network (GIIN), um dos atores mais relevantes e ativos do mundo em investimentos de impacto, lançou recentemente um relatório sugerindo caminhos para um desenvolvimento mais acelerado desse segmento.

A publicação (“Roadmap for the Future of Impact Investing”) é bastante ousada e apresenta uma definição peculiar de sucesso: no investimento de impacto, ele significa muito mais que a multiplicação dos recursos investidos; na visão de futuro desenhada pelo GIIN, sucesso seria uma transformação efetiva no sistema financeiro global como um todo, com o impacto se transformando num fator considerado em toda decisão de investimento e de alocação de dinheiro. Ou seja, um ambiente em que os investimentos de impacto seriam simplesmente investimentos. Para se alcançar essa meta, o relatório sugere um plano de cinco a sete anos, com as seguintes ações:

Fortalecimento de identidade. Os atores de investimento de impacto deveriam seguir um conjunto de princípios comuns para decisões de investimento, criando uma visão de propósitos compartilhados, como os que animam movimentos mais amplos de transformação no mundo.

Mudança de paradigma. Revisão da avaliação de decisões financeiras para inclusão do impacto ao lado dos vetores de risco e retorno. Além disso, a ação requer que gestores de ativos usem seus incentivos de longo prazo para alinhar os objetivos de impacto e aos de retorno financeiro. Nesse ponto, o relatório cita a Vox Capital como um dos poucos exemplos de quem já faz isso no mundo.

Expansão da carteira de produtos. Hoje, principalmente no Brasil, a oferta de produtos de impacto é muito restrita. No caso dos fundos de impacto disponíveis atualmente, há — quase exclusivamente — Fundos de Investimento em Participações (FIPs) voltados a investidores profissionais. É preciso que exista uma carteira mais variada, com outras classes de ativos e maior acesso para investidores de varejo.

“Equipar” investidores. E necessária a criação de certificadores terceirizados para validação do impacto causado pelos produtos financeiros oferecidos. Só assim existiria uma fonte confiável para investidores obterem informações capazes de fundamentar adequadamente uma seleção para alocação de recursos.

Treinamento de profissionais. Associações de profissionais de finanças deveriam iniciar esforços para treinar executivos que estão no meio de suas carreiras sobre os investimentos de impacto. A demanda está cada vez maior por parte dos clientes, mas poucos são os que entendem a dinâmica e estão prontos para responder ao interesse crescente. Também deveria ser dado maior apoio para aceleradoras e incubadoras conseguirem desenvolver mais empresas com potencial de investimento, de forma a darem conta do aumento da oferta de capital.

Criação de políticas públicas que possam remover barreiras e incentivar os investimentos de impacto. No Brasil, por exemplo, foi recentemente criada uma política nacional para o tema, em uma iniciativa do Ministério do Desenvolvimento com apoio da força-tarefa de finanças sociais e negócios de impacto. O relatório pede para que cada vez mais os governos atuem em favor dessa prática e ajudem o mercado a se desenvolver.

Dados os enormes e urgentes desafios sociais e ambientais da atualidade, a visão do relatório do GIIN é mais que ousada — é necessária. Felizmente, a cada dia a população se torna mais consciente de que todos fazem parte do problema — e, portanto, também da solução. Dessa forma, já é possível imaginar no horizonte, como uma possibilidade real, um futuro em que “todos os investimentos serão investimentos de impacto”. Para o bem do setor e de todos nós.


*Daniel Izzo ([email protected]) é sócio-cofundador da Vox Capital


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