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Poupança socioambiental
Fundos sociais têm poucos adeptos no Brasil, mas atingem retornos superiores à média do mercado

ed23_p052-054_pag_3_img_001Os fundos de ações de empresas socialmente responsáveis são uma opção nova de investimento no mercado brasileiro, mas seu histórico já deixa boa impressão. Os rendimentos são superiores à media dos retornos obtidos pelos fundos de ações e, também, maiores que o do Ibovespa. O primeiro banco a entrar nesse segmento foi o Real ABN Amro, no final de 2001, com a criação de dois fundos. No ano passado, foi a vez do Itaú criar suas três opções de aplicação.

A modalidade ganhou a adesão de poucos gestores e continua restrita aos dois bancos mencionados. Por isso seu contingente no Brasil ainda é bastante reduzido se comparado com outros mercados. Informações de gestores de recursos ouvidos pela Capital Aberto indicam que, nos Estados Unidos, existem entre 200 e 300 fundos. Na Ásia, entre 20 e 30.

Dados da consultoria de estratégia em sustentabilidade Atitude, obtidos no SRI in the Rockies Fórum de 2004 – encontro internacional realizado pelo 15º ano nos Estados Unidos que reúne os maiores gestores e especialistas em fundos éticos em atividade no mundo –, revelam que a indústria de fundos sociais (Social Responsible Investment – SRI – funds) movimenta cerca de US$ 2,16 trilhões no mundo, o equivalente a 11% de todo o dinheiro administrado profissionalmente no mercado norte-americano.

No Brasil, os números são muito mais modestos, mas ABN e Itaú mostram disposição para apostar no segmento. O ABN, inclusive, está montando uma área de análise voltada somente para ativos de empresas com investimentos sócio-ambientais.

O primeiro fundo da instituição, o ABN Amro FIA Ethical, foi criado dia 1 de novembro de 2001. Cinco dias depois, surgiu o Ethical 2. O patrimônio líquido somado dos dois passa de R$ 73 milhões. No início, era de R$ 3,5 milhões. O que os diferencia é que o Ethical exige aplicação mínima de R$ 100 e a taxa de administração cobrada é de 3% ao ano. Para o Ethical 2, o banco pede investimento inicial de R$ 100 mil e cobra uma taxa de 0,6% ao ano. Ambos recebem investimentos de pessoas físicas e jurídicas, mas devido ao valor da aplicação inicial, o Ethical 2 tem sido mais procurado por clientes institucionais.

Segundo Pedro Angeli Villani, gestor de renda variável do ABN Amro, a composição da carteira de ações do fundo varia de 23 a 25 papéis e inclui empresas como Natura, Vale do Rio Doce, Telemar, Sabesp, Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), Comgás e Belgo-Mineira. A decisão do ABN de criar o fundo levou em conta o interesse de investidores de longo prazo. O executivo tem em seu discurso de venda o argumento de ser este um produto mais completo que o fundo tradicional. “Escolhemos ações de empresas que têm respeito pelos acionistas minoritários, pelos funcionários e pelo meio ambiente”, afirma.

O Itaú criou seu primeiro fundo, o Itaú Excelência Social FIA, em fevereiro de 2004. No início, ele não foi oferecido à clientela. A idéia era fazer um teste em função de suas características, voltadas para companhias com compromisso sociais. O patrimônio líquido inicial era de R$ 5 milhões, sendo parte da Fundação Banco Itaú. Em outubro, outros dois fundos foram criados a partir do primeiro, o Excelência FICFI e o Itaú Personnalité Excelência Social Ações FICFI. Como no caso do ABN, os fundos do Itaú também têm taxas de administração distintas. O Personnalité é voltado somente para clientes dessa área do banco.

A rentabilidade desses fundos tem deixado para trás a média do mercado, bem como superado uma cesta de fundo de ações. Segundo cálculos do site Fortuna, o ABN Ethical acumulava uma valorização de 153,20% desde que foi criado até o dia 20 de junho. O percentual supera em quase 25 pontos percentuais a variação do Ibovespa no período, de 128,73%. Os ganhos do fundo foram maiores, inclusive, que a média de 132,15% apresentada pelo total de 263 fundos de ações acompanhados pelo Fortuna no mesmo período. O ganho se aproxima mais dos 168,88% acumulados pelo IBX- 50. “Esse período foi marcado pela valorização das ações de empresas de segunda linha. Os fundos small cap se deram bem, o que mostra uma procura por parte dos investidores por negócios mais sólidos e não apenas por papéis com mais negócios na Bovespa”, avalia Marcelo D’Agosto, sócio do Fortuna.

REGRAS DE GOVERNANÇA – Para compor a carteira dos fundos, o ABN utilizou dois critérios: a performance em responsabilidade corporativa e a atratividade financeira. “Olhamos setor por setor e pegamos a melhor empresa nesses dois quesitos”, revela Villani. Para avaliar o desempenho cor porativo, o administrador listou cerca de 90 indicadores de gestão ambiental, recursos humanos, relações com a comunidade e consumidores, práticas de governança corporativa, princípios de respeito aos minoritários e benefícios concedidos aos acionistas além dos previstos na Lei das Sociedades Anônimas.

A companhia precisa também mostrar certo grau de independência no conselho de administração para entrar no fundo. O conselho deve ter ao menos um ou dois conselheiros independentes. Na área ambiental, o gestor do Ethical diz que são avaliadas a política ambiental da empresa e a performance em indicadores como poluição da água, do solo e se a companhia já foi multada ou não.

Tanto os fundos do ABN como os do Itaú não investem em empresas fabricantes de cigarros, bebidas ou pertencentes às indústrias bélica e nuclear. Portanto, estão fora das carteiras companhias como Souza Cruz, AmBev e Eletrobrás. Villani conta que o fundo deixou de investir na Brasil Telecom em 2003 devido aos problemas de governança corporativa. “Nós antecipamos os atuais problemas”, afirma, referindo- se ao imbróglio em que se transformaram as relações entre o banco Opportunity, ex-gestor de fundos que controlam a operadora de telefonia, e os sócios Citigroup e Telecom Itália. A última empresa a entrar na carteira foi a América Latina Logística (ALL). “Uma das coisas que qualificou a ALL foi o fato de ela atuar em transporte ferroviário, que é mais positivo para o meio ambiente do que o transporte rodoviário. Outro ponto foi a evolução que a empresa vem apresentando, com a melhora no número de acidentes”, diz o gestor.

O banco Itaú também tem seus critérios para eleger os papéis que compõem os fundos. Segundo Walter Mendes, superintendente de renda variável do banco, as 19 empresas que hoje fazem parte da carteira, entre elas Petrobras, Vale do Rio Doce e Itaúsa, têm de ter bom desempenho em três áreas: governança corporativa, responsabilidade ambiental e boas práticas de relacionamento com funcionários, fornecedores e comunidade. “Pegamos o conceito de fundo social usado nos Estados Unidos”, afirma o executivo.

Segundo Fernando Salgado, consultor da Atitude, os fundos norte-americanos de SRI podem ser classificados em fundos para desenvolvimento de comunidades específicas (Community Investing Funds), que se focam no desenvolvimento de regiões do globo carentes de recursos; fundos que evitam investimentos em setores como bebidas e armas (Avoidance Screening Funds) e fundos que buscam as melhores empresas para os acionistas e outros stakeholders (Screening Shareholder Advocacy).

RANKING PARA SELEÇÃO – Desde que o fundo do Itaú começou, algumas empresas já deixaram de compor a carteira. Juan Morales, gestor do Itaú, conta que os critérios para a exclusão foram fundamentalistas e prefere preservar os nomes das empresas que foram excluídas. Para chegar aos integrantes da carteira, o banco elaborou um questionário com 26 perguntas, cada uma com um peso. Essa avaliação foi encaminhada para 82 companhias. “Com as respostas, montamos um ranking de responsabilidade social”, conta Morales.

Para fazer parte dos fundos do Itaú, as companhias devem também integrar um dos três níveis de governança corporativa da Bovespa e precisam divulgar balanço social. No momento de escolher, o gestor verifica se elas obtiveram ao menos seis pontos nas questões voltadas para as relações com consumidores, funcionários e sociedade; e outros dois pontos nos quesitos de gestão ambiental. “Se a empresa não atende ao menos duas dessas exigências, está fora da carteira”, explica Morales. Daquelas 82 empresas convidadas a responder o questionário, 31 foram selecionadas. Dessas, 19 formam a carteira.

ANÁLISE SOCIAL – De olho nos clientes que privilegiam investimentos socialmente responsáveis, a corretora do ABN está montando uma área de análise para empresas que fazem investimentos sócio-ambientais. Em princípio, o trabalho tem levado em conta somente as companhias de papel e celulose, como Aracruz, Votorantim Celulose e Papel (VCP), Suzano, Klabin e Ripasa. “Esse setor é o que estava mais apto para esse tipo de análise. As empresas já têm de tomar medidas de proteção ao meio ambiente, pela própria natureza do negócio”, conta Michela Aimar, analista da corretora.

A avaliação das companhias, além dos aspectos ambientais, vai levar em conta os indicadores fundamentalistas tradicionais. O trabalho começou há pouco mais de três meses. Devem ser considerados itens relevantes em questões sociais e em governança corporativa. Segundo Mark Olichon, diretor da corretora do ABN, a idéia é criar um ranking, com notas atribuídas às empresas. O primeiro relatório da analista será divulgado no final de julho.


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