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Por um lugar na prateleira
Segunda edição do Brazil Day em Nova York revela as diferenças dos tempos pós-Enron e atentados e mostra um país mais convincente em suas projeções macroeconômicas

O pregão do dia 17 de nove, Por um lugar na prateleira, Capital Abertombro na Bolsa de Nova York começou com um toque de Brasil. No comando do botão que acionaria o sino de abertura estava Luiz Fernando Furlan, ministro do desenvolvimento, indústria e comércio exterior. A ele juntavam-se Luiz Leonardo Cantidiano, presidente da Comissão de Valores Mobiliários, e o embaixador do Brasil em Washington, Rubens Barbosa, além de uma comitiva de representantes da bolsa norte-americana.

Começava ali a segunda edição do Brazil Day, um dia inteiro de palestras de empresas brasileiras em Nova York para investidores e analistas estrangeiros. Foram seis painéis de apresentações setoriais e 21 companhias participantes, 19 delas emissoras de ADRs negociadas no mercado norte-americano.

A não ser pelo número de empresas participantes (22 companhias fizeram apresentações no Brazil Day anterior), o evento deste ano pouco lembrou o primeiro, realizado em 2001. A começar pela data. Cautelosos para não se expor novamente às críticas dos mais nacionalistas e provocar manifestações de protesto como as que ocorreram no evento anterior, os organizadores logo descartaram a possibilidade de repetir o Brazil Day no dia 7 de setembro, data da independência do Brasil. Optaram por novembro, mês em que as companhias já teriam em mãos os números do terceiro trimestre e a economia teria chances de mostrar perspectivas mais animadoras para o ano seguinte.

Outras diferenças entre os dois eventos começaram a ser traçadas apenas quatro dias após o primeiro Brazil Day, quando o maior ataque terrorista da história destruiu o cartão postal nova-iorquino e iniciou uma retração dos fluxos de capitais globais que só daria sinais de alívio dois anos depois, quando o Brazil Day voltava a Nova York. Abaixo as duas torres gêmeas, apenas algumas semanas se passaram para que começassem a ruir a gigante de energia elétrica Enron e uma das maiores firmas de auditoria do mundo. Companhias com ações listadas na Bolsa de Nova York (Nyse) perderam mais de US$ 3,6 trilhões em valor de mercado abaladas pela crise de confiança que se alastrava pelos mercados globais.

Os resquícios dos acontecimentos que sucederam o primeiro Brazil Day apareceram em cada detalhe da sua segunda edição. O glamour da Bolsa de Nova York, por exemplo, já não foi palco para todo o evento, como ocorrera em 2001. Com regras de segurança cada vez mais rígidas, a Nyse acabou preterida pelos organizadores, que preferiram realizar o evento num hotel para ter mais flexibilidade. Na bolsa mesmo, houve tempo apenas para a celebração do evento com o toque do sino de abertura do pregão e um rápido café da manhã com representantes da comitiva brasileira., Por um lugar na prateleira, Capital Aberto

No discurso de abertura do café, mais um sinal dos novos tempos. Robert Britz, atual presidente da Nyse, substituía Richard Grasso, presidente que proferiu o discurso no primeiro Brazil Day e renunciou ao cargo em setembro passado. Demovido pela intolerância de investidores e autoridades com sua remuneração milionária, Grasso não resistiu à desconfiança que se abateu sobre os grandes executivos depois das manipulações e fraudes corporativas reveladas no pós-Enron.

O segundo Brazil Day também não contou com o mesmo número de investidores. Segundo os organizadores, cerca de 230 pessoas, entre analistas de investimentos e de crédito, administradores de carteira, executivos de bancos e de companhias, participaram do evento este ano, pouco mais da metade dos cerca de 400 participantes do primeiro Brazil Day. Segundo José Marcos Treiger, diretor de relações com investidores da Braskem e organizador do evento, o menor número de investidores e analistas presentes foi reflexo da forte redução nas equipes dos bancos desde o final de 2001. Abatidos pela crise de confiança que não poupou os analistas e rapidamente encolheu os fluxos de capitais, bancos e grandes investidores institucionais trataram de diminuir suas equipes.

MUDANÇAS DE PERSPECTIVA – Por conta dos efeitos dos ataques e escândalos corporativos, e por mais uma série de eventos internos – entre eles as eleições presidenciais -, o Brasil do segundo Brazil Day também não era mais o mesmo. O que se tinha em 17 de novembro de 2003 era um país certamente pior, porém carregado de perspectivas positivas para o ano seguinte.

No evento de 2001, o então ministro da Fazenda, Pedro Malan, deu a má notícia de que o PIB do país não cresceria mais 4,5%, como previsto no início do ano, mas apenas 2,2%. No final de 2001, o placar marcou 1,5%. Desta vez, as previsões mais otimistas para 2003 não passam de porcentuais próximos a zero.

A ressaca de um ano sem crescimento é acompanhada do pior nível de investimento estrangeiro direto dos últimos anos: US$ 9 bilhões, contra R$ 22,6 bilhões em 2001 e US$ 15,7 bilhões em 2002. A dívida líquida do setor público continua alta e chega a 57% do PIB, superior aos 53% de 2001.

Ao mesmo tempo em que assiste aos indicadores amargos, o Brasil acompanha com entusiasmo as projeções otimistas para 2004. Taxas de juros em queda, exportações em alta, saldos positivos nas contas externas e inflação sob controle levam economistas a prever crescimento de até 4% no próximo ano. Entre o que ficou de bom para o Brasil em 2003, registra-se a queda das taxas de juros de 25% para 17,5%, o aumento do superávit primário, de 3,91% para 5%, e do saldo positivo da balança comercial, de US$ 13 bilhões para US$ 21,6 bilhões (sempre comparando-se dados do final de 2002 com os últimos disponíveis em 2003). “Os números do quarto trimestre serão fortes e 2004 será o início de um ciclo virtuoso”, disse Furlan na cerimônia de abertura do Brazil Day.

A BOVESPA COMO ALIADA – Conforme a lógica do mercado acionário, as projeções otimistas para 2004 começaram a ser refletidas na bolsa a partir deste ano. Até o fechamento desta edição, a Bolsa de Valores de São Paulo acumulava alta de 79%, com o Ibovespa exibindo recorde histórico de 20.183 pontos. O bom desempenho de 2003 também deu à bolsa paulista um papel diferente na segunda edição do Brazil Day. No primeiro evento, a bolsa ressentia os efeitos da liquidez minguada no mercado local em contrapartida ao crescimento das negociações com American Depositary Receipts (ADRs) na Bolsa de Nova York. Na véspera do Brazil Day, os operadores e funcionários da Bovespa organizaram um protesto contra a ida de empresas brasileiras para Nova York. Eles queriam chamar a atencão do governo, que estaria representado no Brazil Day pelo ministro Malan, para o fato de que a cobrança da CPMF sobre as operacões em bolsa tornava cada vez mais vantajosas as negociações fora do País. Em uma faixa estendida na fachada da sede da bolsa na capital paulista, diziam: “Exportar ou morrer? Exportar a bolsa é morrer.”

A média do volume diário de negócios na Bovespa havia despencado de R$ 1,2 bilhão, em 1997, para menos de R$ 400 milhões em 2001. Na Nyse, as negociações com ADRs das 27 empresas presentes no mercado norte-americano à época correspondiam a 77% do volume gerado com todas as ações do Índice Bovespa. Agora, depois de meses de euforia no mercado acionário, o volume médio diário da bolsa novamente se aproxima da casa de R$ 1 bilhão e as transações com ADRs na Nyse não representam mais de 60% do volume negociado em São Paulo.

O fim da cobrança da CPMF e a melhora de humor do mercado fizeram com que tudo fosse diferente no Brazil Day deste ano e a Bovespa participasse ativamente do evento, inclusive como organizadora. “Nós não tínhamos nada contra os ADRs, mas sim contra o fato de que estávamos em condição muito menos competitiva”, explica Maria Helena Santana, superintendente de relações com empresas da Bovespa.

Investidores preferem ações do mercado local


Entre junho e setembro deste ano, a Thomson Financial e o JP Morgan ADR Group consultaram mais de 100 analistas e investidores que atuam em gestão de carteiras (“buy-side”) e negociam American Depositary Receipts (ADRs). Concluíram que 37% deles preferem comprar ações no mercado local e outros 30% optam pelos ADRs como veículo de investimento a fim de reduzir os custos de custódia e ampliar a eficiência das transações.

A preferência por papéis domésticos, segundo a pesquisa, se dá por quatro razões: gerar liquidez para o mercado local, acessar um número maior de companhias que as disponíveis no universo de ADRs, pagar prêmios menores e aproveitar a relação direta entre os eventos locais e o movimento das ações. Alguns investidores afirmaram, contudo, que preferem os ADRs quando investem nos mercados emergentes devido à falta de liquidez dessas praças.

Outro dado da pesquisa é que, para a maioria dos investidores (72%), as normas de transparência e governança introduzidas pela lei Sarbanes Oxley não afetam suas decisões de investimento. Para esses investidores, o que realmente importa é a performance da companhia, diz o estudo.

A pesquisa revela ainda que 74% dos investidores consultados estão satisfeitos com o nível de comunicação das companhias estrangeiras. Mas gostariam de ver melhorias como mais freqüência na comunicação dos resultados, maior padronização nas divulgações de resultados financeiros, mais acesso ao executivo de relações com investidores e aos executivos seniores, mais visitas aos investidores baseados nos Estados Unidos e informações mais detalhadas nos websites. Esses investidores fizeram ressalva especial às companhias japonesas, as quais, afirmaram, precisariam adquirir melhores práticas de relações com investidores.

Quatro brasileiras ganham prêmio de RI

O dia das empresas brasileiras em Nova York terminou com quatro boas surpresas no jantar de premiação das melhores empresas latino-americanas em relações com investidores organizado pela revista IR Magazine. Vale do Rio Doce, Ambev, Copel e Votorantim Celulose e Papel (VCP) foram vencedoras entre as 12 categorias da premiação.

A Vale conquistou junto com a construtora mexicana Corporación Geo o principal prêmio da noite, o Grand Prix for Best Overall Investor Relations. Levou também os prêmios de melhor relatório anual e melhor relações com investidores entre empresas brasileiras na categoria large cap (elevada capitalização de mercado). Na categoria small cap (pequena capitalização de mercado), o prêmio também ficou com uma brasileira, a Copel.

A Ambev foi vitoriosa no prêmio de melhor website e a VCP dividiu com a Telmex o primeiro lugar no prêmio de melhor RI para um CEO ou chairman, o qual foi dedicado ao executivo Raul Calfat. Também receberam menções honrosas as brasileiras Telemig Celular, Usiminas, Banco Itaú, Embraer, Telemar, Petrobras, Telesp Celular, Sadia e Ultrapar.

A pesquisa foi realizada pela empresa Erdos & Morgan sediada em Nova York, com mais de 150 analistas e investidores de 17 países. Nas opiniões manifestadas pelos investidores consultados, percebe-se que os aspectos mais valorizados foram a qualidade do time de profissionais de RI e a facilidade de acesso a esses profissionais.

Apesar do bom resultado das brasileiras, a grande vencedora do Latin America Awards 2003 foi mesmo a Corporación Geo, que levou o prêmio nas quatro categorias em que foi indicada, sempre como small cap. A notícia da premiação veio completar um ano de boas conquistas para a construtora. Depois de sofrer uma brusca queda de desempenho em 2000 – quando o lucro líquido da companhia baixou de US$ 40 milhões para US$ 15 milhões . a Corporación Geo recuperou os níveis de lucratividade anteriores à crise a obteve uma valorização de 176,14% para suas ações este ano, contra 15,5% em 2002. .Podemos falar que esta é uma grande história de virada na América Latina, na qual o trabalho da área de relações com investidores teve um papel fundamental., disse Miguel Gómez Mont, vicepresidente executivo do grupo, em comunicado oficial sobre a premiação.

A CPMF acabou, mas nem todos os pesadelos do mercado desapareceram de lá para cá. Na época do protesto, pleiteava-se que não fosse aplicado o aumento de carga tributária sobre os ganhos de capital com operações em bolsa. Mas desta vez as vozes dos opositores não foram ouvidas e o governo ampliou de 10% para 20% a taxação sobre as aplicações em renda variável, igualando-a à incidente sobre a competitiva renda fixa.

A FORÇA DOS ADRS – O Brazil Day deste ano foi prova de que as companhias brasileiras continuam interessadas nos ADRs como veículo de aproximação com investidores estrangeiros e de financiamento no mercado global. Hoje, mais de 60 companhias possuem algum programa de ADR: 32 têm ADRs listados na Nyse, 33 no mercado de balcão, uma na Nasdaq e outras três emitiram ADRs voltados a investidores qualificados, no âmbito do programa chamado 144-A. Ao que tudo indica, a estratégia tem valido a pena. Das 20 ações que mais valorizaram este ano (até o dia 31 de outubro), 15 são de companhias que possuem algum programa de ADR.

Os benefícios dos programas de DRs (Depositary Receipts) foram objeto de um extenso estudo da consultoria independente Oxford Métrica este ano. Após uma análise de 767 programas vigentes no período de 1980 a 2003, a consultoria concluiu que os DRs agregam, em média, 10% em valor para os acionistas no primeiro ano de negociação dos papéis.

RUMO À EUROPA – José Marcos Treiger afirma que ainda não há posição definitiva quanto à freqüência do Brazil Day daqui em diante. Mas tem a expectativa de que o evento passe a ser realizado regularmente uma vez a cada dois anos. Treiger também tem planos de promover a organização de fóruns semelhantes em praças como Londres e Madri. A idéia é fazer o dia do Brasil na Latibex já em abril do próximo ano. “Temos que buscar o nosso lugar na prateleira antes que outros peguem”, diz Treiger.

A idéia de ir a Madri tem boas referências. Entre 19 e 21 de novembro, dois dias após o Brazil Day, teve início na capital espanhola o Foro Latibex, evento que reuniu mais de 60 companhias latino-americanas e cerca de 400 investidores, analistas e executivos de instituições intermediadoras. Esta foi a quinta edição anual do evento, que tem por objetivo apresentar companhias latino-americanas à comunidade financeira européia, fortalecer relacionamentos e promover a transparência. Segundo os organizadores do Foro Latibex, foram realizadas, ao todo, 700 reuniões individuais com analistas (one-on-one meetings), um recorde em relação a anos anteriores.


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