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Por que não pegou?
Sem taxonomia definida e interesse por parte das empresas, o padrão internacional de organização de dados financeiros não emplacou no Brasil

, Por que não pegou?, Capital AbertoImagine poder comparar balanços de várias empresas, independentemente do país de origem ou da bolsa em que estão listadas, e montar relatórios personalizados em apenas alguns cliques. Pense na possibilidade de, com base num único banco de dados financeiros, gerar documentos de texto, planilhas e PDFs, sem ter de redigitar informações, nem copiar e colar dados. Pois saiba que essa tecnologia existe, chama-se XBRL e, por diversas razões, ainda não emplacou no Brasil.

Quando surgiu, há exatos dez anos, em abril de 1998, a sigla para Extensible Business Reporting Language foi festejada como um padrão universal para organizar dados financeiros. Isso ocorreu em 18 países, que adotaram a linguagem como padrão obrigatório ou voluntário. Entre as bolsas orientais, o XBRL é corrente na China, na Coréia do Sul e no Japão. Nos Estados Unidos, o uso é incentivado pela Securities and Exchange Commission (SEC), que oferece em seu site programas para visualização de relatórios interativos. O chairman da agência, Christopher Cox, é um dos garotos-propaganda do XBRL.

No Brasil, em 2002, havia quem previsse que a tecnologia estaria em vigor em até um ano. Mas todos os prazos declarados até agora furaram. O principal inibidor para o uso da linguagem é a falta de uma taxonomia — sistema de classificação que permite “etiquetar” permanentemente os dados financeiros com a conta correspondente — aprovada especificamente para os princípios contábeis brasileiros. As únicas empresas do País que utilizam a linguagem são Gol, Petrobras, Bradesco e NET, todas listadas em bolsas norte-americanas e participantes do programa de adesão voluntária da SEC.

Outra questão em aberto é quanto ao órgão que regulamentará o uso de XBRL no Brasil. Em alguns países, as bolsas tomaram a dianteira; em outros, a responsabilidade foi assumida pelos reguladores estatais. A instituição que mais se aproxima das exigências do XBRL International é o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). “Acreditamos que, pela característica de representação de vários órgãos, o CPC seja o mais adequado para exercer essa atividade”, diz Wang Jiang Horng, representante da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) no CPC. Entidades como a Abrasca, a Apimec Nacional, o Conselho Federal de Contabilidade, a Fipecafi e o Ibracon também estão presentes no CPC, assim como o Banco Central, a Comissão de Valores Mobiliários, a Secretaria da Receita Federal e a Superintendência de Seguros Privados.

Falta ainda no Brasil um mercado de prestadores de serviço especializados na adoção do XBRL. Companhias desse tipo esperam circunstâncias mais favoráveis para buscar clientes por aqui. Gigantes em soluções financeiras e corporativas como IBM, Oracle e Hitachi oferecem o conversor de arquivos para XBRL, além de programas de análise de dados financeiros. Espera-se também que as firmas de auditoria se mobilizem para estimular o XBRL. Sabe-se que, em outros mercados, elas foram um elemento decisivo de pressão para que a linguagem fosse disseminada. Pedro Melo, sócio da auditoria KPMG, acredita que a prioridade, agora, seja a convergência para o International Financial Reporting Standards (IFRS). O XBRL deve vir na seqüência.

IFRS: ESTÍMULO OU PEDRA NO CAMINHO? — Para Paulo Campos, gerente executivo de Relações com Investidores (RI) da Petrobras e diretor do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), o padrão internacional de contabilidade será um propulsor da nova tecnologia. “Hoje, a discussão sobre o XBRL gira em função da padronização de contas, principalmente no que diz respeito às nomenclaturas”, afirma. Com a migração do Brasil para o IFRS, esse trabalho de harmonização será feito durante o processo de adoção do novo modelo contábil. Mas esse processo de adaptação às mudanças trazidas pela nova lei contábil (11.638) e pelas normas internacionais não tende a atrasar ainda mais o processo? Haroldo Levy Neto, vice-coordenador de relações institucionais do CPC, acredita que não. “As mudanças trazidas pelo IFRS são grandes, mas, se a base for aprovada, a taxonomia vai precisar apenas de pequenas alterações.”

Enquanto essa adaptação acontece, uma taxonomia adequada à contabilidade brasileira atual está prestes a receber aval definitivo. Sob a batuta do professor Edson Riccio, do Laboratório de Tecnologia e Sistemas da Informação (Tecsi) da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), a taxonomia foi desenvolvida a partir do BR Gaap, com apoio técnico da XBRL International, entidade responsável por validar as taxonomias utilizadas em cada padrão contábil. Anunciada pelo Tecsi em outubro de 2007, ela está em processo de avaliação pela organização, sediada nos Estados Unidos.

Outro fator que promete acelerar o processo de difusão do XBRL no País é a participação da MZ Consult, principal consultoria de Relações com Investidores (RI) brasileira, na elaboração da taxonomia. Denys Roman, gerente de comunicação eletrônica da consultoria, acha que é apenas uma questão de tempo para o XBRL se tornar obrigatório. “Em breve, vamos fazer um evento, apresentar a taxonomia ao mercado e mostrar alguns casos de empresas que adotaram a linguagem”, diz Roman. A MZ espera que, no ano de lançamento da taxonomia brasileira, entre 50 e 60 companhias passem a utilizá-la. Visando atingir esse público, a consultoria planeja lançar aplicativos para visualização e conversão de arquivos para XBRL.

Num ecossistema favorável ao XBRL, a adaptação é rápida e de baixo custo. O diretor executivo de finanças e RI da NET Participações, João Elek, faz uma avaliação positiva da adesão ao programa da SEC. “Há três anos, quando começou o processo, nos pareceu muito interessante ter mais uma forma de aumentar a transparência. A NET estava pronta: nós já tínhamos uma série de padrões bem automatizados, então o esforço foi mínimo.” Em 2006, nos Estados Unidos, a Pepsico levantou os custos para arquivar na SEC parte de seus dados em XBRL pela primeira vez: foram gastos US$ 5 mil. Em um congresso naquele mesmo ano, Cox, da SEC, citou o exemplo da United Technologies — companhia com faturamento na casa dos US$ 43 bilhões na época — que fez a migração completa por US$ 40 mil. “O grande problema da conversão para o XBRL não é o custo, mas sim as mudanças e o aprendizado que ele implica para a empresa. Há também uma falta de percepção sobre a real utilidade do XBRL”, diz Alexandre Germani, sócio-diretor do Media Group, que acompanha a evolução do XBRL no Brasil. Para o consultor, por falta de conhecimento ou de interesse, o mercado brasileiro não está tão atento às vantagens concretas dessa nova linguagem.

SOLUÇÕES LOCAIS — Antes de surgir uma proposta mais universal para a organização de informação financeira e contábil, o mercado buscou soluções regionais para digitalizar e automatizar os processos relacionados às informações financeiras das empresas. Nos Estados Unidos, a SEC criou o Electronic Data Gathering, Analysis, and Retrieval System, conhecido como Edgar, para o registro de informações financeiras. Nele as empresas preenchem diversos formulários, digitando os dados. Embora a possibilidade de tornar o XBRL obrigatório não tenha sido descartada pela agência, esse formato ainda deve dividir espaço com as tecnologias mais antigas.

, Por que não pegou?, Capital AbertoUma das fontes de informação mais completas no mercado norte-americano é o Edgar Online, que oferece dados financeiros de milhares de companhias e ferramentas de análise para assinantes. O Edgar Online também aderiu ao XBRL e converteu por conta própria os números de milhares de companhias com ações comercializadas nos Estados Unidos para a nova tecnologia. A empresa fornece o I-Metrix, ferramenta para análise e visualização interativa do XBRL. Além desse serviço, pelo qual cobra assinatura, a Edgar Online, em parceria com a consultoria R.R. Donnelley & Sons, lançou, em março, o site www.tryxbrl.com, que torna públicas informações e análises financeiras de aproximadamente 12 mil companhias.

Por aqui, a Economática domina um nicho semelhante. O banco de dados da consultoria cobre as companhias nacionais de capital aberto, além de cerca de mil empresas nos Estados Unidos e outras mil distribuídas em oito países da América Latina. Embora ofereça um leque amplo de produtos e serviços, com diversas ferramentas de análise, no momento a Economática não tem planos de oferecer soluções baseadas em XBRL.

Fernando Exel, presidente da consultoria, reconhece que, “se houver uma adoção mais ampla do XBRL, certamente ficará mais fácil para outras empresas atuarem nesse segmento”. Se isso acontecer, Exel acredita que o diferencial da Economática não estará mais na compilação da informação, mas sim em outros produtos, como ferramentas de análise, por exemplo. O momento em que essa “promessa” efetivamente se tornará uma tecnologia à disposição do mercado brasileiro, contudo, ainda é imprevisível.

Conteúdo extra

Clique e visualize relatórios interativos na linguagem no site da Securities Exchange Commission

Clique e visualize relatórios interativos em XBRL no site da Securities Exchange Commission


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