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Plano de ocupação
Corretoras independentes traçam estratégia para recuperar o espaço perdido no mercado e saem em busca de clientes não atendidos pelos grandes bancos

ed06_p020-024_pag_1_Img_001Se a Bovespa continuar acima dos 24 mil pontos e com volume médio diário superior a R$ 1 bilhão em 2004, investidores institucionais e pessoas físicas não estarão sozinhos para comemorar mais um ano de boas notícias. As corretoras independentes, já entusiasmadas com a melhoria recente nos negócios por conta do incremento das receitas de corretagem, também vislumbram a possibilidade de retomar um filão do mercado há tempos adormecido: os lançamentos de ações.

Com esse objetivo, sete corretoras independentes – Codepe, Coinvalores, Concórdia, Geração, Petra, Planner e Socopa – formaram um grupo em meados de 2003 para estudar o assunto detalhadamente. Elas pretendem trazer duas empresas de médio porte para o mercado de capitais ainda no primeiro trimestre deste ano. Os nomes das possíveis candidatas estão guardados a sete chaves. A única informação que o grupo deixa escapar é que as pioneiras tendem a ser conhecidas do grande público. “As primeiras operações devem ser com indústrias porque é mais fácil convencer o investidor, principalmente a pessoa física, a comprar papéis de uma empresa cujo produto faz parte do seu dia-a-dia”, analisa Milton Milioni, diretor da Geração Futuro.

NICHO DE MERCADO – O desafio do grupo de corretoras é convencer as companhias de que é possível fazer operações bem sucedidas sem passar pelos grandes bancos. E de que emissões realizadas com o apoio de corretoras independentes podem ter mais chances de atrair os investidores pessoas físicas, aqueles que multiplicaram sua presença no mercado de ações no último ano. A estratégia recebeu em boa hora o impulso de exemplos de sucesso como as colocações, no mercado secundário, de ações da Companhia Suzano e da Votorantim Celulose e Papel (VCP). Ambas contaram com as corretoras independentes como distribued06_p020-024_pag_2_Img_001idoras dos seus papéis. A próxima meta é trazer mais duas operações modelos para o mercado. “Vamos dar o empurrão que as independentes precisam”, diz Fernando Ferreira da Silva Telles, diretor da Coinvalores e conselheiro da Bovespa.

As corretoras começaram o trabalho analisando por onde atacar. Seus departamentos técnicos avaliaram os balanços de diversas companhias procurando identificar as que teriam potencial para fazer um lançamento de ações. Agora estão na fase de definir os nomes e o próximo passo será conversar com os diretores financeiros para convencê-los dos atrativos do negócio. Para Telles, será considerada bem sucedida a empresa que colocar no mercado, em cerca de dois meses, R$ 50 milhões. Operações nesse montante estão fora do foco de trabalho dos grandes bancos, mas exatamente no alvo das corretoras independentes.

Há quem prefira seguir caminho solo. “Mais do que uma estratégia, participar de emissões faz parte da nossa história. Essa sempre foi uma de nossas principais áreas, mas estava parada por causa do desempenho do mercado”, diz Alexandre Atherino, diretor da Fator Corretora.

O segmento voltou à atividade em outubro de 2003, com a recuperação do mercado. Foi quando o departamento de análise da Fator, na mesma linha do que fez o grupo de corretoras, começou a garimpar as companhias com potencial para abrir o capital. Atherino pretende estruturar algumas operações ainda no primeiro semestre. A corretora já entrou em contato com seis empresas nesse período e as negociações estão adiantadas com duas delas. As operações giram em torno de R$ 100 milhões cada uma. A Fator prefere trabalhar sozinha na identificação de oportunidades e nos contatos com as empresas, chamando parceiros para participar somente no momento da venda.ed06_p020-024_pag_5_Img_001

Desafio é convencer as companhias de que é possível fazer lançamentos bem sucedidos sem passar pelos grandes bancos

Se as iniciativas surtirem o efeito desejado, as corretoras independentes terão mais um nicho para trabalhar e uma boa oportunidade de aliviar a crise que perdura desde o início da década (ver matéria na página 24). As empresas que desejam obter recursos no mercado de capitais contarão com uma estrutura alternativa, que viabilizará emissões de valores inferiores aos normalmente aceitos pelas corretoras ligadas a bancos comerciais. “As operações de Suzano e VCP mostraram a força de colocação das corretoras independentes”, diz José Roberto Mubarack, assessor de relações institucionais da Bovespa.

Maria Helena Santana, superintendente de relações com empresas da bolsa, também acredita que agora é um excelente momento para as independentes liderarem novas emissões, especialmente as aberturas de capital. “Há procura por novos papéis na bolsa, por que não oferecêlos? É só uma questão de direcionar os esforços para esses clientes de menor porte”, analisa.

ALL Logística, Natura e Magazine Luiza são algumas das empresas que têm sido citadas como fortes candidatas a lançar ações em bolsa este ano. Destas, a que parece estar mais próxima de fazê-lo é a ALL Logística. A empresa publicou um fato relevante no início de janeiro confirmando que se encontra em processo de preparação para um lançamento de ações no Brasil e no exterior em 2004. Enquanto não estrutura a operação, porém, a diretoria da empresa evita dar entrevistas.

ALL Logística, Natura e Magazine Luiza são algumas das candidatas a lançar ações em bolsa este ano

CUSTOS ELEVADOS AINDA SÃO BARREIRA – A Troller Veículos Especiais é outra provável estréia no mercado de ações, mas prevista apenas para o ano que vem ou 2006. A empresa tem planos ousados de praticamente dobrar o faturamento de R$ 70 milhões alcançado em 2003. E sabe que não conseguirá fazer com capital próprio todos os investimentos ne cessários. Para 2004 estão estimados R$ 25 milhões. “Mas as operações de que temos notícia no mercado são muito superiores à nossa realidade”, comenta Clécio Antonio Eloy, diretor de negócios da Troller.

Enquanto se prepara para abrir o capital, a empresa busca outras formas de captar recursos. Um dos caminhos foi o Venture Fórum, evento realizado pela Bovespa e Finep na primeira semana de dezembro do ano passado para apresentações de empresas de base tecnológica que tenham o objetivo de atrair investidores.

Bovespa inicia campanha por novas aberturas de capital

As corretoras vão contar com o apoio da Bovespa em sua cruzada para retomar as aberturas de capital em 2004. Depois de centrar esforços na conquista do investidor pessoa física – o qual, em 2003, pulou de 15% para 25% do volume negociado –, a bolsa decidiu partir para cima das empresas, principalmente daquelas que ainda estão fora do mercado. “Primeiro aumentamos a base de investidores e agora precisamos motivar as companhias a negociar suas ações”, diz Raymundo Magliano Filho, presidente da Bovespa.A primeira iniciativa do ano será o lançamento do programa Bovespa vai aos Municípios, uma variação do Bovespa vai até Você, que visa popularizar o mercado de ações. O programa terá início em fevereiro, na cidade de Jaú, no interior paulista, e deve se estender para os 11 municípios vizinhos. “Vamos fazer um esforço grande para que se conheça os mecanismos de financiamento disponíveis no mercado de capitais e também para que o assunto esteja na pauta das discussões nacionais”, diz José Roberto Mubarack, assessor de relações institucionais da Bovespa.

Paralelamente, a bolsa continua fazendo um trabalho de identificar potenciais candidatas a abrir o capital. Um estudo mais aprofundado começou no primeiro semestre de 2003, quando pediu para a Fundação Getúlio Vargas pesquisar entre as 1.500 maiores empresas brasileiras as que seriam potenciais companhias abertas. Foram encontrados mais de 70 nomes. A segunda etapa do trabalho contou com o auxílio da MB Associados, escritório do economista José Roberto Mendonça de Barros contratado para elaborar um diagnóstico das restrições que essas companhias encontravam para ser abertas.

As empresas foram contatadas e uma equipe da Bovespa fez uma palestra para os executivos sobre o mercado de capitais e o papel da bolsa. Segundo Maria Helena Santana, superintendente de relações com empresas da Bovespa, 40 companhias foram visitadas no último bimestre de 2003.

A bolsa acredita que as empresas ligadas ao desenvolvimento de tecnologia sejam as vedetes dessa nova fase do mercado. “São companhias relativamente novas, nem sempre conhecidas do grande público, mas que foram concebidas dentro de conceitos modernos e precisam de capital para se desenvolver”, diz Magliano Filho.

Entre as adequações que a Troller vem promovendo para se lançar no Novo Mercado estão a transformação de uma gestão familiar em profissional, a contratação de uma auditoria independente e a adoção de práticas de governança corporativa. Eloy não descarta a hipótese de vir a mercado antes. “Se tivermos uma proposta interessante certamente vamos estudar”, afirma.

Uma das grandes reclamações das empresas de médio porte refere-se aos custos de abertura e de manutenção de uma empresa aberta. A Microsiga Software, empresa nacional especializada no desenvolvimento de tecnologia e sistemas de gestão empresarial, calcula que já gastou perto de R$ 1 milhão para deixar prontos todos os documentos e procedimentos necessários para vir a mercado no Brasil e nos Estados Unidos, o que inclui custos com advogados, auditorias e consultorias. Para José Rogério Luiz, vice-presidente da Microsiga, os custos elevados podem inibir companhias do tamanho da sua (que estima ter faturado R$ 275 milhões em 2003) a abrir o capital. “Além da taxa de corretagem, que varia entre 2,5% e 6% do valor da operação, e dos custos com advogados, uma empresa aberta tem que publicar os fatos relevantes e mudar totalmente sua forma de se comunicar com os acionistas”, afirma.

Preocupada com essa questão, a Bovespa decidiu fazer um levantamento, em novembro de 2003, sobre os custos de abertura de capital e gastos anuais para manutenção de uma companhia aberta (ver ilustração nas páginas 20 e 21). Ao comparar os valores vigentes no Brasil e nos Estados Unidos, concluiu que, embora elevados, os nossos ainda ganham em vários itens. É o caso da auditoria externa, que vale cerca de R$ 140 mil aqui, quatro vezes menos que no mercado norte-americano.

Existem ainda os custos de manutenção do capital aberto. A companhia deve submeter seus balanços a uma auditoria, publicá-los e divulgar fatos relevantes, além de pagar uma série de taxas. Resta saber se haverá ambiente econômico que dê sentido às aberturas de capital e que satisfaça o desejo das corretoras de voltar a ocupar seu espaço.

Independentes querem se recuperar da crise recente

Os balanços das corretoras independentes não guardam boas memórias dos últimos anos. Uma crise provocada pela atuação cada vez mais intensa dos bancos múltiplos e pela queda do mercado acionário desde o estouro da bolha da Nasdaq em 2000 fez com que várias delas amargassem prejuízos e tivessem de diversificar seus negócios a fim de driblar os tempos ruins.Por isso, liderar os processos de abertura de capital e também de emissão de outros títulos, como debêntures, pode ser uma boa oportunidade de retomar parte do prestígio perdido. “O ano de 2004 vai ser muito importante para consolidar o mercado como um todo, principalmente no que diz respeito às corretoras”, avalia Francisco de Paula Elias Filho, diretor geral da corretora Égide.Provavelmente nada voltará a ser como nas décadas de 70 e 80, quando dezenas de empresas abriram o capital. Mas será a chance de se desenhar um caminho alternativo – e, quem sabe, rentável – para as independentes.

Há 25 anos, eram comuns operações em que essas corretoras atuavam como distribuidoras ou até co-líderes. Mas a partir de 1990, com a entrada do capital externo, várias companhias abertas foram compradas, muitas por multinacionais já abertas em seus países de origem, e acabaram fechando o capital. Outras preferiram aproveitar os recursos oferecidos pelos fundos private equity a fazer um lançamento de ações.

As poucas emissões que aconteceram naquela década envolveram valores muito elevados e ficaram restritas aos bancos (em especial instituições estrangeiras). Afinal, elas tinham o contato com os investidores institucionais, aqueles que teriam capital para absorver as emissões lançadas na época. Mesmo quando havia interesse em colocar parte das ações para pessoas físicas, os líderes da operação usavam a carteira das corretoras dos bancos de investimento.

Foi assim que muitas corretoras deixaram de participar das emissões primárias. Algumas fecharam as portas e outras acabaram apostando em outros mercados, como o de gestão de recursos de terceiros. Das 280 corretoras que existiam em 1990, contando as que operavam no Rio de Janeiro, sobraram 90. Como conseqüência, houve uma concentração das operações. Hoje, as dez maiores, nenhuma independente entre elas, respondem por metade do movimento da bolsa. Já as 20 maiores negociam, segundo Elias Filho, 70% do total.

“Procuramos amenizar nossas crises com outras áreas, como a administração de fundos de renda fixa”, diz Robson Domingues Queiroz, gerente de operações da SLW. Mesmo assim, a empresa registrou prejuízo em 2001 e 2002. Já a Magliano mantém, além da renda fixa, operações em câmbio e em mercados futuros. “A venda de ações, que já representou 60% dos nossos negócios, hoje não passa de 30%”, conta Murilo Cesar Rosa, diretor da corretora.

Dados da Engenheiros Financeiros e Consultores (EFC) referentes aos anos de 2001 a 2003 (ver tabela) mostram a deterioração nos resultados das independentes. No primeiro semestre do ano passado, apenas cinco das 28 corretoras ligadas a bancos estavam no vermelho, enquanto metade das 24 independentes registravam prejuízo.


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