Padrões de comportamento
Companhias não explicaram as operações com derivativos. Onde foi parar o bom senso?

, Padrões de comportamento, Capital AbertoFalta consenso sobre o que é governança corporativa. Uns dizem que o seu foco está no retorno para gestores e proprietários. Outros afirmam que os interesses de diferentes públicos têm de ser levados em consideração. Para várias pessoas, a governança corporativa não agrega valor. Elas usam como argumento o histórico de algumas companhias do Novo Mercado da BM&FBovespa — como o conselheiro independente que é amigo de infância do fundador e o profissional de Relações com Investidores (RI) que iniciou seu trabalho duas semanas após a abertura de capital, dentre outros vacilos. É natural que essas empresas não agreguem valor aos acionistas. Afinal, elas não se prepararam para a cultura de uma companhia pública.

Acontece da mesma forma com o conceito de sustentabilidade. Ainda há muita confusão. Alguns acham que economizar energia elétrica e água ou fabricar produtos orgânicos é sustentabilidade. Mas as práticas sustentáveis, assim como de governança, devem fazer parte de toda a organização — desde o conselho de administração até o profissional menos graduado da companhia. O próprio Adrian Cadbury, que coordenou a comissão responsável pela elaboração do primeiro código de governança corporativa, vinculava-a, na época (1992), às “normas”. Depois, já a definia como “padrões de comportamento”. O mais importante é a empresa saber qual a definição de governança que ela pratica. Se o conceito estiver permeado por toda a organização, agregar valor será uma conseqüência.

Já faz muito tempo que os analistas observam a sustentabilidade no mercado de capitais, mas ficam mais focados na ótica de risco da companhia do que de oportunidade para investimento. O cenário, no entanto, começa a mudar. A prova é o questionário do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da BM&FBovespa. Nele, a governança corporativa é uma das dimensões dentro da sustentabilidade. Com isso, temos uma reflexão: é possível praticar a governança corporativa sem ser sustentável? Ou ser sustentável sem praticar a governança? Minha reflexão parou na seguinte idéia: não importa se o biscoito vende mais porque é fresquinho ou se é fresquinho porque vende mais. Nessa analogia, o importante é que, ao mesmo tempo, o biscoito seja fresquinho e venda mais. Ou seja, que haja sustentabilidade e governança simultaneamente.

CRISE DE PRINCÍPIOS — Os acontecimentos em alguns bancos americanos e europeus demonstraram que os executivos não foram sustentáveis e não tiveram governança. No Brasil, não foi diferente nos casos dos derivativos. As companhias não explicaram as operações nos balanços. Onde foi parar o bom senso? Nesse quesito, aplaudo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por ter agido rapidamente. Poderíamos aqui enumerar vários casos de falta de governança e sustentabilidade, como assembléias com acionistas desejando esganar seus executivos, prisão, etc. O que ficou mais do que comprovado é que estamos vivendo uma crise de padrões de comportamento. A conduta de algumas pessoas no mundo corporativo não visa à rentabilidade e à longevidade da companhia, mas sim ao retorno fácil, o que a história já comprovou que não termina bem.

O arcabouço regulatório e as instituições do mercado atual são muito diferentes daqueles de 1929. A sociedade também mudou e não quer abrir mão de seus princípios. Da mesma forma, a sociedade do futuro será outra. Hoje há uma minoria que não aceita ser acionista de uma empresa que tenha unidade fabril em um país cujo regime político é uma ditadura, ou na qual são comuns o trabalho infantil, a excessiva poluição do meio ambiente e a indicação pelo governo de parte da gestão. No futuro, esse mesmo grupo poderá ser a maioria.


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