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O super-homem do petróleo
Márcio Rocha Mello
, O super-homem do petróleo, Capital Aberto

É como o céu. Debruçada sobre as águas azuis de Copacabana, a sede da HRT é forrada por tapetes brancos e guardada por belas mulheres na recepção. Na versão do paraíso de Márcio Rocha Mello, esses anjos são elegantes mulatas, que ainda outro dia trabalhavam como passistas nos shows de samba promovidos pela empresa para impressionar investidores estrangeiros. “Elas são o nosso cartão de visitas”, diz Mello. Ali, os visitantes são informados que problemas não existem, pelo simples fato de que o presidente da companhia tudo sabe, tudo pode e está em toda a parte.

“Tenho o poder de responder a qualquer pergunta”, avisa o CEO, doutor em geoquímica molecular e primeiro geólogo a decifrar quantitativamente as cadeias de DNA do petróleo do Brasil e da África. “Isso porque a geologia é a evolução do planeta Terra, que é a evolução da vida e das pessoas. Tenho as respostas”, justifica. Então é verdade que um dos principais ativos da HRT Participações em Petróleo, razão do sucesso do IPO realizado em novembro, é o mapa das riquezas embaixo da terra, nítido em sua mente? Mello confirma. Se o interlocutor demonstrar algum espanto, ele continua: “Não existe nada impossível nessa vida. Basta querer, ter talento e trabalhar duro. Só que as pessoas vão dormir. Enquanto isso as coisas acontecem”.

Mello não dorme. Ou melhor, são apenas duas ou três horas por noite, desde que se entende por gente. Já foi ao médico, fez aqueles exames com eletrodos na cabeça e o diagnóstico foi quase sobre-humano: ele entra no estado alfa em apenas 12 minutos, enquanto a maioria dos mortais leva pelo menos uma hora. O resultado é que, quando um visitante adentra a sala do presidente, tem a visão oposta à de um executivo abatido pela insônia. “Por causa desse meu jeito muito positivo, superlativo, as pessoas acham que estou aumentando as coisas. Chegam aqui e me perguntam que problemas teremos para atingir nossos objetivos, quais são os nossos desafios. Eu respondo: nenhum.”

Naquela mesma sala, em que até autoridades do governo precisam tirar os sapatos para não macular o tapete branco (“tenho pavor de sujeira”), ele conta ter convencido um grupo de céticos banqueiros a apoiar o vertiginoso crescimento da sua companhia, que fora iniciada em 2008 com uma empresa de serviços que valia US$ 80 milhões. Quando Mello revelou o plano da oferta pública de ações, todos disseram que era loucura. “Chamei todo mundo até a janela e perguntei: vocês estão vendo ali, no segundo andar? Ninguém via nada. Falei: sou eu, caindo. Já pulei. Vou para o meu IPO.” Como havia acontecido em ocasiões anteriores, alguns resolveram pular junto.

Superando todas as expectativas, a HRT captou R$ 2,6 bilhões no IPO, com direito à presença da bateria — e das passistas, claro — da Beija-Flor na cerimônia de abertura no pregão da BM&FBovespa. Três meses depois, seu valor de mercado chegava a quase US$ 6 bilhões. “Seremos uma das maiores companhias de petróleo do mundo”, afirma Mello. Quanto aos problemas… “Mania das pessoas de procurar problema. Qualquer coisa que aconteça é razão para eu crescer. Sempre pensei grande e sou formador de time.”

Nessa altura da entrevista, Mello já havia dito que nunca ficou doente na vida, que toma todas as decisões em um milésimo de segundo e jamais comete erros nos negócios. Menciono a rotina estressante de viagens, mas ele interrompe: “Negativo. Nada me cansa, nunca me estresso”. Mas se o paraíso é ali, em sua sala, como explicar a forte queda das ações da companhia em abril? “Lógico que fiquei chateado. Não gosto de ver nada nosso caindo.” Ele também demonstra algum desconforto quando a semelhança com o modelo pré-operacional da OGX de Eike Batista é mencionada como suposto motivo da queda. “Não me confunda com ele. É uma pessoa que admiro, mas somos totalmente diferentes. Ele já tinha grana, eu não. Sou um cientista, ele é economista.”

Cientista, sim, mas longe do estereótipo de sujeito introvertido ou trancado em um laboratório. Nascido de sete meses e dono de um metabolismo acelerado (“a degeneração celular é menor, por isso ninguém me dá 58 anos”), Mello destacou-se em sua carreira de 24 anos na Petrobras tanto pelas pesquisas quanto pela liderança. Seu “time”, que o seguiu para a HRT, desde os anos 1980 costuma confeccionar criativos cartões para seus aniversários, invariavelmente satirizando sua megalomania. “Olha esse aqui”, mostra com orgulho: “Eu explorando poços de petróleo no sol. Aqui apareço em Marte. Neste, estou vendendo geladeira para esquimó”.

Da estatal, ele partiu em 2000 para montar suas três primeiras companhias de serviços, vendidas quatro anos depois. Prometeu às filhas que finalmente ficaria mais em casa, no entanto, em uma semana, já fundava a HRT. Ele conta que seu sonho de menino, porém, não era o petróleo, mas as pedras minerais que colecionava em Brasília, onde morava com o pai amigo de Getúlio Vargas e ardoroso defensor da campanha “O petróleo é nosso”. Prestou concurso para agradar o pai e tirou o primeiro lugar. De aluno regular no colégio, tinha passado a ser o primeiro na Universidade de Brasília (UnB), na qual adquiriu o hábito de chegar antes de todos, sair por último e querer saber de tudo. É assim até hoje. “Cobro de mim ser o melhor”, explica. “Mas sou humilde, porque não dou pelota para dinheiro”.

Mello diz que sabe de tudo porque é atento aos detalhes: “Todo dia vou a todos os lugares da HRT. Vou à Namíbia, ao Solimões, ao meio da selva. Me meto em tudo. Falo com a cozinheira, entro nos banheiros, vejo se está limpo. Olho o laboratório, meus helicópteros, meus aviões”. Fica implícito que sua onipresença é possível graças aos investimentos tecnológicos que transformam as suas paredes em telas gigantes, com imagens de satélite dos negócios na Amazônia e na África. Porém, diante de tanta confiança, da vista do mar azul e da maciez branca do tapete, um visitante pode desconfiar. Além de dormir duas horas por dia e não envelhecer, teria Mello outros poderes? Mas essa é uma insônia para os concorrentes.


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