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O preço da expansão
Ingresso da Restoque em novos segmentos eleva custos e prejudica balanço

Há alguns anos, o mercado financeiro encontrou nas ações de empresas do varejo um porto seguro. Enquanto os papéis das tradicionais companhias de commodities afundavam devido à queda nas exportações, os das varejistas reluziam em razão do aquecimento do consumo das famílias. Quem surfou nessa onda positiva foi a Restoque, rede de lojas próprias que detém as marcas de alto padrão Bo.Bô, John John, Noir e Le Lis Blanc. Em fevereiro de 2011, a empresa apareceu nesta coluna com uma rentabilidade positiva de 134,73% no segundo semestre de 2010. Mas, de uns tempos para cá, suas ações entraram em uma espiral descendente: perderam 27,19% do valor entre 31 de março e 30 de setembro de 2012.

A queda resulta do desequilíbrio entre o otimismo dos gestores da companhia e a aversão ao risco do mercado. Motivada pelo aumento no consumo dos brasileiros, a Restoque traçou um ousado plano de expansão. Do segundo trimestre de 2011 para o segundo trimestre de 2012, aumentou a base de lojas em 90,4% e lançou três marcas: John John (voltada ao público jovem), Le Lis Blanc Beauté (cosméticos) e Noir (criada para o segmento masculino).

Tamanha expansão em tão pouco tempo cobrou um preço alto. “A companhia vem criando várias frentes de crescimento, com lançamento de marcas, modelos e abertura de lojas, e buscando segmentos diferentes do varejo. Os novos formatos poderiam ter performado bem, mas não foi isso o que ocorreu”, conta Luiz Cesta, analista da Votorantim Corretora. “Houve uma alta bastante grande das despesas para iniciar as operações, devido a gastos com marketing, obras e contratação de pessoal, comprometendo as margens de lucro”, completa.

No segundo trimestre, a Restoque reportou um prejuízo de R$ 12,8 milhões. Descontando as despesas extraordinárias, o saldo também encerraria vermelho — uma perda de R$ 8,4 milhões. As despesas extraordinárias deveram-se a obras de reconstrução do principal centro de distribuição da companhia em São Paulo, afetado por um incêndio acontecido em maio de 2011, e a gastos pré-operacionais de abertura de lojas.

O aumento dos gastos era previsto pelo mercado, mas os analistas não imaginavam que o impacto nos resultados seria tão grande. O problema ficou concentrado nas operações da Noir, voltadas ao segmento masculino, que já haviam suscitado a desconfiança dos investidores: será que a Le Lis Blanc não estaria entrando em um mercado que não conhece bem, aumentando os riscos? “A Noir está com rentabilidade aquém da expectativa”, observa Cesta. “Como a empresa sempre atuou no ramo feminino, fica a percepção de que ela terá dificuldade para maturar esse projeto”, analisa.

Luiz Augusto Pacheco, gestor da Inva Capital, concorda que a entrada da companhia em segmentos diferentes afetou o desempenho dos papéis em bolsa. “A empresa expandiu muito o mix de produtos e passou a atuar em áreas nas quais não tem o mesmo know-how”, observa Pacheco. O analista lembra que a intensa valorização das ações em 2011 e em parte de 2012 fez com que os investidores não pensassem duas vezes antes de realizar lucros quando os primeiros balanços ruins foram divulgados. “Os grandes fundos perceberam o aumento do risco e resolveram garantir a rentabilidade conquistada até agora”, diz.

A boa notícia é que os investidores já voltaram a apostar nas ações da empresa. Depois de atingir o ápice de R$ 12,5 no fim de março, os papéis deslizaram a R$ 8,22 em 12 de setembro. Algumas semanas depois, ganharam fôlego novamente e passaram a ser cotados a cerca de R$ 10.

Pedro Amaro, analista da Pax Corretora, acredita que o mercado possa ter exagerado ao punir a companhia de maneira tão intensa. “Se uma empresa traz boas notícias, com excelentes resultados e planos de expansão, é comum o mercado pensar que vai ser sempre assim, sem nenhum percalço”, comenta. “Quando ocorre um problema, porém, os investidores saem rapidamente. Agora, eles viram o exagero e começam a retomar a posição.”

Com os ânimos mais serenos, o mercado aguarda as próximas divulgações de resultados. A expectativa é que as novas marcas se fortaleçam, os gastos voltem aos patamares anteriores, e as margens de lucro se restabeleçam. “Se as marcas, principalmente a Noir, se consolidarem e virarem referência, a exemplo de Le Lis Blanc, a margem de lucro irá se recuperar naturalmente”, conclui Amaro.

, O preço da expansão, Capital Aberto


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