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O novo filão
Diante de um cenário macroeconômico pouco favorável aos negócios, bolsas seguem o exemplo da BM&FBovespa e investem em serviços de compensação

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O ano de 2012 foi desafiador para as principais bolsas de valores do mundo. Ante um cenário macroeconômico nebuloso e um ambiente regulatório pouco amigável, elas tiveram que se desdobrar para manter os lucros em alta. Dados dos balanços do terceiro trimestre, os últimos disponíveis, mostram que algumas bolsas importantes não conseguiram esse objetivo. Nyse Euronex, Nasdaq OMX e Deutsche Börse tiveram quedas pronunciadas em seus resultados no período (veja infográfico). Para sair do marasmo, as bolsas têm apostado na diversificação de sua receita. Em 2013, isso deve ocorrer, principalmente, por meio da oferta de serviços de pós-negociação, principalmente no segmento de derivativos.

Nos países desenvolvidos, esse movimento está sendo estimulado pelo próprio ambiente regulatório. Criada em 2012 para tornar as negociações com derivativos mais seguras, a European Markets Infrastructure Directive (Emir) estabelece que todos os derivativos de balcão padronizados devem ser negociados em bolsas ou plataformas eletrônicas e liquidados por meio de contraparte central — constituída para honrar os compromissos em caso de inadimplência — e em uma câmara de compensação (clearing). Se, por um lado, essa demanda exigirá mais injeção de capital nas clearings para fazer frente a possíveis ausências de pagamento (defaults), por outro, incrementará a receita obtida pelas bolsas com as negociações de derivativos.

Esse cenário é confirmado pelo relatório Lower Trading Volumes will Put Global Exchanges to the Test in 2013 as Clearinghouses Deal with Regulations, elaborado no fim de 2012 pela classificadora de risco Standard & Poors. De acordo com o estudo, a adoção de novos serviços de clearing serão os principais responsáveis por compensar o fraco desempenho do mercado de ações. Em 2012, o declínio no número global de ofertas públicas ajudou a puxar as receitas das bolsas para baixo. A média de listagem caiu 2% em relação a 2011. Os mercados acionários mais afetados foram os dos continentes americano e europeu, com queda de 3,6% e 2%, respectivamente. Os pregões asiáticos apresentaram um resultado um pouco melhor, mas, ainda assim, tímido: elevaram em 1,2% suas listagens.

A Bolsa de Valores de Londres (LSE, na sigla em inglês) já se move para usar a nova diretiva europeia a seu favor. Está a poucos passos de adquirir 60% da LCH.Clearnet Group, considerada a maior casa de clearing do mundo. A aquisição alinha-se com a estratégia do pregão londrino de desenvolver seus serviços de pós-negociação, especialmente no segmento de compensação. “Estrategicamente, estruturalmente e financeiramente essa é uma transação muito atraente”, ressaltou Chris Gibson-Smith, presidente do conselho da Bolsa de Londres, durante o anúncio da aquisição. A perspectiva é que a sinergia entre a LSE e a LCH gere € 20 milhões (£ 17 milhões) de receita anual em até três anos e € 40 milhões (£ 33 milhões), em até cinco anos.

Nos Estados Unidos, quem tem monitorado a questão dos derivativos e estimulado o uso das câmaras de compensação é a Dodd-Frank Act, a mais abrangente revisão da regulamentação financeira norte-americana desde a década de 1930. Ela exige que a liquidação de contratos de derivativos de balcão passe a se dar sempre nas clearings, com o intuito de aumentar o grau de estabilidade com que esse segmento opera. Diante disso, no ano passado, a Securities and Exchange Commission (SEC) aprovou a medida 17ad-22. A norma obriga as câmaras de compensação a desenvolverem políticas e procedimentos que lhes permitam manter recursos financeiros suficientes para compensar operações com derivativos em “condições extremas, mas plausíveis de mercado”.

O filão de derivativos é o que teria, inclusive, atraído a IntercontinentalExchange (ICE), principal operadora nos mercados de compensação e venda de balcão (OTC, na sigla em inglês), a comprar a Nyse Euronext por US$ 8,2 bilhões. Com a fusão, a ICE passará a controlar e operar cinco clearings pelo mundo, além de 14 bolsas de valores. “Com essa junção, nós traremos mais eficiência e segurança às compensações de nossos clientes”, disse Jeff Sprecher, CEO da IntercontinentalExchange, em teleconferência com a imprensa norte-americana no fim do ano passado.

Para se diferenciar no mercado de compensação, a Nasdaq OMX lançará, em março, um pacote de produtos de gestão de colateral (garantias que cobrem as operações) focado em clientes dos mercados financeiro e de commodities. A novidade faz parte do plano de negócios da Nasdaq e atende a uma demanda que deve se tornar cada vez maior, dada a exigência da Dodd Frank de que derivativos negociados no mercado de balcão sejam totalmente colateralizados (veja mais na seção Notas Internacionais). Esse é um dos nichos a serem desbravados pelas bolsas de valores norte-americanas e europeias para engordar seus resultados, conforme o relatório da S&P.

Uma das principais bolsas da Ásia, a de Hong Kong (HKEx), também anunciou planos de introduzir a compensação de derivativos no seu portfólio. O plano atual é começar a operação com poucos produtos financeiros, como as NDFs (contrato futuro de câmbio sem entrega física), por exemplo, e aumentar a gama de opções gradualmente. O lançamento do serviço está marcado para o primeiro semestre deste ano, mas depende de aprovação dos órgãos reguladores locais.

Embora esse filão abra boas perspectivas de negócios, elas deverão vir acompanhadas de grandes exigências de capital. O estudo da S&P estima que a LCH.Clearnet precisará levantar entre € 300 milhões e € 375 milhões para reforçar o potencial de compensação de sua clearing. Já a Deutsche Böerse deverá injetar entre € 100 milhões e € 150 milhões. Os analistas da S&P, Charles Rauch e Giles Edwards, advertem que novas regulações e a exigência constante de investimento em infraestrutura podem minar os planos das bolsas de lucrarem nesse segmento.

PIONEIRISMO — No Brasil, a BM&FBovespa está à frente nessa tendência, porque já oferece o serviço de compensação de derivativos. A perspectiva é que ele se torne ainda mais eficiente quando a Bolsa finalizar o Programa de Integração da Pós-Negociação (IPN), cuja implementação deve ocorrer até 2014. A iniciativa tem como objetivo integrar as quatro clearings existentes atualmente — ações, derivativos, títulos de renda fixa e câmbio — em uma nova plataforma unificada, mais segura e robusta, com capacidade de processamento de mais de 10 milhões de negócios por dia e cálculo de risco em tempo real.

No fim de setembro, as garantias da contraparte central de derivativos somavam R$ 106,8 bilhões. São depósitos em moeda, títulos públicos e privados, cartas de fiança e ações, dentre outros ativos. O presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, vê nas quatro clearings o elemento mais estratégico do negócio da companhia. Em entrevista à Revista da Bolsa, ele declarou certa vez que não se deve pensar em bolsa, mas na sua central de compensação. “Não há soberania numa plataforma de negociação, mas sim na clearing, a especialista em gestão de risco.” As crises que a BM&F enfrentou em sua história foram responsáveis por grande parte dessa invenção. Em um país que enfrentava consecutivos planos econômicos, era preciso assegurar ao máximo o sistema cercando-o de controles e garantias. Passado o tempo e vinda a crise financeira internacional, as clearings tornaram-se o grande diferencial da BM&FBovespa em relação às bolsas do resto do mundo.

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