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O chamado de Hong Kong
Portão de acesso à China, a ilha quer atrair empresas estrangeiras para a sua bolsa de valores

, O chamado de Hong Kong, Capital Aberto

As ações da Vale são negociadas quase 24 horas por dia desde 8 de dezembro, quando ingressaram na Bolsa de Valores de Hong Kong (HKEx). A mineradora foi a primeira companhia brasileira a listar recibos de depósito de ações no pregão do arquipélago. Criados em 2008, os programas de HDRs visam a atrair emissoras estrangeiras para a Região Administrativa Especial (RAE) de Hong Kong. A cidade, símbolo do encontro do Oriente com o Ocidente, tem-se tornado cada vez mais relevante no mercado de capitais global, assim como a China, país do qual desfruta de autonomia, exceto quanto às áreas de defesa e política externa. Com capitalização de mercado de US$ 2,7 trilhões, 19% maior que a de um ano antes e US$ 15,2 bilhões superior à de Xangai, a bolsa local quer atuar como um portão de acesso ao poderoso mercado de capitais chinês.

, O chamado de Hong Kong, Capital AbertoOs inúmeros arranha-céus e lojas de veneradas marcas europeias como Armani, Gucci e Louis Vuitton já dão o tom internacional à paisagem de Hong Kong e seus sete milhões de habitantes. Ao abrir as portas para as companhias abertas estrangeiras, a ex-colônia britânica, conhecida por ser um centro multinacional de negócios e impostos baixos, vai além, apresentando-se como uma alternativa a Londres e Nova York para a captação de recursos. De acordo com dados da Bolsa local, foram levantados US$ 51,1 bilhões em ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) de janeiro a novembro do ano passado, 60,7% a mais que o total de 2009. Além do alinhamento com a economia chinesa, a praça conta com pontos fortes como um sistema legal respeitado e consolidado e investidores de diversas partes do mundo.

Os papéis da Vale, que já estavam na BM&FBovespa e nas bolsas de Nova York (Nyse) e Paris (Euronext), chegaram a Hong Kong sem uma oferta pública de distribuição. O principal motivo para a decisão de estar na HKEx são o estreito relacionamento da mineradora com a China e os planos de intensificá-lo ainda mais. Como grande fornecedora de minerais e metais para o mercado chinês, a Vale fez 37% de sua receita em 2009. Ela também compra em grande quantidade maquinário e equipamentos de geração de energia de organizações chinesas.

No lançamento dos HDRs, David Lau, codiretor da divisão China Corporate Finance no J.P. Morgan, apontou uma questão regulatória para a listagem em Hong Kong: no Brasil, os investidores estrangeiros precisam se registrar na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e no Banco Central para poderem investir em ações de companhias brasileiras. Em Hong Kong, não existe essa exigência.

O Hong Kong Trade Development Council (HKTDC), organização estatal responsável por promover e desenvolver o comércio internacional de Hong Kong, tem trabalhado para divulgar a sua bolsa. Em São Paulo, realizou, em 7 de dezembro, um almoço para cerca de 300 convidados, dentre eles empresários e representantes de bancos, auditorias e entidades dos mercados financeiro e de capitais. Na ocasião, o secretário de finanças de Hong Kong, John Tsang, comentou que a Petrobras seria uma potencial emissora na região administrativa. A petrolífera, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou que não há nada de concreto em relação a Hong Kong.

Mas Christopher Jackson, diretor executivo assistente do HKTDC, garante que, desde a listagem da Vale, outras companhias brasileiras estão em conversas com a Bolsa. Ele indica o setor de alimentos como um dos mais fortes candidatos a emitir HDRs. “O Brasil tem muitas coisas de que a China precisa. Nós comemos muita carne brasileira por aqui”, exemplifica Jackson. Uma das possíveis interessadas em fazer negócios com Hong Kong é a JBS Friboi, que participou do almoço realizado em São Paulo.

“Para empresas brasileiras, a listagem em Hong Kong significa estar em uma bolsa que compreende os setores que direcionam o crescimento do país”, diz Henry Law, diretor de comunicação corporativa da bolsa chinesa. A cultura de investir em commodities faz dos setores de mineração e alimentos os mais bem-vindos para a China, acrescenta Paulo Sérgio Dortas, sócio para a área de IPOs da Ernst & Young Terco, mas sem esquecer de petróleo e energia, que também mostram vocação. Além da Petrobras, o Brasil tem a CSN, que recebeu a visita da comitiva de Hong Kong no mesmo dia do lançamento das HDRs da Vale.

A grande ambição de Hong Kong é se confirmar como o maior polo financeiro da Ásia. No ano passado, a Bolsa teve as primeiras listagens da França, Rússia e Mongólia (a fabricante de cosméticos L’Occitane, a produtora de alumínio Rusal e a fornecedora de carvão Mongolian Mining Corp, respectivamente), além de uma mineradora canadense com interesses na Mongólia (SouthGobi). Em 2009, recebeu os HDRs de uma companhia da Alemanha (a têxtil Schramm) e das unidades de Macau de duas grandes empresas norte-americanas de jogos (Sands China e Wynn Macau).

Algumas empresas abriram o capital em Hong Kong antes mesmo de se listarem nas bolsas dos seus países de origem. Foi o caso da francesa L’Occitane, que fez em maio do ano passado seu IPO de 25% do capital, captando US$ 707 milhões. A região Ásia-Pacífico é a fonte de 40% da receita da empresa de cosméticos, que pretende utilizar parte do capital levantado para a expansão internacional — o plano é abrir 650 novas lojas em todo o mundo nos próximos cinco anos. De acordo com as informações que a empresa divulgou na época, a escolha de Hong Kong para o IPO deveu-se à proeminência do arquipélago no mercado financeiro global e ao fato de ele ser uma porta de entrada para o mercado chinês, onde as vendas da fabricante de cosméticos cresceram 16,9% em 2009. A italiana Prada, grife da indústria da moda, segue o mesmo caminho.

Mas por que estar em Hong Kong se hoje o investidor pode aplicar de qualquer país, em qualquer parte do globo? Para John Tsang, secretário das finanças do governo da RAE, a praça concentra características peculiares: “É o único lugar do mundo em que as vantagens da China e as vantagens globais convergem”, afirma. Para Dortas, esse movimento também visa ao acesso aos fundos soberanos chineses, que não podem investir fora de seu país. “Quando a empresa parte para uma listagem no exterior, alcança determinados tipos de investidor que antes não tinha”, ressalta o sócio da Ernst & Young Terco. A medida facilita, por exemplo, um trabalho de comparação (benchmarking) da Vale com as mineradoras na China.

Tsang destaca ainda o fato de o mercado chinês complementar o brasileiro. “Enquanto o Brasil é rico em recursos naturais, a China é uma grande consumidora desses recursos.” A BM&FBovespa também estuda parceiras com a HKEx. Henry Law, diretor de comunicação corporativa da Bolsa de Hong Kong, confirma que o CEO da bolsa brasileira, Edemir Pinto, e executivos do pregão chinês discutem sobre áreas potenciais de cooperação. “Eles estão interessados em desenvolver um programa de dual-listing (listagem em duas bolsas), mas ainda haverá um longo caminho caso as duas partes decidam ir em frente”, declara. Edemir Pinto revelou esse projeto à CAPITAL ABERTO no início de 2010 e depois divulgou-o publicamente em várias situações.

De olho na intensificação das relações com a China e os países asiáticos, o escritório de advocacia Souza Cescon abriu, em fevereiro de 2010, o núcleo Asia Desk, especializado em serviços para os investidores estrangeiros que querem entrar no Brasil e para as empresas brasileiras que pretendem investir no continente asiático. O grupo é liderado por uma advogada nascida e criada na China e envolve cerca de 15 profissionais — que falam mandarim ou outros idiomas da Ásia —, distribuídos entre São Paulo e Rio de Janeiro, com a supervisão de quatro sócios. A criação do núcleo foi decorrente da demanda de clientes de países como China e Índia.

Maurício Teixeira dos Santos, sócio do escritório, ainda não levou empresas para Hong Kong. Mas ele constata o interesse de setores que geralmente fazem negócios com a China, como de commodities agrícolas e minerais. “Ir para lá significa diversificar a base acionária e abrir portas para um mercado pujante”, elenca.


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