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O ano dos ajustes

Antes de escrever este editorial, reli o publicado em dezembro de 2007. Interessante notar como aquele momento, ainda que de forma tímida, sinalizava o que estaria por vir. Era o fim de um ano surpreendente. A previsão otimista de algo como 30 ofertas públicas de ações (IPOs) se materializaria em inacreditáveis 64 operações. Era a hora de empresas correrem para fazer o IPO antes que a janela de mercado se fechasse. E de investidores pessoa física procurarem a bolsa de valores afoitos para repetir os ganhos fabulosos que seus colegas alardeavam nas conversas de bar.

Para os observadores mais cuidadosos, estava na cara que tanta excentricidade precisaria ser corrigida. Dito e feito. O ano de 2008 tornou-se uma longa e indigesta quarta-feira de cinzas diante da folia que o precedeu. A começar pelo cenário internacional. O apetite por risco refletido na farta concessão de crédito para pagadores subprime se revelou desmedido e irresponsável. Provocou grandes estragos nas carteiras de ativos de instituições financeiras seculares, espalhou-se pela economia norte-americana e os mercados emergentes e acabou com a festa dos juros baixos e do crescimento. As securitizações, badaladas por seus atributos de compartilhar riscos e propiciar ótimos retornos, revelaram seu lado menos charmoso. A experiência mostrou que disseminar riscos é uma forma não só de minimizá-los, mas também de amplificar as proporções do contágio caso tudo dê errado, como deu.

No Brasil, no lugar dos 64 IPOs de 2007, surgiram apenas quatro, acompanhados de oito ofertas subseqüentes (follow on). Companhias que se apressaram para chegar à bolsa e aproveitar o bom momento do mercado expuseram suas falhas de governança. Controles internos deixaram a desejar. Faltou transparência. Emissões de BDRs por empresas essencialmente nacionais evidenciaram-se problemáticas por sujeitar os investidores às pobres estruturas de governança previstas na flexível lei das Bermudas.

Setores exageradamente movimentados, como o imobiliário, quebraram a cara. Construtoras desenfreadas foram às compras de terrenos e hoje já não encontram mercado para a quantidade de lançamentos projetada. Soluções societárias criadas no afã de fazer o IPO precisaram ser revistas. As pílulas de veneno criadas para afastar sócios indesejados, chamadas de poison pills, são agora excessivas e inconvenientes por afastarem também compradores bem-vindos em processos de consolidação necessários. E aquelas linhas de receitas financeiras nos balanços que vinham engordando os lucros das companhias com operações de derivativos que apostavam no dólar estável? Pois é, o dólar, para a surpresa de todos, deixou de ficar estável, e as linhas financeiras polpudas transformaram-se em prejuízos milionários. Mais falhas de governança e de gestão de riscos que agora estão sendo corrigidas, à força.

E é assim, com um ajuste atrás do outro, que 2008 chega ao fim. Aos que estão fartos das más notícias, desejamos energia renovada para enfrentar os ajustes que ainda virão e para encontrar as oportunidades que acompanham todas as crises. A todos os nossos leitores, ótimas festas e um proveitoso 2009!


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