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No plane, no gain
Vitimada por projeções menos pessimistas que a realidade, Embraer enfrenta a perspectiva de um 2010 ainda pior

, No plane, no gain, Capital AbertoNas páginas coloridas de azul, plana em céu de brigadeiro a Gol. Aqui, nas tingidas de vermelho, uma companhia voa sob trovoadas. Trata-se da fornecedora de aeronaves Embraer, que, desde a crise, sofre com a despressurização da demanda. Isso porque, para a fabricante de aeronaves, pouco importou a rápida recuperação da economia brasileira em 2009. Os principais compradores dos 18 modelos produzidos pela Embraer continuam sendo os Estados Unidos e a Europa.

As companhias aéreas de lá passaram boa parte de 2009 evitando os contatos da equipe de vendas da Embraer. Muitos pedidos foram cancelados. Engana-se, porém, quem imagina uma queda no número de aeronaves entregues. No terceiro trimestre de 2009, 57 novos aviões decolaram da fábrica de São José dos Campos e ganharam o mundo, um aumento de 18,8% em relação ao mesmo período de 2008. O faturamento, entretanto, foi 19,4% inferior na mesma base de comparação.

O aumento de aeronaves entregues e a queda na receita resultaram da mudança no perfil do cliente, que se iniciou com a crise no fim de 2008. Da posição de principais compradores saíram as companhias aéreas comerciais e entraram as empresas de aviação executiva. Os jatos mais caros, como os Embraer 170, 175, 190 e 195, perderam espaço para o executivo Phenom 100. No terceiro trimestre do ano passado, em comparação com 2008, a entrega dessas aeronaves menores triplicou — saltou de 9 para 27.

Além do enfraquecimento dos grandes compradores, o que o mercado parece mesmo não ter perdoado foram as projeções não atingidas. A crença, difundida no fim de 2008, de que o ano seguinte não seria tão ruim assim potencializou o fraco desempenho das ações em bolsa nos últimos meses. De junho a novembro, os papéis sofreram uma desvalorização de 10,4% — o segundo pior da amostra de Lente de Aumento — enquanto o Ibovespa subiu 23% nesse mesmo período. Naquela época, a virulência da crise já era notória, mas as consequências previstas pela Embraer foram menos agudas do que a realidade mostraria. Havia a esperança de uma recuperação mais célere das maiores economias. O crédito voltaria e, com ele, os pedidos de jatos. Não foi o que ocorreu.

No último trimestre de 2008, a companhia havia projetado entregar, em 2009, 270 aeronaves, com uma receita de US$ 6,3 bilhões e margem Ebit (lucro antes de juros e imposto de renda) de 10%. No decorrer de 2009, entretanto, foi corrigindo os números para baixo. No primeiro trimestre, a projeção já era de 242 aviões. Reduziu também o guidance de receita em quase 15%, para US$ 5,5 bilhões. Não satisfeita, no terceiro trimestre de 2009, tirou mais dez aeronaves da conta e podou a margem Ebit para 7%.

“Com um custo fixo muito alto, a Embraer passou os dois primeiros trimestres consumindo caixa”, recorda o analista Alan Cardoso, da corretora Ágora Invest. Tudo isso assustou os investidores e também os funcionários. Em fevereiro, cerca de 20% deles foram vitimados pela crise mundial. As 4,2 mil demissões fizeram o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, convocar o presidente da Embraer, Frederico Fleury Curado, para cobrar explicações.

Deixando a argumentação política de lado, o fato é que as demissões eram um sintoma da adequação da companhia à realidade mais dura do que aquela inicialmente projetada para 2009. Com os cortes, as despesas gerais e administrativas recuaram 10% no terceiro trimestre do ano passado em comparação com o mesmo período de 2008. Nesse intervalo, o caixa pouco sofreu, atingindo US$ 2 bilhões, pouco acima do US$ 1,9 bilhão registrado um ano antes. Mas os valores estão em dólar, moeda que se desvalorizou fortemente em 2009.

Ninguém tem certeza sobre o que vai acontecer este ano com o câmbio, mas a companhia espera uma redução de 10% na receita líquida em comparação ao ano passado. A conta dos meses de vacas magras chegará em breve. “Nesse setor, as crises aparecem no resultado com até um ano e meio de retardo”, explica Cardoso, da Ágora.

As demissões do início do ano trouxeram o temor de que o capital intelectual da Embraer pudesse ser afetado. Logo ele, que garantiu à empresa competir num setor dominado por companhias poderosas de economias tradicionais (como a canadense Bombardier) — que, sabidamente, praticam o protecionismo em favor de seus jatos. No balanço do terceiro trimestre de 2009, a rubrica Pesquisa e Desenvolvimento perdeu 44% do valor apresentado um ano antes, algo em torno de US$ 40 milhões.

É praticamente o mesmo valor que a Embraer recebeu como prêmio de parceiros pela certificação de um novo jato, em dezembro de 2009, o Phenom 300. Prova viva da competitividade da Embraer, o projeto havia sido premiado pela National Business Aviation Association (NBAA), instituição de classe que mantém um informativo sobre o setor com o sugestivo nome de No plane, no gain. A cotação da Embraer em bolsa de valores indica que os investidores entendem perfeitamente a paródia. Mas, por ora, não estão achando graça dela.


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