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Femtechs avançam com demanda pulsante
Startups voltadas à saúde da mulher ganham apelo entre consumidoras e investidores — e, atenção, elas precisam de capital!
Femtechs avançam com demanda pulsante
Perspectiva é que esse mercado cresça para 60 bilhões de dólares em 2025 | Imagem: freepik

Mulheres gastam cerca de 500 bilhões de dólares anuais em despesas médicas ao redor do mundo. Seu gasto per capita no setor de saúde também é expressivo: chega a ser quase 30% superior ao dos homens. Os dados, levantados pela empresa de pesquisa PitchBook, explicam o apelo das femtechs — nome cunhado por Ida Tin, criadora de um dos aplicativos de acompanhamento de ovulação mais conhecidos do mundo —, para se referir às startups que utilizam a tecnologia em prol da saúde das mulheres.

Em 2021, essas empresas movimentaram globalmente 23 bilhões de dólares, e a perspectiva é que esse montante cresça para 60 bilhões de dólares em 2025, de acordo com dados da sétima edição do relatório Inside Healthtech Report, divulgado pelo hub de inovação Distrito.

Além da demanda pulsante, outros fatores justificam o avanço das femtechs. Um dos principais está relacionado ao aumento do empreendedorismo feminino. No processo de criação de um negócio, é comum que o fundador pense em soluções para problemas que afetam o seu cotidiano — e, para as mulheres, o acesso a serviços de saúde de qualidade, aplicados às suas necessidades e que possam ser feitos remotamente ainda é escasso. Além disso, a desconstrução de tabus relacionados ao universo feminino pelas novas gerações e por movimentos como o #MeToo ajudaram a colocar o tema saúde da mulher em evidência, contribuindo para a expansão do ecossistema das femtechs.

Diante desse cenário, Stephanie von Staa Toledo, fundadora e CEO da femtech Oya Care, considera que as empresas voltadas à saúde da mulher são uma tendência com grande potencial de crescimento tanto no Brasil quanto no exterior. “As mulheres, além de gastarem muito mais com saúde do que os homens, estão em busca de fontes confiáveis e tratamentos mais individualizados e acolhedores”, destaca a empresária, em entrevista para o portal Proxxima.

Atualmente, a Oya Care é hoje uma das mais bem-sucedidas femtechs brasileiras. Sua proposta é ajudar as mulheres a entenderem mais sobre sua vida fértil e, com isso, ganharem autonomia. Com esse objetivo, a startup oferece um pacote de serviços que incluiu exame de dosagem do hormônio antimülleriano — principal indicador de reserva ovariana —, consulta online com ginecologista e relatório com as descobertas por 299 reais. O preço, segundo a empresa, é abaixo do cobrado no mercado e ainda pode ser parcelado.

Em entrevista ao UOL, Toledo lembra que, quando começou o negócio, o termo femtech não era conhecido no Brasil. “Ninguém sabia o que significava a expressão e era complicado apresentar um produto feminino para um monte de empreendedores homens. Lembro que uma vez quase desisti depois que um investidor resumiu o plano de fertilidade em ‘um argumento para convencer homens a se casar’. Saí da reunião querendo chorar”, recorda. Hoje, a fundadora da Oya considera que o cenário mudou, e que as femtechs passaram a ser valorizadas. Em dezembro de 2020, a Oya recebeu a sua primeira rodada de investimentos, no valor de 790 mil dólares.  

Atraindo capital de risco

De saúde reprodutiva até cuidado materno e doenças crônicas, nichos não faltam para as femtechs explorarem. Nos últimos dois anos, muitas delas atraíram a atenção de gestores de venture capital e private equity atentos ao descontentamento das mulheres na forma como são atendidas no sistema tradicional de saúde. De acordo com o fundo de capital de risco americano Rock Health, em 2021 o volume de recursos direcionados por esses investidores para as femtechs no mundo atingiu 592 milhões de dólares, valor que supera em cerca de 40% os aportes recebidos no ano anterior.

Os recursos provenientes de investidores ajudaram na concepção da primeira femtech a atingir o status de unicórnio nos Estados Unidos. A startup Maven, que funciona como uma clínica digital para gravidez e fertilidade, alcançou a marca depois de receber um cheque de 110 milhões de dólares. A rodada de investimentos contou com a participação de celebridades como a apresentadora Oprah Winfrey. “O mercado de saúde é uma indústria de quatro trilhões de dólares”, destacou Bill Evans, CEO da Rock Health, em entrevista para o New York Times. “A saúde feminina é uma pequena parte disso, mas há necessidades não atendidas entre as mulheres hoje e que são mais negligenciadas do que outras áreas”, complementa.


Nicho promissor

Muitas dessas necessidades estão relacionadas ao universo da gravidez — um nicho extremamente promissor para as femtechs. Em tempos de crise sanitária e isolamento social, soluções que auxiliem a mulher a planejar com mais autonomia a sua vida reprodutiva têm ganhado destaque. Segundo dados do Instituto Guttmacher obtidos em uma pesquisa com 2 mil mulheres em 2020, 1 em cada 3 decidiu adiar os planos de engravidar para a fase pós-pandemia.

Esse cenário explica o sucesso do pacote de avaliação de fertilidade da Oya Care. Mas para as mulheres que decidiram conceber um bebê apesar da Covid-19, uma femtech que tem se mostrado útil — e inovadora — é a Theia. Criada em 2019 por Paula Crespi e Flávia Deutsch, a startup brasileira conecta mulheres grávidas a uma rede de 38 especialistas, entre ginecologistas, psicólogos, nutricionistas e pediatras, para atendimento clínico em pré-natal, parto e pós-parto. A femtech já atraiu nomes de peso do mercado financeiro, como as gestoras Kaszek (dos cofundadores do Mercado Livre) e Maya Capital (de Lara Lemann, filha do bilionário Jorge Paulo Lemann).

Outra startup badalada — essa fora do universo da gestação — é a Pantys, que une necessidades femininas com sustentabilidade. A marca comercializa peças íntimas com tecido biodegradável e antimicrobiano capaz de bloquear odores e absorver o ciclo menstrual, dispensando o uso de absorventes. Segundo a empresa, o uso de Pantys, ao longo de um ano, representa uma economia de cerca de 400 absorventes descartáveis, o equivalente a quatro quilos de lixo que demorariam 400 anos para se decompor.

Apesar dos bons exemplos, o caminho para a disseminação das femtechs é longo. A pesquisa Female Founders Report 2021, elaborada pela plataforma Distrito e pela B2Mamy, mostra que, dos 3,5 bilhões de dólares em investimentos direcionados para startups brasileiras em 2020, apenas 0,04% abasteceram negócios criados por mulheres. “O acesso a capital sempre é uma questão no debate sobre o empreendedorismo feminino. Os investimentos trazem a musculatura tão necessária não só para a fase de validação, mas também para tração do negócio”, afirma Dani Junco, CEO e fundadora da B2Mamy, empresa que capacita mães a se tornarem empreendedoras.

A necessidade de fomentar esse mercado incentivou seis empresárias, entre elas as fundadoras da Oya Care e da Theia, a criar a Associação das Femtechs Brasil. O objetivo da entidade é alavancar o empreendedorismo e os investimentos em negócios de mulheres — uma iniciativa fundamental para que o ecossistema de inovação brasileiro se torne mais plural e inclusivo.

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