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Na marca do pênalti
Investidores começam a estimar os potenciais efeitos da Copa do Mundo de 2014 na bolsa de valores

, Na marca do pênalti, Capital Aberto

 

Não é difícil entender por que os brasileiros vibraram tanto com a confirmação do País como sede da Copa do Mundo de futebol de 2014, em outubro passado. Tirando a evidente paixão verde-amarela pelo esporte bretão, tamanha comemoração pode ser explicada pelos benefícios econômicos saboreados pela organizadora — a Fédération Internationale de Football Association (Fifa) — da principal competição do esporte mais popular do planeta. As cifras envolvidas são astronômicas. Tome-se como exemplo a última edição do evento, realizada na Alemanha, em 2006. Os investimentos em infraestrutura ultrapassaram US$ 9 bilhões.

A despeito dos vultosos gastos, o retorno costuma ser igualmente generoso. As despesas com construção e reforma de estádios na Alemanha ficaram em torno de US$ 1 bilhão, mas o retorno com bilheteria foi bem maior: US$ 3,7 bilhões. Segundo dados do Departamento Federal de Estatísticas alemão, os lucros gerados pela Copa foram responsáveis pela adição de 0,3% ao PIB germânico. Para a próxima Copa, que será sediada na África do Sul, em 2010, estima-se que pelo menos 170 mil novos empregos sejam criados. Cerca de 2,7 milhões de torcedores deverão presenciar as 64 partidas da competição — gerando um faturamento de US$ 2,1 bilhões —, enquanto uma audiência total acumulada de 28 bilhões de pessoas fará do país africano o centro das atenções mundiais por um mês.

No Brasil, levantamentos preliminares apontam para investimentos da ordem de US$ 10 bilhões. Mas como a realização de um megaevento esportivo pode se refletir nas ações listadas em bolsa de valores? Podemos já fazer uma previsão para o mercado brasileiro?

Para os analistas consultados pela CAPITAL ABERTO, ainda não há dados conclusivos sobre isso. Mas há efeitos indiretos que virão da consolidação de uma imagem positiva do País para todo o mundo, avalia Roberto Knoepfelmacher, analista-chefe da GAS Investimentos. Isso se traduziria em uma redução do risco-país, que por sua vez atrairia mais investidores estrangeiros. “A Copa poderá ser um catalisador em termos de vontade política. O Brasil vai querer mostrar ao mundo uma casa em ordem, no que tange a questões de qualidade de vida, como saneamento básico e educação. Nossos índices de desenvolvimento humano sempre incomodaram o investidor internacional.”

O Credit Suisse publicou, em agosto de 2007, um estudo intitulado Beijing Olympics 2008 — more than a game, em que buscou avaliar o impacto das Olimpíadas de Pequim na economia do gigante asiático. Embora não chegue a uma conclusão definitiva, a pesquisa percebeu comportamentos interessantes, principalmente no que diz respeito às bolsas de valores dos países que receberam os Jogos Olímpicos.

Analisando dados desde as Olimpíadas de Tóquio (1964) até Atenas (2004), com exceção de México (1968) e Moscou (1980), o banco descobriu que o comportamento das bolsas dos países-sedes, um ano antes da realização do evento, foi bastante diverso. Houve quatro ocasiões (Tóquio, Montreal, Los Angeles e Barcelona) em que os índices de bolsa tiveram declínio (5,6%, 1,5%, 7,3% e 15,5% negativos, respectivamente); em outros quatro casos (Munique, Atlanta, Sydney e Atenas), houve uma ligeira valorização (7%, 13,9%, 6,4% e 7,4%), e só um índice (da bolsa de Seul) teve rendimento substancialmente positivo (48,5%). Porém, quando se analisam os índices quatro anos após a competição, pode-se delinear um padrão mais definido: em seis oportunidades (Tóquio, Montreal, Los Angeles, Barcelona, Atlanta e Atenas) houve uma valorização representativa. Respectivamente, essas bolsas obtiveram uma alta média anual de 22,4%, 108,1%, 80,6%, 73,8%, 123,6% e 112% no período.

Knoepfelmacher tem uma interpretação para esse comportamento díspar. “Até a realização do evento, somente os setores diretamente envolvidos se valorizam, num panorama insuficiente para influir na bolsa como um todo. Quatro anos depois, a tendência é que os benefícios tenham se estendido a todos os segmentos e que o fenômeno se reflita na bolsa”, explica. Espera-se que a Copa traga efeitos semelhantes à Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). “O evento deverá alavancar empresas diretamente envolvidas no processo, em especial as de construção civil e turismo e, em menor escala, as de comunicação e transportes”, opina Tiago Franceschini, analista da consultoria Lafis. “Empresas relacionadas com infra-estrutura deverão ser as mais beneficiadas, pois são candidatas a tocar algumas obras necessárias, como linhas de metrô e aeroportos. As companhias aéreas também deverão ter um ganho com a melhora das condições dos aeroportos e em função do aumento de turistas”, diz Knoepfelmacher.

Estudo do Credit Suisse sobre o comportamento dos mercados nos quatro anos seguintes à realização de uma Olimpíada aponta alta representativa das ações

AQUECENDO OS MOTORES — E como setores diretamente envolvidos estão encarando o fato, faltando seis anos para o início da Copa? Para alguns, como o de companhias aéreas, ainda é cedo para fazer qualquer tipo de prognóstico. Outros segmentos, no entanto, podem — ou pelo menos deveriam — começar a aquecer as turbinas para o torneio. “Muitas obras de infra-estrutura não ficam prontas do dia para a noite. Apesar de ainda termos seis anos, obras de metrô e aeroporto, por exemplo, são complexas. Não dá para bobear. São iniciativas que deveriam começar nos próximos dois ou três anos”, explica Knoepfelmacher, da GAS Investimentos.

Ciente de que o tempo médio de maturação de grandes obras é longo, a Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base (Abdib) move suas peças no tabuleiro há quase dois anos. Em julho de 2006, quando o Brasil era apenas um dos candidatos à sede do torneio, a entidade assinou uma carta de intenções junto à Confederação da Indústria Alemã (BDI) para trabalharem juntas na atração de investimentos privados para o evento.

A missão não será das mais fáceis. Segundo levantamento da associação, o Brasil precisa investir R$ 870,7 bilhões em infra-estrutura ao longo de dez anos para que o crescimento econômico não seja prejudicado por deficiências estruturais. Nos últimos anos, porém, a União não tem feito sua lição de casa — em 2005, o volume total de aportes foi de R$ 59,8 bilhões; em 2006, de R$ 64,8 bilhões. “Esperamos que, com a necessidade de organizarmos uma boa Copa, o número esperado se concretize”, diz Ralph Lima Terra, vice-presidente executivo da Abdib. Para ele, os setores que terão os acréscimos mais significativos com a Copa serão os de transportes, telecomunicações e saneamento. “Assim que forem definidas as cidades-sede — a previsão da Fifa é para o fim deste ano —, deveremos pôr a mão na massa”, conta Terra. “Muitas cidades necessitam de volumes enormes de investimento, em especial na coleta e no tratamento do esgoto, em aeroportos e sistemas de trem e metrô, sem esquecer o suprimento de energia elétrica.”

“O evento deverá alavancar especialmente empresas de construção civil, turismo e, em menor escala, as de comunicação e transportes”

De acordo com Terra, outro grande desafio será convencer a iniciativa privada de que os empreendimentos serão sustentáveis depois que a bola parar de rolar. Para isso, observar a experiência alemã será fundamental, em especial na hora de construir novos estádios. Para o vice-presidente executivo da Abdib, o Brasil tem muito a aprender com o conceito de arenas esportivas multiuso — estádios que aproveitam seu espaço físico para explorar outros negócios — bastante disseminado na Europa. O Allianz Arena, estádio que abrigou a abertura da última Copa, foi inaugurado em maio de 2005, depois de ter custado o equivalente a mais de R$ 800 milhões. O financiamento saiu dos cofres dos dois times de Munique, que agora buscam o retorno através do patrocínio da empresa de seguros que dá nome ao estádio e de toda a estrutura que transcende as quatro linhas do campo — restaurantes, lanchonetes, creches, áreas temáticas, shopping, salas de conferência e escritórios.

Quem também não quer perder a chance de marcar um gol é a Blue Tree Hotels, gigante do setor hoteleiro que administra 6 mil apartamentos em 19 cidades do Brasil e da Argentina. “Nossa meta é consolidar a posição da Blue Tree em mercados nos quais já estamos presentes e abrir novas unidades nas principais capitais brasileiras. Com a Copa, essa expansão poderá ser acelerada”, prevê Chieko Aoki, presidente do conselho de administração da empresa. Mas nada de ir com muita sede ao pote. O equilíbrio, para ela, será fundamental. Em seu setor, isso significa criar vagas suficientes nos hotéis e, ao mesmo tempo, não correr o risco de haver sobreoferta depois que a competição acabar e os turistas forem embora. “É preciso cautela, planejamento e senso de oportunidade para analisar as melhores possibilidades de crescimento, sem correr riscos desnecessários”, diz Chieko. Para os investidores da bolsa, vale a mesma cautela.

Copa afeta humor de investidores

Os dribles do francês Zidane, que ajudaram os “Les Bleus” a eliminar a seleção brasileira da última Copa, podem ter repercutido além das rodas de discussão nos bares, influenciando inclusive o comportamento da bolsa brasileira. É o que concluiu a pesquisa Sports Sentiment and Stock Returns, desenvolvida por estudiosos de Norwegian School of Management, Tuck School of Business e Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que analisou o desempenho das bolsas de alguns países no dia posterior à eliminação em uma Copa.

O estudo, conduzido por Alex Edmans, Diego García e Oyvind Norli e publicado em 2006 pelo Journal of Finance, leva em consideração que o investidor, como qualquer ser humano, é passional e pode ter seu humor afetado por uma eliminação numa Copa do Mundo. Analisando dados de bolsas de 39 países, da Copa de 1974 até a de 2002, os pesquisadores verificaram que, em média, as bolsas observam uma variação negativa de 0,5 ponto percentual no “day after” da eliminação em uma Copa. Vitórias e classificações, por outro lado, não encontraram equivalências no desempenho das bolsas.

A propósito: um dia depois de darmos adeus à Copa da Alemanha, o Ibovespa variou positivamente. Mas será que o resultado não poderia ter sido melhor se o Brasil tivesse batido os franceses? Segundo o estudo, o efeito da frustração é mais acentuado em bolsas menores, com maior presença de investidores locais — na Bovespa, os estrangeiros responderam por R$ 28,8 bilhões em compras e R$ 33,5 bilhões em vendas no último mês. (S.M.)

Conteúdo extra

Acesse o estudo Sports Sentiment and Stock Returns.


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