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Lucro sem caixa
Fabricante de móveis capta recursos na bolsa para pagar dividendos aos acionistas originais

Em vez de ser direcionada a investimentos, a maior parte dos R$ 127,9 milhões captados pela moveleira Unicasa em sua estreia na BM&FBovespa em 27 de abril foi para o bolso dos seis acionistas que a companhia possuía antes de abrir o capital. Um dos itens da seção Fatores de Risco do prospecto preliminar alertava que 83,4% dos recursos obtidos na parcela primária da oferta inicial de ações (IPO) seriam usados para distribuir dividendos aos sócios originais. A iniciativa, nada usual, não foi claramente explicada pela empresa. Mas os balanços patrimoniais dos últimos anos dão algumas pistas dos motivos dessa decisão.

Os acionistas parecem estar preocupados em garantir para si os dividendos decorrentes da volumosa reserva de lucros acumulada pela companhia até a abertura de capital. Em 2010, essa reserva alcançou quase R$ 130 milhões e, em 2011, R$ 166 milhões. O caixa da companhia, entretanto, não refletiu esse acúmulo de riqueza, inviabilizando o pagamento de dividendos enquanto a companhia estava fechada. No fim de 2010, havia R$ 20,6 milhões no caixa; no ano passado, R$ 12,1 milhões. A discrepância entre as reservas de lucros e o caixa pode ser explicada por um aspecto técnico da contabilidade.

No fim de 2011, havia, respectivamente, R$ 76 milhões e R$ 78 milhões registrados nas rubricas de ativo imobilizado e contas a receber de clientes. Ambas as rubricas refletem–se positivamente na conta de reservas de lucros e negativamente no caixa: os investimentos em ativo imobilizado saem do caixa, mas, devido ao seu potencial de rendimentos no futuro, não são contabilizados como despesa imediatamente, o que acaba inflando os lucros; e o contas a receber, por referir–se às vendas a serem pagas adiante, não entra no caixa, mas é computado como receita líquida, também favorecendo o lucro, explica o professor de contabilidade da Universidade de São Paulo, Eliseu Martins.

Captar com investidores foi, portanto, a saída encontrada pelos sócios da Unicasa para receberem dividendos sobre lucros que ainda não foram parar no caixa. Afinal, essa riqueza foi gerada enquanto eles eram os únicos sócios. A lógica era garantir esses dividendos agora, usando os recursos da oferta primária, para não ter de dividi–los futuramente, quando o caixa vier, com os novos investidores. Segundo uma fonte que coordena ofertas públicas e pediu para não ser identificada, é comum os acionistas originais retirarem parte do caixa da companhia antes de um IPO. No caso da Unicasa, os recursos ainda não haviam ingressado no caixa, o que levou à solução adotada, um tanto heterodoxa.

Aos minoritários que aceitaram essas condições e aportaram os recursos na oferta resta torcer para que os ativos imobilizados e os recebíveis virem, de fato, caixa. Eventuais imprevistos nessas duas contas serão contabilizados como prejuízos, afetando o patrimônio dos novos acionistas. Nesse caso, eles terão antecipado aos sócios originais um dividendo que nunca existiu.

Talvez esse risco tenha se refletido no resultado do IPO. O preço pago por ação ficou em R$ 14, abaixo do piso da faixa sugerida, que ia de R$ 16,5 a R$ 20,5. No total, a oferta movimentou R$ 425,6 milhões. A maior parte do IPO (75%) foi secundária, arrematando R$ 297,7 milhões para os acionistas vendedores. O maior deles é Alexandre Grendene Bartelle, membro da família controladora das indústrias de calçados Grendene e Vulcabrás.


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