Para o topo, sempre
José Luis Freire

, Para o topo, sempre, Capital AbertoA subida foi considerável. Depois de 190 quilômetros pedalados em dois dias, o advogado José Luis Freire estava 3.200 metros acima do ponto de partida em Santa Rita do Passa Quatro, São Paulo. Vencidas montanhas, serras, estradas de terra e de asfalto, seu grupo de ciclistas passou ao lado do Pico do Gavião, já no estado de Minas Gerais, de onde asas-deltas saltavam colorindo ainda mais a paisagem azul e verde. Estavam no Caminho da Fé — percurso entre São Carlos e Aparecida do Norte que atrai crentes, esportistas e aventureiros. Foi difícil chegar tão alto? O sócio-fundador do Tozzini Freire, um dos maiores escritórios de advocacia da América Latina, admite que sim.

No trajeto de bicicleta, foram necessários planejamento e dedicação (nos treinos), além de persistência (nas partes mais íngremes). No caso da sociedade de advogados, o ponto de partida deu-se em 1976, quando Freire voltava de um mestrado nos Estados Unidos e foi convidado pelo antigo colega de ginásio Syllas Tozzini para montar um pequeno escritório na avenida Brigadeiro Luis Antônio. “Éramos três ou quatro advogados numa casinha que parecia mais própria ao direito de família do que ao empresarial”, conta Freire, hoje instalado numa espaçosa sede envidraçada, rodeada por jardins e sem divisórias separando os profissionais. As sete unidades do escritório distribuídas entre Brasil e Nova York abrigam, ao todo, 67 sócios, além de outros 300 advogados.

Freire conta o início de sua trajetória ascendente de forma mansa, como quem já percorreu muita estrada, mas guarda fôlego para a reta final. Começa lembrando a importância de seu primeiro voo — um voo literal, o primeiro para fora do País, e, de cara, uma volta ao mundo. Ele estava no segundo ano da Faculdade de Direito da USP quando seu pai, então ministro do Tribunal de Contas da União, foi convidado para um congresso no Japão e viu na viagem uma oportunidade de mostrar ao filho um pouco do mundo. Eles passaram por várias cidades norte-americanas, antes de embarcar para Tóquio; no Japão, desbravaram o interior; no caminho de volta, visitaram Hong Kong, Bangcoc, Nova Délhi, Teerã, Beirute e Roma. Como o ano era 1968, Freire teve a oportunidade de conhecer cidades então turísticas que depois seriam assoladas por guerras. “Além de constatar a importância do inglês, comecei a ter ali uma afeição pelo Oriente”, diz o advogado, que naquela época deixou de conversar com o primeiro-ministro japonês por causa do idioma, mas hoje recebe levas de clientes do país no escritório. “Já fui ao Japão umas dez vezes.”

No retorno de sua primeira volta ao mundo (no ano passado, ele passou quatro meses fora do Brasil), o jovem José Luis deu as primeiras indicações de que não seguiria a tradição familiar de unir a prática do direito com a política entoada por seu bisavô, o presidente Campos Salles. Estava atraído pela novidade das grandes sociedades de advogados. Seu primeiro emprego, ainda na faculdade, foi na parte administrativa do banco de investimento primogênito do País, o Investbanco. Quando se formou, resolveu complementar os estudos com uma pós-graduação em administração de empresas na Fundação Getulio Vargas. “Faltava ao currículo de direito uma parte de contabilidade e finanças importante para a área tributária”, justifica.

E foi assim, com a visão de um topo globalizado e empresarial, que ele e seu sócio galgaram posições num mercado no qual as primeiras sociedades parrudas de advogados, como o escritório Pinheiro Neto, já estavam estabelecidas. “Fomos buscar os clientes lá fora”, lembra Freire, referindo-se ao diferencial que se tornaria o seu “pulo do gato”. O processo de privatização e depois a consolidação do setor financeiro representaram outras oportunidades de ascensão. E foi numa dessas subidas íngremes e aceleradas, numa fase em que “comprou e vendeu muito banco”, com trabalho duro e noites em claro, que seu coração, então destreinado, falhou. O infarto, sentado à mesa do escritório, aos 41 anos, acabaria por lhe impor um novo desafio: não as subidas metafóricas, mas as de verdade. De bicicleta. Como a da Serra da Mantiqueira enfrentada naquele fim de semana do Caminho da Fé, na paisagem pontilhada de asas-deltas.

“Sempre gostei de esportes”, afirma. “Eu jogava muito futebol na escola e até hoje tenho a minha camisa 10 da seleção da faculdade de direito.” Mais velho, conciliava o trabalho com partidas de tênis. “Mas era tudo anaeróbico”, ressalta. As duas pontes de safena e as recomendações médicas passaram a lhe exigir uma atividade física que fortalecesse o músculo cardíaco. Nos primeiros anos, José Luis se impunha oito quilômetros de corrida e outros 22 de bicicleta no Parque do Ibirapuera. Depois que construiu uma casa em Itu e deixou de trabalhar com frequência nos fins de semana, apaixonou-se de vez pelo ciclismo, especialmente o mountain biking praticado em grupos pelo interior do estado. “Além da vista, há o desafio de vencer uma dificuldade”, explica. “À noite, tomo uma chuveirada quente para ver se a dor passa, porque sei que no dia seguinte tem mais.” Aos 63 anos, Freire acredita que ainda tem mais, muito mais, pela frente. “Outro dia pedalei com um sujeito de 73 anos e fiquei impressionado. Aquilo me deu ânimo.” Pelas regras do escritório, a aposentadoria estaria prevista para os 65 anos, embora seja possível continuar na ativa por mais cinco numa posição intermediária entre sócio e consultor. “Só sei que não vou botar o pijama”, diz ele. Quem convive com o cofundador do TozziniFreire, de fato, tem mais facilidade para imaginá-lo paramentado com bermuda, capacete, luvas. E subindo, claro.

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