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Menos remendo, mais estratégia
As ameças que rondam empresas e caminhos para prevenção
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Ilustração: Rodrigo Auada

Gambiarra. A palavra, brasileiríssima, define aquele arranjo que se faz para resolver ou evitar um problema. Mas ela está longe de ser um patrimônio exclusivamente nacional. Não são raras as empresas ao redor do mundo que respondem aos riscos inerentes a seus negócios com um “jeitinho”. Às vezes funciona, às vezes dá errado. Mas é certo que os custos para se manter uma companhia cheia de remendos tende a aumentar a cada novo imprevisto, como numa bola de neve.

A solução? Na avaliação de Dennis Chesley, diretor global de risco e regulação da PwC, as organizações precisam parar de enxergar o risco como algo que deve ser controlado apenas quando aparece — ocasião em que enfim chega ao nível da estratégia. Ao contrário: todas as operações digitais, os projetos de novas plantas, a expansão para outros mercados, só para citar alguns exemplos, já devem ser concebidos com os riscos devidamente considerados.

Em entrevista à CAPITAL ABERTO, Chesley enumera as principais ameaças que rondam as empresas e apresenta caminhos para a prevenção.

Simplicidade

“Num mundo em que cada vez mais informações são digitalizadas, companhias de todos os setores podem ser vítimas de ataques cibernéticos. Divido esses ataques em cinco categorias, de acordo com seus objetivos: há os que querem fazer o sistema parar de funcionar; os que pretendem extrair informações de empregados e clientes; os que buscam roubar propriedade intelectual; os que têm objetivo político e os casos de ciberterrorismo, que usam a rede para espalhar pânico. Hoje boa parte das empresas adota ferramentas diferentes em sua infraestrutura digital para prevenir as invasões. Isso tem um custo alto, e não é incomum que as soluções acabem criando problemas — que exigem novas soluções e aumentam exponencialmente os gastos com prevenção de ataques. Uma boa maneira de se evitar esse tipo de ação é a adoção de sistemas mais simples. Um exemplo: uma empresa pode precisar verificar os dados dos clientes a cada etapa de uma compra online e ter que prevenir o roubo desses dados em todas as fases; em vez disso, poderia adotar um sistema que confirmasse os dados apenas uma vez, ou que sequer precisasse deles, o que seria possível, por exemplo, com a autorização do cartão de crédito para a liberação da compra.”

 

Geopolítica

“Durante um bom tempo, muitas empresas consideraram a geopolítica um risco relativamente pequeno, já que o cenário era previsível e estável. Mas temos visto o crescimento de movimentos nacionalistas em vários países relevantes. Isso acabou recolocando a política em evidência, principalmente para multinacionais que querem se expandir. Empresas com planos de fazer negócios em outros países precisam considerar cinco questões principais: acordos comerciais, trânsito de pessoas e produtos, volatilidade cambial, legislação tributária e cadeia de fornecimento de matérias primas e commodities. Mais uma vez, é necessário ir além dos controles e dos paliativos e incluir esses pontos no planejamento. Se uma empresa quer fazer aquisições em um país em que há risco de instabilidade tributária, talvez faça mais sentido pensar em outras formas de entrar naquele mercado, como parcerias com companhias locais. Antes da eleição de Donald Trump, trabalhamos com uma empresa mexicana que fez uma reserva de capital para lidar com as consequências de sua possível vitória, que poderia prejudicar empresas locais.”

Catástrofes naturais

“A quantidade e a intensidade de desastres naturais como inundações e furacões vêm aumentando muito nos últimos anos. Empresas dos setores de energia elétrica, mineração e óleo e gás, só para citar algumas, precisam estar sempre atentas a esse tipo de risco, já que suas instalações e a distribuição de seus serviços podem ser diretamente afetadas. Mas companhias de outros setores, como o de serviços, também precisam considerar quais tipos de fenômenos são mais comuns nas áreas em que estão instaladas e planejar, por exemplo, se no caso de um desastre natural, é possível manter uma equipe trabalhando remotamente ou adotar um sistema de inteligência artificial que mantenha certas atividades em funcionamento enquanto os funcionários não puderem trabalhar.”

Inovação tecnológica

“Quanto mais o negócio se baseia em informação e depende de escala para gerar bons resultados, maior o risco de ser impactado de maneira revolucionária pela tecnologia. Se as empresas não estiverem atentas a isso podem ficar obsoletas. Várias organizações ainda insistem numa postura defensiva, e veem apenas o lado negativo das inovações em suas áreas. Já outras tantas têm seguido o caminho oposto e encontrado maneiras para inovar ou estabelecer parcerias com quem está inovando, lançando programas de corporate venture, entre outras ações. Esse tipo de abordagem tem mais chances de sucesso, embora não esteja livre de riscos. Se uma empresa decide revolucionar seu modelo de negócios ou seu produto, precisa pensar em estratégias para se comunicar com stakeholders. Isso é especialmente válido para companhias abertas, que podem perder valor se o mercado não estiver bem informado sobre suas decisões.”

O risco de fugir do risco

“Organizações que pensam demais em mitigar e evitar riscos podem se tornar engessadas e acabar soterradas por aquelas que se arriscaram. Ao implantar suas estratégias de gestão de risco, as empresas precisam pensar em formas de estimular os funcionários para que persigam uma ideia sem medo de falhar.”

Inteligência artificial

“Quando se fala em ‘talentos’ ou recursos humanos como risco, as pessoas pensam imediatamente em maneiras de reter bons profissionais e evitar que eles migrem para a concorrência. Mas existe uma outra questão bem premente: estamos passando por uma era de revoluções tecnológicas, de aumento do uso de inteligência artificial. Como preparar os profissionais para um futuro que pode ser completamente diferente? As empresas precisam pensar em como treinar e dar ferramentas para seus profissionais se adaptarem a uma nova realidade, que está chegando rápido.”

Regulação

“Dois setores tradicionalmente muito regulados são os de serviços financeiros e de saúde, mas vários outros enfrentam um endurecimento das regras. Basta estourar uma crise ou um escândalo numa determinada área para novas regulações aparecerem. As empresas não podem ficar impassíveis: devem participar das discussões políticas e considerá-las no desenho de sua estratégia de negócios. E não falo apenas em mandar lobistas ao Congresso: falo em entendimento da lógica por trás das mudanças de regulação, para que seja possível adaptar produtos e serviços com rapidez, mitigando potenciais efeitos negativos.”


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