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Impacto iminente
Como a regulação MiFID II vai impactar o sell side e as áreas de relações com investidores
Luís Fernando M. Oliveira*

Luís Fernando M. Oliveira*

A imagem é comum e já serviu para mais de um filme ruim em Hollywood: um meteoro se aproxima da Terra e a colisão, inevitável, deve ocorrer em meses. No cinema esse é o tiro de largada dos preparativos para se evitar o pior. Na vida real não é bem assim, sabemos. E há meteoros que de fato se aproximam sem muito alarde. Um exemplo claro é a iminência da entrada em vigor da regulação MiFID II.

Criada pela União Europeia como um segundo estágio de regras para aumento de eficiência, resiliência e integridade nos mercados financeiros e de capitais, essa regulamentação estabelece, em resumo, que os brokers full-service deverão prover e precificar separadamente os serviços prestados, explicitando as partes referentes à corretagem pela execução das ordens e as relacionadas aos serviços de pesquisa.

O regulador europeu busca resolver o conflito de interesses nas situações em que o serviço de research (um custo para o broker) é usado para atrair serviços de execução. Nesse modelo, o gestor de recursos paga por research com fundos comuns a todos os seus clientes, independentemente de esse serviço ser necessário para cada um dos investidores em particular. Ou seja: alguns podem estar pagando por serviços de que não precisam, em benefício de outros que pagam menos do que deveriam.

A partir de 3 de janeiro de 2018, os gestores de recursos terão de dar total transparência aos custos de research que hoje estão sendo transferidos aos investidores como taxa de administração. Ou, então, assumir essas despesas em sua própria estrutura. A mudança vai ter impactos profundos em toda a indústria de gestão de recursos.

O primeiro efeito deve aparecer na quantidade de serviços de pesquisa prestados pelos brokers, uma vez que o buy side não vai querer pagar por serviços duplicados. Por exemplo: de quantos comentários de analistas sobre os resultados trimestrais de uma empresa o buy side realmente precisa? A resposta pode variar, mas provavelmente não são os 10 a 15 relatórios publicados a cada resultado de uma empresa medianamente bem coberta. A expectativa é de forte diminuição (as estimativas variam entre 20% a 60% de queda) na quantidade de research publicado. E embora os danos não sejam uniformemente distribuídos, é natural esperar uma queda similar na quantidade de analistas no sell side.

A partir de 2018, as assets terão de dar total transparência aos custos de research

A necessidade de pesquisa de investimento continuará a existir, naturalmente. Mas ela será suprida por uma combinação de research de sell side mais profundo e detalhado, feito por alguns brokers ou casas de research independente, e com o próprio buy side assumindo uma parte ainda maior da função.

Outra área com impactos claros é o chamado corporate access, a intermediação de contatos entre investidores e companhias listadas feita pelo sell side — que inclui a promoção de conferências e a organização de viagens temáticas ou road shows. Esses serviços são claramente análogos ao research e, da mesma forma, devem ter custo claramente atribuído.

Os RIs terão menos ajuda do sell side na divulgação das histórias de investimento

Apesar de a regulação MiFID II ser europeia, parece claro que ela terá efeitos sobre todo o mercado global, pela própria relevância que têm os buy sides europeus. E é igualmente pouco provável que um sell side global operando nos mercados europeus adote um modelo para servir esse mercado e outro, totalmente distinto, para o resto do mundo.

As implicações do “impacto do meteoro” para o sell side são profundas. No entanto — ou talvez por isso —, pouco se ouve falar dos seus preparativos. Mas a situação é pior para as empresas. Contatos com os departamentos de relações com investidores das companhias brasileiras listadas mostram que há pouca preocupação com os efeitos, entre eles:

— Menos ajuda do sell side na divulgação das histórias de investimento. Com menos analistas de sell side e pressão para que seus relatórios sejam pagos pelos clientes, deve ser menor a boa vontade para inclusão de empresas novas ou com pouca liquidez. As empresas terão que expandir seus canais de comunicação (site de RI, road shows, investor days, mídias sociais e tradicionais).

— Menor uniformidade do conhecimento no buy side significará maior esforço de RI. As companhias terão que dispender mais tempo para educar os investidores.

— O custo de divulgação vai se tornar explícito e terá que ser pago pelas companhias na maioria dos casos. Por exemplo, os relevantes custos de logística de um road show na Europa, normalmente assumidos pelo sell side. O mesmo vale para reuniões em grupo, almoços e cafés da manhã com analistas, visitas a instalações e conferências com investidores. As companhias que quiserem ter presença relevante terão que aumentar seu orçamento de RI.

É importante que as companhias tenham uma visão clara de seus objetivos estratégicos em RI e aloquem recursos adequados para que sejam atingidos. Vale reforçar que a regulação MiFID II não cria custos, apenas os torna explícitos para todas as partes envolvidas, que devem encontrar uma nova forma de distribuí-los. Se um dos resultados das novas regras for a maior eficiência do esforço em RI, com menos desperdícios de tempo e recursos em atividades que geram pouco ou nenhum impacto, o saldo será positivo.


* Luís Fernando M. Oliveira ([email protected]) é consultor de relações com investidores na MBS Value Partners


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